Livro 'Borboletas Enjauladas' aborda realidade das mulheres em cárcere

Autora mostra que encarceradas investem afundo no único tipo de liberdade que têm: a sexual

Luiz Cláudio Fernandes
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A escritora e produtora cultural Marcionila Mendes de Almeida lançou nesta terça-feira (30), na sede do Sindicato dos Urbanitários do Pará, o livro "Borboletas Enjauladas”, com incentivo da Lei Audir Blanc. A obra aborda o erotismo das mulheres em cárcere. A autora apresenta as relações e todos os fatores que desencadeiam a sexualidade por trás das grades, assim como as dificuldades e violência que surgem. O livro foi apresentado nesta quarta-feira (1º) em um evento na ALEPA de lançamento de uma publicação contendo o resultado da pesquisa realizada pelo "Grupo de Trabalho Mulheres Livres", coordenado por Anna Izabel Santos, vice-presidente da Associação das Defensoras e Defensores Públicos do Pará (ADPEP). 

O livro é fruto do mapeamento feito pela autora no Centro de Reeducação Feminino (CRF), em Ananindeua, onde ela colheu depoimentos de 750 mulheres encarceradas e acompanhou de perto o dia a dia delas. “Foi uma experiência diferente de tudo que eu já vi. Ali dentro, embora privadas de várias coisas, elas exercem uma profunda liberdade sexual, se descobrem enquanto mulheres”, relata.

Ela explica ainda que um termo usado pelas encarceradas deu origem ao título do livro. “Elas mesmas dizem que, quando uma mulher fica com outra, ela borboleteia, passa por uma metamorfose”, explica. “Vi muitas mulheres que até então se reconheciam como heterossexuais se transformarem após o encarceramento. Não digo que elas se descobriram e sim que elas se deram essa oportunidade, haja vista que, segundo Froid, todo ser humano é bisexual. Elas apenas conseguiram driblar um padrão heteronormativo imposto”, diz Marcionila. 

image Autora explica que no ambiente do cárcere também surgem muitas paixões (Cristino Martins)

“Eu fiquei com muita vontade de compartilhar com as pessoas tudo que vi ali. Ao longo desses anos de convivência com elas, percebi que a sexualidade é a única forma que elas encontram de prazer em meio a toda aquela situação de privação da liberdade”, explica. “É o que resta, e muitas se jogam de cabeça. Em algumas a transformação é tamanha, que elas se tornam ‘bobó’, um termo utilizado por elas para definir mulheres com trejeitos masculinos”, conta. “Não importa a classe nem a condição. Vi mulheres evangélicas fervorosas borboletearem em questão de meses, principalmente as mais jovens”, conta.  

Segundo a autora, nesse ambiente surgem muitas paixões. “Já vi mulher abdicar da liberdade por causa da namorada. Algumas quiseram voltar para a cadeia, pois lá elas eram as ‘rainhas da prisão’, ou seja, tinham mulheres e prazer à vontade”, relata. 

Na Feira do Livro

Segundo a autora, exemplares do livro Borboletas Enjauladas estão sendo vendidos na 24ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, que teve início nesta quarta-feira e vai até o próximo domingo (5), na Arena Guilherme Paraense-Mangueirinho, em Belém.

 

 

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