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Raízes da escravidão permanecem quase um século e meio depois

Descendentes de escravos em Ananindeua consideram que pouca coisa mudou, mesmo com a abolição da escravatura

Luiz Cláudio Fernandes
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Nesta sexta-feira (13) comemora-se 134 anos da abolição da escravatura, o acontecimento histórico mais importante do Brasil após a Proclamação da Independência, em 1822. Após seis dias de votações e debates no Congresso, a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, que decretava a libertação dos escravos no país. Quase um século e meio depois as marcas permanecem expressas por um forte racismo estrutural

Descendente de pessoas escravizadas, a funcionária pública graduanda em Ciências Sociais Vanuza Cardoso mora no Quilombo do Abacatal, em Ananindeua, e diz que as marcas desse período triste da história permanecem latentes. “Os desafios são os mesmos 134 anos depois. Além disso, na minha visão, todo o processo da Lei 3.353 foi uma encenação, pois para nós, o importante não foi 13 de maio e sim o 14 de maio, quando negros e negras se encontraram desamparados, sem dinheiro e sem nenhum direito assegurado por todos os anos de exploração”, diz Vanuza. 

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Lei Áurea veio sem políticas de reparo histórico

“O país tem uma dívida enorme com os meus ancestrais. Ainda hoje temos homens e mulheres negras sem casa, sem documento, sem emprego, sem políticas de acesso à educação digna. Para a gente acessar qualquer política, é muito desafio, mas, mesmo assim, somos obrigados a pagar imposto, a votar. Como falar de liberdade se somos obrigados? Na minha opinião, ninguém é livre no Estado brasileiro”, avalia Vanuza. 

image Vanuza diz que ainda são fortes as marcas do racismo estrutural no Brasil (Arquivo pessoal)

Vanuza recorda que o Brasil foi o último país na América Latina a abolir oficialmente a escravidão. Da mesma forma, é mais difícil romper com o apagamento ao qual a população foi submetida. “Avançamos?! Sim, em alguns aspectos, mas ainda falta muito. O acesso a políticas públicas ainda é uma grande barreira para meus iguais”, avalia. “Nós moramos, por exemplo, há 10 km do centro de Ananindeua, mas vivemos sem saneamento, sem uma estrada digna, com uma estrada de chão esburacada, e quando adoece alguém na comunidade é sempre um drama”, pontua. 

Data 13 de maio é simbólica 

O 13 de maio é simbólico para o Quilombo do Abacatal pois é a data da titulação da comunidade. “Nesta sexta-feira completam 23 anos de titulação coletiva. A comunidade não tinha uma titulação. O terreno nos foi dado como herança, mas se tinha documentação. Em 1999 recebemos a titulação coletiva. Para comemorar, vamos fazer uma programação interna aqui no quilombo, ocasião na qual lembraremos o processo de luta. e em que aspectos precisamos reafirmar as lutas e avançar”, diz. 

Resistência com a educação

A comunidade entende a educação das crianças e jovens como uma forma de resistência. “Nós temos um trabalho aqui na comunidade muito interessante nesse sentido junto com os nossos pedagogos. Várias pessoas já se formaram e se dedicam a garantir aos nossos uma educação de resistência”, informa Vanuza. 

A comunidade comemora ainda o retorno de projetos educacionais à comunidade do Abacatal. “A gente tem conseguido um diálogo com o atual gestor de Ananindeua para que os professores da comunidade consigam desenvolver uma educação quilombola. O Ensino Fundamental maior voltou para as crianças da comunidade que cursam a partir do 5º Ano. Elas tinham que sair da comunidade para estudar. Com o atual prefeito, conseguimos levar para a comunidade o Fundamental Maior”, comemora. 

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Começaram os frutos das políticas afirmativas 

Vanuza também festeja os recentes frutos das políticas afirmativas implantadas em 2008 pelo governo Lula, com o objetivo promover a inclusão socioeconômica de populações historicamente privadas do acesso a oportunidades. 

“Dez anos após o início das políticas de reparação estamos tendo o retorno aqui na comunidade. Temos graduados e mestres egressos das políticas afirmativas do governo anterior que conseguiram ter acesso às universidades, se formaram e agora se voltam a educar os mais jovens da comunidade. É muito gratificante ver isso”, avalia Vanuza. 

“É muito bom ver os nossos galgando espaço no Ensino Superior. A gente precisa se ver nesse processo. Quando os teus estão trabalhando com os nossos, a gente tá vencendo e eu fico feliz”, finaliza.  


 

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