Língua Brasileira de Sinais (Libras) uniu casal apaixonado em Belém

A comunicação com Libras é "ponte" para a história de amor entre Lucian Aguiar, de 25 anos, surdo e professor de Libras, e Emiliane Aguiar, de 30 anos, ouvinte, tradutora e intérprete da língua

Eva Pires

No Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais (Libras), celebrado nesta quarta-feira (24), marca o aniversário da Lei nº 10.436/2002, que reconheceu a Libras como meio legal de comunicação e expressão dos surdos. E foi por meio dessa forma de interação que surgiu a relação de amor entre o casal bilíngue de Belém Lucian Aguiar, de 25 anos, surdo e professor de Libras, e Emiliane Aguiar, de 30 anos, ouvinte, tradutora e intérprete da língua. A comunicação entre eles é alternada entre o uso de Libras e leitura labial.

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Durante entrevista com a reportagem de O Liberal, Lucian se comunicou por meio da Libras e contou com a tradução de Emiliane. Ele compartilhou isso significa poder entender as pessoas, criar relações e quebrar a barreira da comunicação. "Aprendi Libras quando eu tinha quatro anos, no Instituto Felippo Smaldone”, conta Lucian. "Antes da Lei 10.436, éramos desprezados. As pessoas não davam importância para nossa língua", complementa.

Durante maior parte de sua vida acadêmica, ele contou com a presença de um intérprete. No entanto, houve um período de dois anos na escola em que ficou sem esse suporte, enfrentando dificuldades para acompanhar as aulas.

"Foi muito difícil porque o professor sempre falava virado para frente do quadro. Eu precisava avisar para ele falar de frente e era chato pedir toda hora. Quando a coordenadora dava os avisos, eu ficava sem entender e pedia para o colega me explicar", relata o professor.

"Na universidade teve um período que não teve intérprete. E nós alunos surdos tivemos que lutar para conseguir o profissional. Denunciamos, reclamamos nosso direito e na época chamamos uma equipe de jornal local para expor a situação da universidade", acrescenta.

Caminhos a percorrer para inclusão de Libras na sociedade

Segundo o professor Lucian Aguiar, pessoas surdam enfrentam dificuldades em acessar serviços públicos e privados pela escassez de intérpretes de Libras, principalmente em ambientes como hospitais, escolas e outros locais nos quais se necessita lidar com documentação, como bancos e cartórios. Esses entraves não se limitam apenas à falta de intérpretes, mas também ao desconhecimento generalizado da língua de sinais por parte das pessoas.

image Lucian Aguiar e Emiliane Aguiar interagindo por meio da Língua Brasileira de Sinais (Foto: Ivan Duarte | O Liberal)

Em relação à evolução da inclusão de Libras em diferentes áreas, o jovem opina: "A meu ver, na área da educação está evoluindo. No jornalismo e na área do esporte ainda falta melhorar. Já na área da saúde, não vejo evolução. Infelizmente têm pessoas que fazem propaganda dizendo o quanto a Libras é linda, mas não buscam aprender a língua".

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Curso de português para surdos

Lucian já trabalhou com tradução de vídeos e possui um curso onde ensina português para surdos. "Passei a observar as expressões de pessoas surdas e ouvintes e esse contato abriu minha mente, comecei a compreender como os dois mundos funcionavam. Foi então que comecei a trabalhar na área fazendo parceria com ouvintes. Eu ajudo os surdos com a minha experiência, meu aprendizado. Nem todos os surdos sabem escrever português. Eu ensino dando dicas e o passo a passo para aprender", conclui.

Trajetória de Emiliane até a profissão de intérprete

A tradutora e intérprete de Libras Emiliane Aguiar disse que o maior impacto que a Libras trouxe para a vida dela foi o relacionamento com uma pessoa surda. "Minha vida mudou completamente. Antes da faculdade eu não tinha ideia da existência do povo surdo e da sua língua. Por meio dela eu me casei e hoje trabalho ajudando a levar a comunicação de forma clara para surdos do meu ciclo e fora dele", diz.

Sua trajetória na profissão de tradutora começou de forma despretensiosa, por meio de trabalho em grupo com dois colegas surdos em sua classe de Pedagogia. "Por meio deles fui conhecendo outros surdos, incluindo o Lucian. Eu conversava com eles de forma oralizada porque era mais fácil e perguntava sobre os sinais para facilitar a comunicação, mas sem interesse em me tornar fluente. Eu não cheguei a estudar Libras para então me comunicar com eles, por meio desse contato aprendi a língua de forma natural", diz.

image Casal unido por meio da Libras (Foto: Ivan Duarte | O Liberal)

Emiliane trabalhou como atendente por quase quatro anos em um grande hospital de Belém e atendia voluntariamente pessoas surdas que contavam com a ajuda dela para a interpretação de consultas e exames.

"Esse lugar foi a minha escola, pois eu atendia pacientes surdos que sabiam Libras e português, surdos que só sabiam Libras e surdos que não sabiam nada das duas línguas e se comunicavam de forma gestual. Foi um grande desafio", relata.

Após esse período, ela pediu demissão e investiu no curso de tradutor e intérprete. "Hoje me sinto extremamente realizada profissionalmente pelo fato de ter tempo para minha família, igreja e descanso. Também porque por meio desse ato de coragem, as portas se abriram para meu marido e hoje participamos de muitos projetos juntos", declara.

Desafios e transformações na jornada com a Libras

A falta de concurso público, a baixa remuneração e o desrespeito é um dos principais desafios enfrentados pelos profissionais da área, segundo Emiliane. "As pessoas passam na nossa frente, na frente do surdo ou da câmera enquanto estamos trabalhando", conta.

Conforme a tradutora, há também uma escassez de escolas de qualidade para formação em Libras na capital paraense e muitas instituições renomadas possuem educadores que ensinam a língua sem ter a fluência necessária.

"Embora haja profissionais surdos competentes e qualificados para o ensino da língua, frequentemente perdem oportunidades para ouvintes. Se os intérpretes aprendessem com o nativo da língua, que é o surdo, teríamos mais qualidade na informação para o surdo", opina.

Libras em Belém

Em Belém, a Secretaria Municipal de Educação (Semec) tem como prioridade a política da educação inclusiva na rede municipal de ensino. A Semec afirma que, dessa forma, promove a acessibilidade comunicacional com intérprete de Libras para garantir o acompanhamento de professores e estudantes surdos em nossas unidades educacionais.

Neste ano, o Centro de Referência em Inclusão Educacional (Crie) Gabriel Lima Mendes, desenvolveu o projeto da Escola Bilíngue, tendo como polo a Escola Municipal Walter Leite Caminha, no bairro do Mangueirão, cujo objetivo é aplicar a aula de Libras no currículo escolar para todos os estudantes da escola, além de oferecer professores de Letras - Libras e língua portuguesa para surdos.

Além do projeto, desde 2021 o Crie oferece curso de Libras para todos os servidores da rede de ensino de Belém, pais e responsáveis e comunidade em geral.

Outra abordagem que garante a inclusão é a aplicação das provas adaptadas pela equipe do Programa Bilíngue e participam das paraolimpíadas Matematicando, para os estudantes da rede municipal de educação de Belém.

Eva Pires (estagiária sob supervisão de João Thiago Dias, coordenador do núcleo de Atualidade)

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