Caso Sheila: família formaliza denúncia por erro médico e negligência no CRM-PA

Colaboradora do Grupo Liberal morreu após complicações decorrentes de uma cirurgia de vesícula, no Hospital Rio Mar

O Liberal

A família de Sheila Barros Belúcio, de 50 anos, colaboradora do Grupo Liberal que faleceu no último dia 15 de junho após complicações decorrentes de uma cirurgia de vesícula, protocolou uma denúncia no Conselho Regional de Medicina do Pará (CRM-PA) denunciando suposta negligência e erro médico no atendimento prestado à paciente no Hospital Rio Mar, em Belém. Sheila morreu no dia 15 de junho, após complicações no pós-operatório de uma cirurgia de vesícula.

No documento, protocolado no dia 24 de junho, os familiares pedem apuração rigorosa dos fatos narrados, com investigação da conduta dos médicos envolvidos e do hospital, para verificar a ocorrência de suposto erro médico, negligência ou imperícia. Também foi solicitado ao CRM que os profissionais envolvidos na cirurgia sejam ouvidos para que seja detalhada a condução do procedimento cirúrgico. E ainda, que dirigentes do hospital expliquem a responsabilidade da unidade no acompanhamento do caso.

image Esposo de Sheila Jonathan Belúcio (à esquerda) e o filho de Sheila, Hanniel Barros (à direita). (Cristino Martins | O Liberal)

Na denúncia, os familiares pedem que sejam aplicadas as penalidades cabíveis, caso sejam constatadas infrações éticas ou profissionais, conforme previsto na legislação e no Código de Ética Médica. Para o filho de Sheila, Hanniel Oliveira, 29, essa é uma forma de fazer justiça pela vida da mãe e de cobrar explicações sobre o que aconteceu. O prontuário da paciente também já foi disponibilizado à família, como garante Hanniel, e diz que o documento irá ajudar nas investigações.

Segundo Hanniel, o Conselho irá apurar o que ocorreu e que a família está em contato com a entidade para esclarecimentos posterior. Até o momento, ainda não há um prazo para que esse processo seja finalizado. “Nós relatamos tudo o que aconteceu na denúncia. O caso da mamãe foi muito sério. E detalhamos os fatos. Contamos o que realmente aconteceu no hospital e foi repassado junto com o nosso advogado para CRM”, observa Haniel.

“É importante porque se todas as pessoas que passam por essa situação se calarem, esse tipo de problema nunca vai ser resolvido. Estamos levando o caso ao Conselho Regional de Medicina, justamente para que essas pessoas [responsáveis pelo erro médico] sejam punidas de alguma forma, nem que seja perdendo a sua profissão. Uma pessoa que tem uma profissão tão importante, como a de médico, que não sabe o peso da importância da profissão dela, não pode exercer essa função”, afirma Hanniel.

Agravamento do quadro

A suspeita de erro médico no caso de Sheila Barros Belúcio surgiu a partir da evolução rápida e grave do quadro clínico da paciente após uma cirurgia considerada simples e eletiva. Sheila foi internada no dia 12 de junho para retirada de pedra na vesícula e os exames pré-operatórios não apontaram qualquer risco, como relembra o marido de Sheila, Jonathan Belúcio, de 33 anos. No entanto, já no dia seguinte ao procedimento, na sexta-feira (13), ela passou a sentir dores intensas e apresentar vômitos constantes.

As acompanhantes que estavam com Sheila relataram que solicitaram atendimento médico diversas vezes durante a madrugada de sábado, mas que Sheila não foi atendida de imediato, o que levanta questionamentos sobre a conduta da equipe hospitalar, conforme os relatos de Jonathan. “Os enfermeiros chegavam no quarto e aplicavam só remédio. Em torno de três vezes mais ou menos, ela [a acompanhante] solicitou o médico de plantão, que não ia. E ela continuava sentindo dor. Ninguém tentou ir lá para ver o que estava acontecendo. Não foi um especialista, que é o médico de plantão para averiguar”, relata Jonathan.

“Quando eu voltei ao hospital, no sábado pela manhã, não tinha chegado nenhum médico para examinar a Sheila. Mesmo após uma cirurgia que, segundo os médicos, foi considerada muito delicada”, conta Jonathan. “E era por isso mesmo que tinha que ter um médico de plantão por causa de plantão. E era uma cirurgia considerada simples”, completa Hanniel.

image Familiares de Sheila Belúcio relatam descaso. (Cristino Martins | O Liberal)

Família relata falta de suporte

Jonathan também relata outros quadros apresentados por Sheila ainda no sábado: “Relatei aos enfermeiros que a Sheila estava com muita dor, estava com muita dor no pulmão. Estava com um batimento muito forte e também estava suando frio. Já estava muito debilitada. A enfermeira me disse que o médico de plantão iria chegar somente às 8 horas". “Para mim, isso foi um erro gravíssimo, porque se tivessem solicitado o médico de plantão na sexta-feira, a minha esposa estaria viva hoje”, acrescenta Jonathan.

Com o agravamento do quadro, Sheila foi transferida para a UTI no sábado (14), onde precisou passar por uma nova cirurgia — desta vez no intestino. Essa intervenção foi motivada por uma lesão supostamente causada na primeira cirurgia, o que teria provocado uma infecção bacteriana e, em seguida, uma infecção generalizada. Mesmo após os procedimentos, a paciente sofreu uma parada cardíaca no domingo (15) e não resistiu.

“Já no sábado de manhã, quando ela [Sheila] subiu para a UTI, a receberam em estado extremamente grave, segundo os médicos. Ou seja, se tivesse o médico aparecido quando foi solicitado na primeira, segunda vez da sexta-feira, a gente acredita que o resultado teria sido muito diferente. E a causa de toda a complicação foi um vazamento no intestino, durante a cirurgia da vesícula, que culminou com a morte dela. Isso também a gente não entende: por que ela entrou para fazer uma cirurgia de vesícula e saiu com um vazamento no intestino?”, comenta Hanniel.

Posicionamento

Após a gravação com os familiares de Sheila, a reportagem acionou a Hapvida na última quinta-feira (26/6). O hospital respondeu na sexta-feira (27/6), comentando que "se solidariza com os entes queridos da paciente neste momento. O prontuário médico foi disponibilizado aos familiares diretamente envolvidos”.

“A direção está em contato com eles e permanece à disposição para oferecer todos os esclarecimentos necessários às autoridades competentes, com transparência e respeito. A operadora reafirma seu compromisso com a responsabilidade social, com a ética e com a qualidade da assistência médica prestada à população”, completa o comunicado.

CRM

Já o CRM detalhou à reportagem que, conforme já informado pela família, o Conselho recebeu a denúncia para apuração. “A sindicância, como procedimento prévio obrigatório, foi instaurada. Ressaltamos que a mesma tramitará sob sigilo, conforme artigo 1º do Código de Processo Ético-Profissional (Resolução CFM 2306/2022)”, informa o CRM.

“Os fatos serão apurados, com a solicitação de documentos necessários. As sanções possíveis são as previstas no artigo 22 da Lei 3268/57, e aplicadas após regular tramitação de processo-ético, após avaliação da sindicância”, finaliza o Conselho Regional de Medicina.

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