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Reportagem do 'Fantástico', da TV Globo, expõe supostos abusos cometidos por Dom Alberto Taveira

Matéria televisiva traz novos detalhes e relatos sobre as denúncias contra o Arcebispo Metropolitano de Belém

Ana Carolina Matos
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A polêmica envolvendo denúncias de abusos sexuais supostamente praticados pelo arcebispo metropolitano de Belém, Dom Alberto Taveira Corrêa, durante o exercício do cargo na capital paraense ganhou mais um capítulo. Na noite deste domingo (3), o programa "Fantástico", da TV Globo, exibiu uma reportagem especial sobre o caso, de pouco menos de 20 minutos, com mais detalhes e relatos sobre os crimes que teriam sido cometidos pelo líder religioso contra integrantes do Seminário São Pio X, em Ananindeua. As vítimas tinham entre 15 e 18 anos de idade quando os abusos teriam ocorrido entre 2010 e 2014.

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Matéria de jornal espanhol sobre denúncias contra arcebispo diz que abusos ocorreram até 2014 

De famílias religiosas e humildes, os ex-seminaristas revelaram que os tradicionais encontros, entre os jovens aspirantes a padres e Dom Alberto, também ocorriam na casa do líder religioso - ambiente apontado como o local em que ocorriam os crimes. Entre o fim de outubro e novembro de 2019, o Fantástico ouviu detalhes sobre o que ocorria nos encontros privados.

Segundo a reportagem, as conversas ocorriam em três lugares: na capela, geralmente sobre vocação religiosa; na sala, onde o foco era família e estudos e no quarto do arcebispo, normalmente ao final do dia, onde a temática girava em torno de intimidades. As vítimas contam que os diálogos de teor sexual envolviam perguntas sobre masturbação, orientação sexual e até a medida do pênis ereto dos jovens. 

Nomeados com iniciais sem relação com nomes reais, o jovem identificado apenas como "C" contou que tinha apenas 15 anos quando conheceu Taveira. Segundo ele, as conversas giraram "sempre sobre sexualidade". "O primeiro ponto que ele sempre tocava era masturbação. Era sobre toque, se eu sentia desejo, por quem eu sentia desejo", relatou.

"Ele já me recebia na porta e já ia logo pegando", lembra C, sobre os abusos

Foi em meio a uma destes encontros que o primeiro abuso teria ocorrido. "Quando ele tocou, na minha parte íntima, e disse que aquilo ali era normal, coisa de homem. Mas, assim, eu não via maldade porque eu confiei muito, por ele ser uma autoridade. Também não tinha experiência. Mas aquilo já foi se tornando permanente e já mais agressivo. Ele já me recebia na porta e já ia logo pegando", lembra. "Comigo foram dois anos, em média, de três em três meses", detalhou C, sobre a frequência dos abusos.

Em um relato parecido, outra vítima, identificada apenas como X, conta que conheceu o líder religioso quando ainda era coroinha e o primeiro contato já teria causado estranheza. "É uma conversa que vai fluindo em diversos assuntos e ele acaba perguntando se você namora, se já namorou, se tem atração por meninas ou meninos. Embora a gente se sinta estranho, a gente acaba respondendo de forma bem assim, objetiva", declarou.

"Houve um momento em que ele mesmo abaixou as minhas calças, porque eu estava perplexo. Tocou e também rezou", comentou X

Em outro momento, o jovem conta que alguns encontros foram necessários antes de uma postura mais incisiva de Taveira. "Perguntava muito sobre masturbação. Como a gente fica muito constrangido, sempre se muda de assunto. Em outro momento, retoma, até que ele pede pra que você mostre. No meu caso, houve um momento em que ele mesmo abaixou as minhas calças, porque eu estava perplexo. E tocou e também rezou", contou ele, relembrando que as alegações era de que as orações eram para uma espécie de "cura". 

Um terceiro ex-seminarista, "S", revelou ainda que os assédios tiveram início logo que ele conheceu Taveira, com conversas, sobre virgindade e relações sexuais. "Ele pediu para que eu mostrasse como me masturbava no dedo dele. Isso na hora me chocou bastante porque você não espera uma coisa dessas, né?", conta. 

"Ele pediu para que eu mostrasse como me masturbava no dedo dele", explicou S, sobre um encontro com o arcebispo

Um ano depois, um novo encontro, teria sido ainda mais invasivo. "Ele pediu que eu ficasse em pé, na frente dele, no meio das pernas dele. E pediu que eu fechasse meus olhos. Eu fechei os olhos e aí ele começou a rezar. Foi quando ele pegou no meus órgãos genitais, acho que esperando alguma reação, sei lá, mas não houve nada. Ele me abraçou, deu um beijo próximo da minha boca e disse que é assim, que tinha que rezar". Tempos depois, ao pedir para deixar o seminário aos prantos, a vítima ainda teria sido xingada de termos pejorativos como "viado" e pedidos para "que fosse homem".

Depois de se arrepender de abandonar a vida religiosa, outro abuso ainda ocorreu. "Ele pediu pra abaixar minhas calças. (...) Baixei até, mais ou menos assim, o joelho e aí ele ficou apalpando, até que Dom Teodoro bateu na porta e foi ele que me salvou daquela situação", disse ele, se referindo ao então bispo auxiliar de Belém que foi afastado em 2015. Não ficou claro, entretanto, se o bispo tinha conhecimento dos abusos sexuais.

Tratamentos para cura gay

Segundo os ex-seminaristas, algumas conversas também giravam em torno de uma "cura gay". O arcebispo teria, inclusive, entregado um livro aos jovens com procedimentos chamados de "tratamento". A quarta vítima, "V", diz não ter sofrido abusos sexuais, mas assédio. De acordo com o relato, Dom Alberto teria dito que o jovem precisava de ajuda. "Você lia o livro e dizia, assim, que ser homossexual era uma doença. Que a gente precisava ser tratado, ajudado", disse.

O livro contava também com um questionário que, de acordo com três dos quatro denunciantes, continha perguntas acrescentadas pelo próprio Dom Alberto. "O tamanho do órgão genital e o tamanho do pênis ereto", relataram os jovens.

"O tamanho do órgão genital e o tamanho do pênis ereto", relatam ex-seminaristas, sobre perguntas em questionário

As ameaças de Dom Alberto Taveira teriam sido o motivo que mantiveram os jovens em silêncio ao longo destes anos. "Não fale nada pra ninguém, que vai ser pior pra você era muito recorrente. A corda sempre arrebenta do lado mais fraco", relembrou V, sobre as ameaças. O medo continuou até 2017, quando dois dos ex-seminaristas conversaram sobre o assunto. Em seguida, vieram as outras duas vítimas, que endossaram as denúncias encaminhadas a dois padres de Belém, entre o final de 2017 e 2018.

Em junho de 2019, os padres registraram as denúncias dos ex-seminaristas e escreveram uma carta, que foi entregue a Dom José Luís Azcona, bispo emérito do Marajó conhecido pela luta contra abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. No documento, os padres dizem ter certeza da veracidade dos fatos narrados pelo ex-seminaristas e encerram afirmando que estão preocupados com os rumos da igreja em Belém. 

Azcona, então, denunciou o caso a outro bispo, Dom Pedro Conti - uma recomendação da própria Igreja Católica, para casos como esse, para que o assunto fosse levado ao Vaticano. Em Brasília, Azcona levou o caso à Nunciatura Apostólica em Brasília, a principal representação diplomática do Vaticano no Brasil.

Advogado diz que "grupo" está envolvido em denúncias

Representante legal do acusado, o advogado Roberto Lauria declarou que o Dom Alberto ainda não foi ouvido pela Polícia e nem pelo MPPA, mas que está à disposição. "A primeira coisa a ser dita é a negativa e o repúdio à essa denúncia. Todo católico paraense conhece a lisura, a honestidade, a honradez com que se porta Dom Alberto, que doou meio século de vida à igreja católica", iniciou.

" São um grupo de pessoas que têm um profundo recalque", justifica o advogado Roberto Lauria

"Nós vamos provar ao final desse inquérito que diferente do que se pensa, os denunciantes não são quatro pessoas isoladas. São um grupo de pessoas que têm um profundo recalque, um profundo sentimento de vingança por Dom Alberto. E por que esse sentimento? Justamente pela grande característica da gestão de Dom Alberto, que é uma gestão austera. Pessoas foram afastadas do seminário porque comportamento incompatível com a vida religiosa", afirmou.

Entidades se manifestam sobre o caso

Após a repercussão do caso, Taveira recebeu apoio de grandes nomes do mundo católico, como o padre Fábio de Melo e o padre Marcelo Rossi, que manifestaram publicamente, por meio de vídeos, apoio ao líder religioso. Além deles, o próprio Seminário Maior São Pio X, epicentro da polêmica, também publicou uma nota manifestando "claras desaprovação às injúrias e difamações investidas" contra o arcebispo de Belém. Já a presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil disse que acompanha o "percurso doloroso" com "orações e fraterna amizade".

No último dia 23 de dezembro, trinta e sete entidades divulgaram uma nota pública manifestando apoio às investigações que apuram acusações de abuso sexual praticadas pelo arcebispo.

image Reportagem televisiva trouxe mais detalhes sobre acusações contra Arcebispo de Belém (Reprodução/TV Globo)

Arquidiocese se pronuncia

Horas antes da reportagem televisiva ser veiculada, a Arquidiocese de Belém publicou uma nota em que ressaltou a "certeza e a confiança de que, ao final, prevalecerá a verdade". O comunicado disse ainda que, "devido ao sigilo imposto e em respeito às leis, não pode divulgar mais informações" e pediu que a comunidade de fiéis continue a rezar pela Igreja. Em nenhum momento, entretanto, a entidade religiosa citou a reportagem do Fantástico. Confira a nota na íntegra: 

"A Arquidiocese de Belém reitera ao povo de Deus, com transparência e serenidade, que está acompanhando as investigações em curso, com a certeza e a confiança de que, ao final, prevalecerá a verdade. Informa ainda que, devido ao sigilo imposto e em respeito às leis, não pode divulgar mais informações. Este é o momento de renovar o nosso senso de comunhão e solidariedade, porque, como disse o Apóstolo, referindo-se à Igreja, 'quando um membro sofre, todos os membros participam do seu sofrimento; se um membro é honrado, todos os membros participam de sua alegria' (1Cor 12, 26).

Por fim, pede à comunidade dos fiéis que continue a rezar pela Igreja, por intercessão da Santíssima Mãe de Deus, a Virgem Maria, para que não desanimemos diante das provações pelas quais estamos passando".

Esta é a segunda vez que a Arquidiocese de Belém publica um comunicado sobre o caso. Antes mesmo das denúncias contra Dom Alberto Taveira ganharem repercussão nacional por meio de grandes veículos de comunicação de todo o Brasil, a entidade divulgou, no dia 5 de dezembro, uma carta e um vídeo sobre o assunto, por meio do site oficial. Na ocasião, o comunicado ressaltou que lamentou "que os pretensos acusadores tenham optado pela via escandalosa, com circulação de notícia na mídia nacional, sem as devidas apurações dos fatos, ao que tudo indica, visando causar danos irreparáveis" a Taveira e "provocar abalo na Santa Igreja".

Em outro trecho, o líder religioso disse confiar na Justiça Brasileira "para o esclarecimento dessas falsas imputações" e reforçou "estar totalmente disponível às autoridades, tanto as eclesiásticas como as civis, para que a realidade seja restabelecida integralmente". A nota destacou ainda que o caso está sendo acompanhado para Santa Sé, a jurisdição eclesiástica da Igreja Católica em Roma, que é uma entidade soberana independente e distinta do Vaticano.

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