Sambista Quinho do Salgueiro era conhecido por sua alegria, personalidade e irreverência
O intérprete morreu aos 66 anos e estava internado no Hospital Evandro Freire, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Desde 2022, Quinho lutava contra um câncer de próstata.

Quinho do Salgueiro, de 66 anos, morreu na noite desta quarta-feira, 3. O cantor foi intérprete do samba-enredo “Peguei um Ita no Norte”, que tem o conhecido refrão “Explode coração, na maior felicidade”. Desde 2022, Quinho lutava contra um câncer de próstata e, de acordo com a família, a morte foi causada por insuficiência respiratória.
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Melquisedeque Marins Marques era o nome de Quinho. Nascido no Rio de Janeiro, o intérprete estava internado no Hospital Evandro Freire, na Ilha do Governador, Zona Norte da cidade.
Em publicações no X (Twitter), a Acadêmicos do Salgueiro lamenta a morte de Quinho e presta homenagens. “Quinho não apenas cantou para o Salgueiro; ele viveu e respirou cada nota, cada batida do coração acelerado da bateria. Ele personificou o espírito salgueirense, e sua ausência deixa um vazio indescritível. Hoje, não choramos apenas a perda de um grande artista; choramos a partida de um membro querido da nossa família”, compartilhou o perfil.
No carnaval carioca, Quinho marcou a história com enredos famosos, como “Festa Profana” (1989), na Escola de Samba União da Ilha do Governador, “Peguei um Ita no Norte” (1993), conhecida pelo refrão “Explode coração, na maior felicidade”, na Salgueiro, e “Tambor” (2009), também na Salgueiro. Com “Tambor”, a escola de samba levou seu nono e último título.
Bruno Costa, intérprete da escola de samba de Belém Bole-Bole, recebeu a notícia da morte de Quinho ainda na madrugada de quarta-feira para quinta-feira. O intérprete acredita que, apesar de ser natural e triste a partida do artista, o legado, a personalidade e a lição de ser quem é ficam. “Quinho não tinha o menor problema em ser quem era, o feirante que virou voz marcante no maior espetáculo da Terra. Viva sua memória!”, afirma.
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Para Bruno, Quinho foi marcante pela alegria e a interatividade com a plateia no carnaval de 1993, durante a apresentação de “Peguei um Ita no Norte”. Bruno acredita que a meta de todo compositor é criar ao que se aproxime desse samba-enredo.
O sambista da Salgueiro marcou a vida de Bruno. O intérprete da Bole-Bole compartilha de um pensamento semelhante ao de Quinho: “Ele acreditava em algo que eu acredito. Ao contrário do mestre Jamelão, que fazia questão de ser chamado de ‘intérprete’, Quinho deixava claro que era um ‘puxador’, que seu papel é puxar a comunidade pra fazer um grande desfile, trazer aquelas pessoas pra um momento especial, um ápice.”
Bruno observa que assim como Neguinho da Beija-Flor, Quinho também representa amor entre intérprete e escola de samba. “Quinho era a cara do Salgueiro! De chorar de emoção. Sempre exaltando a escola com bordões como ‘a escola da moda", ‘academia number one’, ‘nem melhor, nem pior, apenas diferente’”, relembra. O intérprete da Bole-Bole também diz que Quinho se divertia, indo além de técnica e precisão.
Divergências com a diretoria levaram ao afastamento de Quinho da Salgueiro. O intérprete chegou a tentar candidatura à presidência, mas foi negada. Em 2019, Quinho voltou à Salgueiro e passou a dividir o carro de som com Emerson Dias.
O produtor musical Silva Jr. conheceu Quinho pessoalmente. A última conversa entre eles ocorreu em 2018, na Salgueiro. Silva lembra que, na época, o intérprete estava bem e que foi triste vê-lo debilitado pela doença posteriormente. “Ele é uma referência do carnaval, uma referência de puxadeiro”, fala.
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Silva acredita que a palavra “referência” define quem Quinho foi. “Ele conseguia contagiar todo mundo com o canto dele, com a irreverência dele”, diz. Para o produtor musical, o intérprete era exemplo de alegria e espontaneidade.
“Ele está na prateleira dos imortais, que são aqueles que são supra-sumo do carnaval brasileiro”, ressalta Silva. O produtor destaca que o samba-enredo que carrega “Explode coração, na maior felicidade” no refrão foi um divisor de águas para o carnaval.
“Foi um dos primeiros samba-enredos que virou hit, que tomou o Brasil inteiro. Todo mundo canta, virou canto de torcida e é cantado até hoje. Quem não conhece esse refrão, a gente pode considerar que não é brasileiro”, conclui Silva.
A Salgueiro cancelou o ensaio desta quinta-feira, 4, e organizou um momento de homenagens na quadra da escola, das 15h às 20h. Quinho será sepultado nesta sexta-feira, 5, no Cemitério da Cacuia.
“Explode coração, na maior felicidade”
O samba-enredo de 1993 da Salgueiro, “Peguei um Ita no Norte”, homenageou migrantes nortistas e nordestinos que saem de seus locais de origem para viver em outras regiões brasileiras. Além de Quinho, que também foi o intérprete, a música conta com Demá Chagas, Arizão, Celso Trindade e Bala Guaracy no time de compositores.
No primeiro estrofe, o samba diz: “Sou mais um aventureiro rumo ao Rio de Janeiro. Adeus, Belém do Pará. Um dia eu volto, meu pai.” O desfile da escola de samba destacou Belém (Pará), São Luís (Maranhão), Fortaleza (Ceará), Natal (Rio Grande do Norte), Recife (Pernambuco), Maceió (Alagoas), Aracajú (Sergipe) e Salvador (Bahia).
“Explode coração, na maior felicidade. É lindo meu Salgueiro, contagiando e sacudindo esta cidade”, celebra o conhecido refrão da música.
(*Lívia Ximenes, estagiária sob supervisão do Coordenador de Cultura, Abílio Dantas)
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