Quem era Mestre Damasceno: conheça a história do compositor marajoara
O carimbozeiro, que morreu aos 71 anos, tinha deficiência visual e foi responsável pela criação do Búfalo-Bumbá e composições históricas

A cultura paraense e brasileira amanheceu de luto com o falecimento do Mestre Damasceno na manhã desta terça-feira (26) em Belém, aos 71 anos. Ele enfrentava complicações por câncer metastático e pneumonia e faleceu no Hospital Ophyr Loyola. Seu legado transcende a música, é um símbolo de ancestralidade, invenção e luta pela cultura amazônica.
Damasceno, aos 19 anos, sofreu um acidente de trabalho e perdeu a visão, mas isso não o parou. Pelo contrário: o mestre dedicou mais de cinco décadas ao carimbó e às tradições marajoaras, criando o Búfalo‑Bumbá, liderando grupos musicais, inovando com cortejos e festivais, e conquistando reconhecimento até na cena nacional.
Relembre a seguir quem era o Mestre Damasceno e a sua contribuição cultural para o cenário artístico.
Quem foi Mestre Damasceno?
Damasceno Gregório dos Santos nasceu em 22 de julho de 1954, na comunidade quilombola do Salvá, em Salvaterra, na Ilha do Marajó. Morou até os 13 anos na comunidade. Mudou-se posteriormente para a sede do município, onde permaneceu até completar 18 anos e, em seguida, para Belém, em busca de melhores de condições de vida
Perdeu a visão aos 19 anos em um acidente de trabalho, mas encontrou na arte o seu caminho. Iniciou sua carreira cultural em 1973 como “colocador” (participante ativo) no Boi-Bumbá, em Soure. Por meio do sindicato de trabalhadores rurais de Salvaterra, conseguiu obter uma aposentadoria por invalidez. Desde então, ele se reinventou em várias atividades, seguindo a tradição cultural dos seus familiares.
Tornou-se cantor, compositor, repentista e mestre de carimbó, toadas, samba e brega, além de diretor artístico e guardião da tradição marajoara.
VEJA MAIS
Legado Cultural e Inovações
Mestre Damasceno foi o criador do Búfalo‑Bumbá: ele idealizou uma versão marajoara do folguedo junino, com o búfalo como personagem central, um teatro de rua com figurinos, enredo e diálogos assinados por ele próprio. Além disso, o artista inovou e deixou seu legado com:
- Conjunto de Carimbó Nativos Marajoara: Fundado em 2013, o grupo promove a tradição do carimbó pau e corda da região, com quatro álbuns lançados.
- Cortejo Carimbúfalo: Uma fusão do carimbó com o Búfalo‑Bumbá, levado às ruas de Salvaterra em cortejos culturais que envolvem a comunidade e visitantes.
- Festival de Boi‑Bumbá de Mestre Damasceno: Criado em 2023 para valorizar os grupos locais e a memória dos mestres de boi‑bumbá, reunindo diferentes gerações.
Reconhecimentos e Honrarias
Ao longo da vida, Mestre Damasceno foi reconhecido por sua grandiosidade e recebeu diversas homenagens, entre elas:
- Em 2017, foi reconhecido como Mestre do Carimbó pelo IPHAN
- Em 2023, sua obra foi declarada patrimônio cultural imaterial do Estado do Pará, por meio da Lei nº 10.141/2023
- Em 2024, foi empossado membro fundador da Academia Marajoara de Letras, ocupando uma cadeira dedicada à tradição e à poesia oral.
- Em maio de 2025, foi agraciado com o Comendador da Ordem do Mérito Cultural (OMC), a maior honraria pública concedida pelo Ministério da Cultura, em cerimônia no Rio de Janeiro com a presença do presidente Lula e da ministra Margareth Menezes.
- No Carnaval, teve influência marcante: em 2023, foi homenageado pela escola Paraíso do Tuiuti com um enredo sobre os búfalos do Marajó;
- Em 2025, foi um dos autores do samba-enredo da Grande Rio “Pororocas Parawaras As Águas dos meus Encantos nas Contas dos Curimbós", levado à Sapucaí. O samba-enredo caiu no encanto do público e levou nota máxima de todos os jurados e garantiu o segundo lugar à Grande Rio.
- Foi um dos artistas homenageados na 28ª Feira Pan-Amazônica do Livro. Não compareceu devido ao estado delicado de saúde.
Despedida
Seu legado musical inclui mais de 400 composições autorais, seis álbuns e um marcante legado artístico-cultural. O Governo do Pará decretou luto oficial de três dias. Segundo nota da Secult, o velório será realizado no hall do Museu do Estado do Pará, a partir das 16h.
Gabrielle Borges, estagiária de jornalismo, sob supervisão de Tainá Cavalcante, editora web de OLiberal.com.
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA