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Dia do Ciclista: pedalar é risco diário na Grande Belém por falta de espaço nas vias; vídeo

Quem usa a bicicleta para trabalhar ou para o lazer pede mais ciclovias e fiscalização

Dilson Pimentel

A quantidade de ciclovias e ciclofaixas em Belém totalizada passa de 144 quilômetros implementados, mas o número ainda é tímido diante da necessidade dos ciclistas. É o que afirmam coletivos de mobilidade urbana ligados aos mais diversos usos da bicicleta na capital. Eles ressaltam: transitar na Grande Belém é um desafio diário aos que usam a bicicleta como meio de transporte ou de lazer. Mesmo com a malha dedicada hoje apenas às bicicletas, os ciclistas lembram que, além da falta de manutenção, eles ainda acabam tendo que disputar o espaço urbano de forma insegura, desordenada e desigual com os condutores de veículos motorizados – o que eleva riscos e impacta as estatísticas de acidentes.

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Isso ocorre, por exemplo, em vários pontos da BR-316 ou nas avenidas Presidente Vargas ou no Ver-o-Peso. Neste sábado comemora-se o Dia Nacional do Ciclista. O dia é uma homenagem ao ciclista Pedro Davison que morreu em 19 de agosto de 2006, em Brasília, depois de ser atropelado por um motorista que dirigia em alta velocidade e embriagado.

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Cid Kamijo, 46, é ciclista há 20 anos e administrador do grupo Bike Belém, que promove passeios noturnos pela cidade e eventos de ciclismo de longa distância (Paidex). Segundo ele, a disputa de espaço entre ciclistas e automotores ocorre, primeiro, pela falta de infraestrutura adequada das ciclovias e ciclofaixas. Isso obriga o ciclista a dividir (não disputar) espaço nas vias, que, disse, muitas vezes são feitas sem planejamento, fiscalização ou conservação.

O segundo fator, disse, é a “ignorância do próprio ciclista” que, por não ter orientação, treinamento - e, portanto, conhecimento - não sabe seus direitos e deveres como parte do trânsito, se pondo em risco desnecessário. O terceiro fator indicado por Cid é que, da parte dos automotores, só se comportam de maneira correta se houver fiscalização. “E, na ausência da fiscalização, ciclofaixa vira corredor de motos (João Paulo II, Artur Bernardes e Independência), estacionamento (Lomas Valentinas) e qualquer forma de tirar vantagem no trânsito”, afirmou.

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A quantidade de ciclovias e ciclofaixas em Belém já passa dos 100 km implementados. No entanto, afirmou, ainda é um número tímido diante da necessidade do ciclista. Ele completou: “Precisamos urgente alinhar as necessidades da classe (temos vários coletivos de ciclismo que possuem estudos e dados importantes) ao que o poder público se propõe a fazer. O ideal seria que onde chegasse um automotor em segurança e com estrutura, chegasse também uma bicicleta em igualdade de condições. Esse é o pensamento que evolui o ciclismo como já foi feito na Holanda, onde o caminho veio primeiro que a demanda e hoje é um exemplo para o mundo”.

Cid observou que 19 de agosto representa o Dia Nacional do Ciclista. “E essa data nasce de uma morte, infelizmente, para que ninguém esqueça que em cima de uma bicicleta não trafega um número estatístico, mas sim uma história, uma existência, alguém que deve retornar a sua casa em segurança, um pai, uma mãe, um avô, um filho ou um neto, mas alguém que por vezes não tem opção de transporte a não ser a democrática e barata bicicleta”, afirmou.

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image Ivanilda Gomes reclama dos buracos na BR e dos carros, “que não respeitam a ciclista. Faltam ciclovias”, disse. A saída é ir pelas calçadas. Aí, nesse caso, tem que descer da bicicleta, pois as calçadas são irregulares. “É um risco”, afirmou (Thiago Gomes/O Liberal)

Ciclistas transitam entre os carros na BR-316

Basta ficar alguns minutos na BR-316, em Ananindeua, para verificar o perigo enfrentado pelos ciclistas. Eles trafegam muito próximos aos veículos. Para ter um pouco mais de segurança, pedalam pelas calçadas, que, no entanto, têm buracos e são irregulares.

O motorista Antonio Carlos Costa, 49, usa a bicicleta para ir e voltar do trabalho, na Cidade Nova. E trafega todos os dias na BR. “A grande dificuldade é que não tem uma ciclovia para nos proporcionar segurança. Aí a gente tem que andar junto com os carros, com as motos, e a dificuldade é grande”, disse, enquanto pedalava próximo à rua Osvaldo Cruz, em Águas Lindas.

Ele também citou as muitas ‘bocas de lobo’ (bueiros) que estão abertas e sem proteção. Para Antonio, deveria ter mais ciclofaixas e ciclovias para os ciclistas, com a devida sinalização. A dona de casa Ivanilda Gomes, 42 anos, também usa a bike para resolver assuntos do dia a dia. Ela reclama dos buracos na BR e dos carros, “que não respeitam a ciclista. Faltam ciclovias”, disse. A saída é ir pelas calçadas. Aí, nesse caso, tem que descer da bicicleta, pois as calçadas são irregulares. “É um risco”, afirmou.

Na avenida Presidente Vargas, área central de Belém, também não há espaço reservado para os ciclistas. O carpinteiro Reginaldo Nunes, 58 anos, usa a bicicleta para trabalhar. “Não tem ciclovia. Ninguém obedece a lei de trânsito”, disse. Para não ser atropelado, ele conta que, com as mãos, faz um “sinal aqui e outro ali”. “E, assim, a gente vai. Tem que redobrar a atenção. Todo cuidado é pouco”, afirmou.

image O autônomo Ronaldo Fernandes, 31 anos, também usa a bicicleta para o trabalho e para outras atividades. A reportagem o encontrou na Castilhos França, no Ver-o-Peso, uma área com muito movimento de carros e sem espaço específico para quem pedala. “Todo dia eu faço esse percurso e é uma dificuldade. Quando tem faixa, eles não respeitam”, disse (Thiago Gomes/O Liberal)

O autônomo Ronaldo Fernandes, 31 anos, também usa a bicicleta para o trabalho e para outras atividades. A reportagem o encontrou na Castilhos França, no Ver-o-Peso, uma área com muito movimento de carros e sem espaço específico para quem pedala. “Todo dia eu faço esse percurso e é uma dificuldade. Quando tem faixa, eles não respeitam”, disse.

“Às vezes tem até incidente de a gente quebrar o retrovisor do carro. Mas não é porque a gente quer. É porque o espaço que a gente tem é pequeno e, infelizmente, acontece isso. A gente não quer que aconteça. Mas a gente quer que cada um respeite o seu espaço”, afirmou. Para Ronaldo, a lei tem que ser mais rígida. E devem ser implantadas mais ciclovias e ciclofaixas.

Especialista defende investimentos em ciclovias em Belém

A professora e pesquisadora da Ufpa Patricia Bittencourt Neves também é diretora Regional Norte da ANTP - Associação Nacional de Transporte Público. Especialista em Trânsito e Transporte Urbano, ela diz que o espaço urbano é disputado permanentemente pelo ciclista, motociclista, condutor de automóvel e demais categorias, e que cabe ao poder público ordenar esse espaço urbano.

Há países em que não é preciso sinalizar a via para os ciclistas porque as regras de circulação são respeitadas, e os condutores dos veículos motorizados obedecem a distância regulamentada a ser mantida do ciclista. “Isso é muito comum no Japão e em cidades da Europa. Então, você não precisa fazer a sinalização de delimitação na via”, disse.

Em Belém, mesmo havendo a ciclofaixa, esse espaço não é respeitado. “É muito comum a gente ver motociclistas circulando e veículos estacionados nas ciclofaixas. Então, apesar do poder público definir o espaço, mesmo assim, a gente não consegue efetivamente que esse espaço seja para o uso exclusivo do ciclista. E isso ocorre devido ao descumprimento da lei e à falta de fiscalização, porque o poder público, a Semob, não tem como fiscalizar a cidade toda”, disse.

Nesse cenário, portanto, não é suficiente o número de ciclofaixas e ciclovias. “Como ocorre a questão do descumprimento, na realidade, efetivamente, os ciclistas só gozam de segurança nas ciclovias. As ciclofaixas – não são todas -- deixam muito a desejar”. E afirmou que o poder público deve investir mesmo em ciclovias, já que as ciclofaixas não são respeitadas. “E a Semob não tem fôlego para fiscalizar tudo”, disse.

Patricia também falou sobre a lei da mobilidade urbana, que traz instrumentos fundamentais para garantir sustentabilidade e eficiência nos deslocamentos nas cidades, mas, na prática, não é cumprida. “A lei define que, dentro das demais categorias, a prioridade é para os modos não motorizados, basicamente o pedestre e o ciclista. Mas é obrigação também dos condutores de veículos motorizados priorizar, no espaço urbano, o pedestre e o ciclista. Isso, na realidade, não ocorre”, afirmou.

Belém conta com malha cicloviária de mais de 144Km

A Prefeitura de Belém informou que, entre 2021 e julho de 2023, houve um crescimento de quase 30 km (29,82 km) na malha cicloviária de Belém, totalizando, atualmente, uma extensão de 144,03Km, que consiste de ciclofaixa, ciclovia e ciclorrota. Em todo o ano de 2022 foram executados 26,60 Km de sinalização viária.

Em 2023, já foram sinalizados 27,53 km de vias. Para este mês de agosto, estão previstas a revitalização e implantação de sinalização viária numa extensão de 9,9 km de vias. Em 2023, a Semob implantou 6,34 km de ciclorrotas, espaço compartilhado em via de fluxo reduzido, onde bicicleta e veículos dividem a rua, com a sinalização indicando a preferência do ciclista na pista.

A Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana (Semob) informou ainda que mantém fiscalização regular com agentes de trânsito em rondas com viaturas e motocicletas para coibir o uso do espaço do ciclista por outros tipos de veículos, realizando autuação quando há flagrante de infração e divulgando amplamente nas redes sociais da Semob.

A autarquia reforça que os agentes de trânsito realizam fiscalização nos principais corredores com ciclofaixas na cidade de Belém. Como resultado dessa fiscalização, de janeiro a julho de 2023, foram lavradas 814 multas por transitar com veículos em ciclovias/ciclofaixas e 471 autuações por estacionar sobre ciclofaixa/ciclovia.

De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), se o condutor for flagrado transitando pela ciclofaixa/ciclovia estará cometendo infração gravíssima, conforme o art. 193 do CTB, somando 7 pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH), multa de R$ 293,47 triplicada, totalizando R$ 880,41. Já estacionar o veículo sobre a ciclofaixa/ciclovia consiste de infração grave, conforme o artigo 181 do CTB, sujeito a multa de R$ 195,23 e 5 pontos na CNH.

O Núcleo de Gerenciamento de Transporte Metropolitano (NGTM) informou que está construindo 22 km (11 em cada sentido) de ciclovia na BR-316 e 13 passarelas para garantir o trânsito seguro de ciclistas. O projeto prevê ainda paraciclos em frente as Estações de Passageiros e bicicletários nos Terminais de Integração do futuro BRT Metropolitano em Ananindeua e Marituba. Com isso, o ciclista poderá deixar a bicicleta guardada enquanto viaja nos ônibus do BRT.

Diferença entre ciclovias e ciclofaixas

Ciclovias - pistas de circulação totalmente exclusiva dos ciclistas, segregada do asfalto

Ciclofaixas - faixas delimitadas na própria pista, junto aos demais veículos

Fonte: Semob

 

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