Maternidade atrás das grades: conheça histórias de amor e resistência no cárcere
Apesar dos esforços institucionais, a realidade das mães no sistema prisional ainda é marcada por desafios
Por trás dos muros do sistema prisional, mulheres privadas de liberdade enfrentam os desafios da maternidade com força e esperança. No Centro de Reeducação Feminino (CRF), em Ananindeua, mães custodiadas vivenciam a criação de seus filhos pequenos dentro da unidade, enquanto lidam com a saudade dos que ficaram do lado de fora. Dentro das unidades prisionais, mulheres como Andreza Gonçalves, de 32 anos, vivem a maternidade em condições adversas. Mãe de cinco filhos, ela está há um ano e quatro meses no CRF com o filho mais novo, Bruno Emanuel, de um ano e seis meses. "É uma experiência difícil, mas, também maravilhosa, de poder estar com meu filho desde o começo da amamentação", compartilha Andreza.
A saudade dos filhos que estão fora é constante. "Sinto muita falta deles. Quando saí de licença e os vi, foi difícil voltar para cá", relata. Andreza também relembra a falta que sente da própria mãe, que faleceu quando ela tinha apenas 9 anos. "Antes de ser mãe, eu não gostava desse dia, porque nunca tive essa atenção de mãe. Mas depois que passei a ser mãe, é uma maravilha", diz.
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Rosângela Barros, de 38 anos, também vive a maternidade no cárcere. Mãe de seis filhos, ela busca forças na convivência com seu bebê de 8 meses, Fabricio Davi, desde abril deste ano. Ela fala sobre enfrentar a saudade dos outros filhos e da mãe, que é cadeirante. "Sinto saudade da minha mãe. Ela tem 72 anos, é cadeirante e tem problema de visão. Tudo que quero é passar o dia das mães ao lado dela e dos meus outros filhos", conta emocionada.
Apesar dos esforços institucionais, a realidade das mães no sistema prisional ainda é marcada por desafios. A separação dos filhos e, as condições de saúde da mãe são questões difíceis para ela próximo de uma data como esta. "Eu só quero uma nova vida. Poder cuidar dos meus filhos, cuidar da minha mãe e nunca mais fazer nenhum tipo de besteira. Eles são tudo que mais importa na minha vida", afirma Rosângela.
Cleudiane Moura dos Santos, de 42 anos, está custodiada há 11. Mãe de dois filhos, ela compartilha a dor da separação. "Quando saí de casa, meus filhos eram crianças ainda. Meu caçula tinha 10 anos, o meu filho mais velho tinha 12. E essa ruptura, essa separação, sempre causou muita dor." Apesar das dificuldades, Cleudiane se orgulha das conquistas dos filhos. "O meu filho mais velho é formado engenheiro civil. O meu filho caçula faz educação física pela Uepa e eles moram com a minha mãe."
Dentro do CRF, Cleudiane buscou capacitação. "Me formei em pedagogia pela Universidade Federal do Pará antes do cárcere e dentro da UCRF eu tive a oportunidade de fazer mais uma graduação, letras, na modalidade EAD."
Cleudiane integra a Cooperativa Social de Trabalho Arte Feminina e Empreendedora (Coostafe) dentro do UCRF, onde aprendeu novas habilidades. "Hoje eu tenho dentro desse lugar perspectivas de vidas diferentes, porque antes eu imaginava 'vou sair daqui e vou voltar para minha profissão'. Hoje eu tenho um leque maior, as oportunidades para o trabalho para mim hoje são maiores." Ela expressa com carinho o desejo de reencontrar a família. "O que eu queria era só poder dar um abraço nos meus filhos, na minha mãe e dizer para eles que eles são o motivo de eu estar de pé."
Dorotea Soares Lima, Diretora do UCRF, é servidora pública há 30 anos, está há um ano e oito meses na direção do Centro de Reeducação Feminino (CRF). Ela destaca a importância dos projetos voltados para as mães custodiadas. "Toda política voltada para a pessoa privada de liberdade busca justamente fazer com que o ambiente prisional seja menos traumático e que as políticas penitenciárias sejam efetivamente aplicadas."
Dorotea enfatiza a relevância do trabalho e da educação na vida dessas mães. "Aqui no CRF temos as oficinas de corte e costura, onde é produzido parte dos uniformes usados nas unidades penitenciárias. Elas cortam, costuram, fazem a limpeza e embalam esses uniformes." Ela também ressalta a importância da Unidade Materno-Infantil (UMI) para as custodiadas gestantes e com crianças menores. "A UMI é um espaço com estrutura diferenciada em relação ao bloco carcerário. Possui quartos com camas hospitalares, cozinha, banheiro, solário e brinquedoteca."
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