Ação da FAB leva mais de 50 mil atendimentos em comunidades de difícil acesso no Pará

Em quatro balsas com oito tendas, ribeirinhos e moradores das zonas urbanas receberam atendimentos em oftalmologia, neurologia, odontologia, ginecologia e realização de vários exames.

Valéria Martins / Especial para O Liberal
fonte

Mais de 50 anos de idade separam Yan Samuel, que vai fazer 2 anos, e Vanderleia Andrade, de 58. Em comum, além de viverem no Marajó, eles aguardaram por muito tempo para realizar exames médicos importantes para terem mais qualidade de vida. Os dois foram atendidos na sexta-feira (27) na Excelsior 2025, que levou assistência médica a comunidades de difícil acesso no Pará. 

O Hospital de Campanha da Força Aérea (HCAMP) percorreu 1,7 mil quilômetros por rios no interior do estado, saindo de Santarém, passando por Monte Alegre e finalizando os atendimentos em Breves, no Marajó, neste sábado (28). 

"Ouvi que era importante, mas também tinha medo porque tem gente que diz que dói. Aí, minha cunhada disse 'mas quando! A gente não sente nada' e por isso eu vim", detalhou a dona de casa Valderleia Andrade, que fez uma mamografia pela primeira vez aos 58 anos de idade. 
Já Yan aguardava por oftalmologista desde que nasceu. "Ele tem umas manchas brancas nos olhos, estava esperando desde o ano passado. Achei bom quando eu soube que ia ter, fiquei alegre que tinha conseguido, já tinha esperado tanto tempo", relata a mãe Ana Lúcia Silva, de 27 anos e que tem quatro filhos.

Em quatro balsas com oito tendas, 14 especialidades foram oferecidas aos ribeirinhos e moradores das zonas urbanas, incluindo oftalmologia, neurologia, odontologia, ginecologia e realização de inúmeros exames durante o Exercício de Campanha de Emprego de Logística, Saúde e Intendência Operacional, que forma a sigla que dá nome à missão da FAB (EXCELSIOR 2025).

A expectativa da FAB era atender 10 mil pessoas em 10 dias, mas até o início da tarde deste sábado (28), 46,6 mil atendimentos tinham realizados, incluindo pacientes agendados e atendimentos espontâneos. 

“Além da pessoa precisar, tem a questão da curiosidade, como é ser atendido em um hospital de campanha? E quem vem gosta e acaba falando para o vizinho, para o amigo, e eles vêm procurando o atendimento”, fala a major médica Juliana Vandesteen, que comanda o hospital de campanha na Amazônia, o mesmo que atendeu os atingidos pelas enchentes no Rio Grande Sul no Vale do Taquari. 

“A maior ação humanitária na Amazônia” realizada pela FAB, conta com cerca de 40 profissionais, entre militares e equipes da Fiocruz e da organização não governamental Voluntários do Sertão. Os agendamentos foram feitos pelas prefeituras com quem esperava na fila por exames e especialistas, além dos atendimentos feitos com quem chegava na hora, sem agendar.

A saúde da mulher teve atenção especial com atendimento da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) para prevenir câncer do colo do útero. Além de dar atendimento de prevenção, a Fiocruz mantém continuidade nas avaliações para evitar o terceiro tipo de câncer mais incidente entre mulheres, segundo o Ministério da Saúde.

“Em área remotas, como é que a gente vai dar continuidade ao tratamento? Então, a gente mostra estratégias para não perder essas mulheres e em um dia a gente faz atendimento e entrega o laudo com resultado.A gente atende entre 100 a 120 mulheres por dia. A médica olha o colo de útero, tendo lesão, a médica faz o procedimento”, explica a pesquisadora da Fiocruz Ana Ribeiro. Segundo ela, a equipe atendeu algumas mulheres pela segunda vez na ação desta semana e deve retornar em seis meses para avaliar como estão as mulheres submetidas a retirada das lesões que poderiam avançar para câncer, se não fossem retiradas no procedimento rápido feito no hospital de campanha. 

Logística para atendimento que chega pelas águas
A escolha das cidades levou em consideração a população, a fila de espera junto às secretarias municipais de saúde, as dificuldades de acesso e também o trajeto que seria possível. 

Breves é a cidade mais populosa do Marajó, com 106,9 mil moradores segundo o Censo IBGE 2022 e além de unidade de saúde municipal, tem um hospital regional que recebe atendimentos de toda a região. Mesmo com a estrutura, há atendimentos em que os moradores precisam ir até à capital Belém, a cerca de 12 horas de barco. Além disso, segundo a prefeitura, há comunidades nas zonas rurais de Breves onde o tempo de barco até o centro é de 17 horas. 

A mãe do pequeno Yan que esperava por oftalmologista tem também um filho de quatro anos diagnosticado com transtorno do espectro autista e atendido em Belém. “A gente pega o barco à noite para chegar em Belém de manhã cedo. Teve dia que atrasou a viagem e não foi atendido, deu a viagem em vão”, desabafa Ana Lúcia Silva. 

Heloísa Oliveira chegou no dia anterior ao hospital para já passar pela triagem e recebeu atendimento oftalmológico, um óculos novo e também atendimento odontológico. Segundo ela, há anos precisava extrair o ciso, mas não conseguia na rede pública e nem tinha condições de pagar.
"Por que todo mundo está aqui? Não é porque quer, é por necessidade", diz a moradora de Breves.

O hospital da FAB saiu desmontado do Rio de Janeiro e foi levado de caminhão até Belém, onde a estrutura foi montada sobre quatro balsas. Na manhã de 29 de maio, a missão saiu do Porto Fluvial Brucutu, que fica no bairro do Telégrafo, em Belém, subindo por rios até Santarém, onde começou os atendimentos em 12 de junho.

Foram dois dias de atendimentos aos santarenos. Depois, foram mais quatro dias em Monte Alegre, entre 16 e 19 de junho, finalizando em Breves, entre os dias 25 e 28 de junho e também onde a ação recebeu reforço de duas carretas da organização não governamental Voluntários do Sertão, vindas da Bahia com mais atendimento oftalmológico, confecção de óculos, mamografias e atendimentos por dentistas. 

O intervalo entre os dias de atendimento era para deslocamento da balsa descendo o rio e preparação na cidade seguinte. Neste domingo (29), a estrutura deve ser desmobilizada e voltar à Belém, onde o hospital será desmontado. 

“Todo mundo que está aqui é voluntário, deixa suas famílias,  vem aqui com boa vontade, com sorriso no rosto, com amor mesmo, a gente está aqui fazendo tudo com doação. A gente volta para casa muito mais feliz porque isso que a gente pode proporcionar para as pessoas, a gente sabe que este retorno para gente, retorno espiritual, emocional e pessoal é muito maior”, finaliza a major médica Juliana Vandesteen.

Assine O Liberal e confira mais conteúdos e colunistas. 🗞
Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Pará
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

RELACIONADAS EM PARÁ

MAIS LIDAS EM PARÁ