Mestres de Ananindeua celebram Dia Estadual do Carimbó

Com nove mestres e 12 grupos tradicionais de carimbó, cena cultural de Ananindeua ganha força com Coletivo Ananin

Daleth Oliveira

Com instrumentos, dança e música, o carimbó é resultado da fusão de influências das culturas indígena e negra. Mais que um ritmo, a cultura paraense é, desde 2014, reconhecida como patrimônio cultural imaterial do Brasil. Como parte desse reconhecimento, no dia 3 de novembro é comemorado o Dia Estadual do Carimbó, data instituída pela Lei n.º 7 457, de 2010.

Em Ananindeua, município da Região Metropolitana de Belém, o Coletivo Ananin de Carimbó celebra o dia que marca também a data da morte do grande compositor do ritmo, Mestre Verequete, em 2009, clamando por mais reconhecimento da cena musical na cidade e no estado.

Entre os 12 grupos tradicionais de carimbó e de danças folclóricas e nove mestres, Luís Pontes, do Grupo Estrela do Norte, fala da importância da comemoração. “Este dia já nasceu muito importante porque hoje é o aniversário da morte de um dos professores do carimbó do nosso estado, que é o mestre Verequete. Além disso, a data aponta para a valorização a todo o trabalho estadual que está sendo feito em torno do carimbó e o Coletivo faz parte disso. Somos uma entidade que agrega mestres e grupos que antes trabalhavam isoladamente, mas hoje, juntos, tem o objetivo de divulgar, difundir, fortalecer e construir a identidade cultural do município de Ananindeua”, conta o mestre 

Mestre Luís vive o carimbó há mais de 20 anos. São duas décadas levando a cultura paraense por onde passa e, para ele, sua dedicação é religiosa. “O carimbó é uma filosofia de vida, um estilo de vida, uma ideologia e chega a ser quase uma religião. Eu costumo dizer que o católico se reúne na igreja para fazer as suas atividades; o evangélico, o mesmo; e o carimbozeiro se reúne nas praças todos os finais de semanas, em alguns lugares diferentes para fazer essa atividade. Então é o carimbó é isso: nossa religião”, finaliza.

No passado o Carimbó chegou a ser criminalizado

Para o mestre Nivaldo Coelho, do grupo Pindoramas de Ananindeua e Tradição de Marapanim, a expressão cultural também é sinônimo de rebeldia. Isso porque no ano de 1880 o carimbó chegou a ser criminalizado no município de Belém por ser considerado inadequado. O texto da Lei nº 1028, denominada “Código de Posturas de Belém”, dizia:  “É proibido, sob pena de 30.000 réis de multa: fazer bulhas, vozerias e dar altos gritos; fazer batuques ou samba; tocar tambor, carimbó, ou qualquer outro instrumento que perturbe o sossego durante a noite, etc”.

Entretanto, onde havia proibição, havia batuque. “Eu costumo dizer que o carimbó para mim foi e é a minha vida. Isso porque ainda criança eu já participava das rodas, mesmo contraditório às leis, lá para Marapanim. Enquanto a polícia não entrava na festa para tirar as crianças, eu estava cantando e batucando o pauzinho lá atrás do grupo”, conta Nivaldo, que há sete anos foi certificado como mestre do carimbó.

O músico revela que ainda percebe uma certa desvalorização do ritmo pelos próprios paraenses, mesmo sendo valorizado nacionalmente. “Hoje, eu digo que o carimbó é reconhecido em todo o Brasil como patrimônio nacional cultural, mas não é bem reconhecido no Pará. Se a gente levar um grupo de carimbó em uma festa, as pessoas não aceitam bem. Então, nós queremos que isso mude e ele seja valorizado em todo o Pará, pois é a maior cultura do Estado”, desabafa.

Conheça o Coletivo Ananin

O Coletivo Ananin reúne mestres e grupos com currículos culturais de mais de duas décadas de trabalho em seus bairros e comunidades da cidade de Ananindeua. A entidade nasceu da força e necessidade de lutar por políticas públicas para o carimbó, além de buscar o fortalecimento dos saberes ancestrais da expressão cultural.

Fazem parte: Mestra Regina, Grupo de Manifestações Culturais Mayaná, Mestre Luis Pontes, Grupo Estrela do Norte, Grupo de Manifestações Parafolclóricas Parananin, Grupo Folclórico Amazônia, Mestre Nivaldo, Mestre Edson, Grupo Icuiapitinga, Mestre Luiz Gonzaga, Grupo De Carimbó Águas Lindas, Mestre Alexandre – Grupo Amigos Do Carimbó, Mestre Juvenal, Grupo O Ritmo é o Carimbó, Toró Açú, Cia. de Música, Curimbó de Bolso, Manas do Carimbó, Mestre Santino, Grupo Pindoramas.

Desde o último sábado (30), eles se reúnem na Praça do Complexo 8 às 19h e fazem uma roda de carimbó. A programação deve continuar pelas próximas semanas, informa a organização do Coletivo.

 

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