Caso Kellen Thaynara: após um ano, família e amigos cobram justiça e respostas
Kellen Thaynara Nascimento de Abreu, de 26 anos, desapareceu no dia 16 de dezembro de 2024 durante um passeio de lancha no Combu. O corpo dela foi encontrado no dia seguinte. Desde então, o caso permanece um mistério
Kellen Thaynara Nascimento de Abreu, de 26 anos, desapareceu no dia 16 de dezembro de 2024 durante um passeio de lancha na região da Ilha do Combu, em Belém. O corpo dela foi encontrado no dia seguinte. Na próxima terça (16/12), o caso completa um ano e será feita uma missa em homenagem à vítima na Paróquia Santo Inácio de Loyola, que fica na Rua Santa Fé, bairro Icuí-Guajará, em Ananindeua. Familiares e amigos acreditam que a morte de Kellen não tenha sido um acidente. Eles pedem respostas das autoridades, agilidade nas investigações e justiça pelo que aconteceu. Em nota, a Polícia Civil disse que a Divisão de Homicídios (DH) apura o caso sob sigilo. Ninguém foi preso.
Segundo os parentes, Kellen foi convidada por um amigo para fazer o passeio de lancha com Paulo Sérgio Bento Cardoso, dono da lancha; Brena Roberta Oliveira Silva; Stefanie Jardim Castro; Bruno Henrique (conhecido da vítima); e Herison Quaresma Passos. Por volta das 20h, a lancha parou em um restaurante na Ilha do Combu e a vítima ainda fez uma ‘live’ no Instagram mostrando o local onde estava. Ainda segundo os relatos, após encerrar a transmissão, cerca de 50 minutos depois, a jovem supostamente teria dito que iria dar um mergulho devido ao calor e não teria mais sido vista. Para amigos e familiares, essa hipótese não aconteceu.
Logo após a morte de Kellen, um vídeo circulou nas redes sociais e mostrava os ocupantes da lancha discutindo com amigos de Kellen. Durante o bate-boca, eles afirmavam não conhecer a jovem e alegavam que houve um desentendimento sobre quem a convidou para o passeio.
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Em dezembro do ano passado, o Grupo Liberal teve acesso às declarações dos ocupantes da lancha. Todos os envolvidos relataram que o passeio começou entre 16h e 17h, com saída de uma marina na avenida Bernardo Sayão, e que o grupo estava em um flutuante no momento do desaparecimento da jovem. As testemunhas relataram ainda que Kellen foi vista consumindo bebida alcoólica desde o início do evento, e outros participantes também ingeriram álcool, exceto o marinheiro e piloto da embarcação Herison. Segundo familiares, Herison se negou a fazer o exame de alcoolemia.
Na versão das testemunhas, após perceberem que a jovem não retornava, os participantes realizaram buscas por conta própria e acionaram a Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros, que iniciaram os trabalhos oficiais, mas sem sucesso durante a madrugada do dia 17 de dezembro. Os serviços foram suspensos devido à forte correnteza e retomados pela manhã. O cadáver de Kellen foi encontrado por volta das 8h30 na Baía do Guajará, próxima à Ilha das Onças.
Demora na conclusão das investigações
“Hoje o sentimento é de tristeza, por tudo que aconteceu e, principalmente também, pelo inquérito que ainda se encontra em aberto e sem previsão de ser concluído. Para a gente, enquanto família, é um descaso o que estão fazendo com a nossa dor. É um trabalho que há um ano a gente não vê sendo feito. Todas as requisições que pedimos pelo nosso advogado não foram atendidas”, contou Pedro Carvalho, amigo e tio do filho da moça.
Ele disse que existem pedidos que a PC não atendeu e que podem ajudar na elucidação do ocorrido, e são: a reprodução simulada dos fatos, a apreensão dos celulares das pessoas que estavam na embarcação e uma nova oitiva por conta das contradições no depoimento deles e o exame de alcoolemia nos ocupantes da lancha.
Carvalho acredita que as incoerências nas falas das testemunhas reforçam a ideia de que a morte de Kellen não foi um acidente. Na época em que Kellen morreu, a família dela disse à imprensa que a vítima tinha “trauma de banho de rio”. “Por a gente conhecer ela, jamais pularia no rio. Ela tinha um filho esperando-a em casa, família, irmãs. Ninguém sai de casa para morrer”, afirmou Pedro.
Pedido de justiça
Thayane Abreu, irmã de Kellen, solicitou às autoridades uma maior atenção no caso e que o inquérito seja concluído logo. “Se tem uma coisa que a gente tem certeza é que ela não pulou (no rio) naquela noite. E se pulou, foi por algum motivo. Eu sei que, para alguns, ela poderia ser só mais alguma pessoa, mas para a gente não. Ela tinha um filho que sente falta dela todos os dias e uma mãe que sofre com o que aconteceu. Temos que nos fazer de fortes para darmos apoio para eles. É uma dor que só aumenta a cada dia mais. Se tem culpados, que paguem pelo que fizeram”, destacou.
A lancha
A embarcação onde tudo ocorreu foi periciada no dia 17 de dezembro do ano passado para constatar qualquer eventual materialidade de algum crime que tenha ocorrido. Depois disso, ela foi liberada.
A artesã Elizabeth Nascimento, mãe de Kellen, e Pedro Carvalho relataram à reportagem que a lancha segue circulando normalmente e alugada para que novos passeios sejam feitos nela. “Eu soube que a lancha está sendo alugada, enquanto a perícia dela saiu mais rápido, a perícia do celular da minha filha ainda não saiu. É uma falta de respeito com a gente estarem alugando a lancha para outras pessoas, que pode vir a acontecer o que ocorreu com a minha filha”, disse ela.
'Contradições gritantes nos depoimentos', diz advogado
O advogado criminalista Marco Pina, que representa a família de Kellen, explicou que a conclusão do inquérito policial depende apenas de laudos complementares que a Polícia Científica ainda não mandou. “Há tempos fiz vários pedidos, mas o delegado, até agora, não os analisou. Penso que a investigação poderia ir muito mais a fundo. Eu mesmo apontei várias contradições gritantes nos depoimentos das pessoas que estavam na lancha e que nos levam a ter a certeza de que algo de estranho aconteceu naquela noite”, alegou.
“Existem várias hipóteses que a família trabalha, só não com a tese de que ela teria se jogado e a correnteza teria a levado. Cabe à polícia apurar devidamente o que de fato aconteceu para que a Justiça tome suas providências”, comentou. Piena falou que a família tomará providências junto à Polícia Civil e ao Ministério Público para que a investigação seja finalizada, já que o caso completará um ano sem respostas para um caso que não possui “uma complexidade tão grande”.
A Redação Integrada de O Liberal procurou a defesa dos ocupantes da lancha para se ter um posicionamento de cada um deles sobre o caso. O espaço segue aberto.
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