Pacientes com problemas renais cobram repasses da Prefeitura de Ananindeua para continuar tratamento
Os manifestantes cobram repasses atrasados há mais de 12 meses, o que compromete a estabilidade financeira das clínicas contratadas e coloca em risco a continuidade dos tratamentos de pacientes renais crônicos

Um grupo de pacientes renais crônicos realizou um protesto, na manhã desta terça-feira (13/5), como forma de cobrar repasses da Prefeitura de Ananindeua para clínicas contratadas que disponibilizam o tratamento de hemodiálise. Segundo os denunciantes, os atrasos se estendem por mais 12 meses e comprometem a estabilidade financeira dessas clínicas e, por consequência, colocam em risco a continuidade dos tratamentos. O protesto começou por volta das 9h, em frente ao Ministério Público de Ananindeua, no Centro. Em seguida, por volta das 10h, os manifestantes seguiram para a Câmara Municipal de Ananindeua, também no Centro.
Regina Reis, de 39 anos, acompanha a mãe, Maria de Oliveira Reis, 60, uma das 58 pessoas que são pacientes do Centro de Hemodiálise Ari Gonçalves (CEHMO). Ela conta que o problema já tem mais de um ano, sendo que a genitora já recebe tratamento no local há três anos.
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“A Secretaria de Saúde não pagou a CEHMO e não renovou o contrato. A minha mãe, que faz o tratamento, pode ficar sem hemodiálise. E eu não quero tirar a minha mãe da clínica CEHMO e colocá-la em outro lugar, porque o CEHMO é equipado com tudo que os pacientes precisam. E a Secretaria de Saúde já está ligando para os pacientes falando que vai para outra clínica que é na BR. Então, os pacientes não querem sair da CEHMO. Queremos que o doutor Daniel pague, porque ele é um médico fazendo. Será que ele não tem mãe, pai, família?”, relatou.
Reis explicou de que forma essa situação afeta os pacientes, incluindo a mãe que, além do problema renal, não enxerga, tem diabete e pressão alta. “No dia que a minha mãe recebeu essa notícia, a pressão dela subiu para 22. Ela passou mal. É muito constrangedor e desumano. Queremos respeito”, afirmou.
A dona de casa Lidiane da Silva Correia, 43 anos, também participou do ato público. “Eu não ando muito bem de saúde desde que a gente recebeu essa notícia. Eu faço hemodiálise há 7 anos, sempre no CEHMO, foi a porta que abriram pra mim”, disse. “Eu não quero sair de lá, é um local que a gente está sendo bem acolhido. Lá eu tenho espaço pra andar sozinha. A gente conhece a direção, a gente conhece os médicos, os médicos que estão lá cuidam de mim desde que eu entrei”, completou.
Lidiane disse que “já perdeu gente” da minha família por não fazer hemodiálise. “Nós queremos que passem a verba, que renovem o contrato, que nós não queremos sair do nosso prédio, da nossa casa. Eu sou diabética, renal crônica, tenho problema na visão, já perdi um lado, o outro só está 5%, tenho pressão alta. Quero o que é melhor pra mim. Tenho que fazer hemodiálise, eu não posso ficar sem fazer. A gente fica sem saber se vai sobreviver, se vai estar ali amanhã pra fazer. Vai ter hemodiálise pra mim amanhã?”, questionou.
“Somos seres humanos”, diz paciente de 51 anos
O técnico em eletrônica Jânio Oliveira, 51 anos, também falou sobre sua situação. “Há 7 anos eu cheguei muito debilitado até o CEHMO. Fui muito bem atendido, cheguei lá com 50 quilos, até desenganado. Hoje estou com 80 kg. E eles têm um tratamento humanizado, uma clínica ótima. Então eu fico muito triste, até passando mal, de saber que a gente pode ir para outro local”, contou. “A nossa clínica está sem receber há um ano, já está faltando insumos para tratar a gente. Gostaria muito que o (prefeito) Daniel olhasse com carinho a nossa situação. Somos pacientes renais crônicos, não temos muita alegria na vida, merecemos ser bem tratados. Somos seres humanos”, afirmou.
Ex-professor de informática, Jason Lopes da Silva, 52, faz hemodiálise há quase três anos e meio. “A gente precisa do tratamento porque prolonga mais a nossa qualidade de vida. É inadmissível um gestor desse, que se considera gestor, não poder pagar a clínica”, afirmou. “Sou operado da perna esquerda, por isso uso essa bengala aqui. Sou renal crônico e tenho baixa visão. Só vejo sombras. Preto e branco. Como se fosse uma foto preto e branco”, contou.
Advogado cita bloqueio das contas da Prefeitura de Ananindeua
O advogado Gabriel Barreto defende pacientes renais crônicos de Ananindeua. “Há mais de um ano a prefeitura não paga os prestadores de serviço de hemodiálise aqui e os pacientes ficam muito vulneráveis a essa situação. Nós entramos no Ministério Público, cobramos que o Ministério Público tomasse alguma atitude em relação a isso. O Ministério Público notificou a Prefeitura, a Prefeitura nada respondeu”, disse.
“Nós também adentramos num processo de execução que já existia desde 2021, desde o início do mandato do prefeito atual, e lá nós fizemos uma execução. E, ontem, saiu o bloqueio judicial das contas da prefeitura para que coagisse a prefeitura a tomar uma medida mais efetiva e realizar os pagamentos. Então eles têm um prazo de 30 dias para comprovar efetivamente que foi pago o dinheiro da hemodiálise”, afirmou.
Ele explicou que o dinheiro destinado à hemodiálise é um recurso vinculado - é um recurso federal do Ministério da Saúde. “Ou seja: como é um recurso vinculado, ele não deve ser passado para qualquer outro tipo de serviço se não configura um desvio de finalidade e uma questão de improbidade que também já está sendo alvo do Ministério Público”, afirmou.
Atualmente, há três clínicas atendendo pacientes de hemodiálise em Ananindeua. “As demais fecharam em razão da ausência de pagamento. O CEHMO não recebe há mais de um ano e, além disso, em fevereiro agora, eles tiveram o contrato encerrado sem possibilidade de renovação. E, por esse motivo, eles estavam atendendo os pacientes por razões éticas e humanitárias, sem qualquer cobertura contratual nem pagamento”, afirmou. Por volta das 10h30, os manifestantes se dirigiram até a Câmara Municipal de Ananindeua para protestar pelo mesmo motivo. A Redação Integrada de O Liberal solicitou um posicionamento da Prefeitura de Ananindeua sobre o caso e aguarda retorno.
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