Cresce demanda por tradutor e intérprete de Libras no Pará

Intérpretes e professores têm funções diferentes e problemas comuns, como a ausência de formação, dizem profissionais 

Valéria Nascimento
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O uso da Língua Brasileira de Sinais (Libras) durante a pandemia da covid-19 chamou atenção para a importância da acessibilidade (comunicação inclusiva) e abriu espaço para tradutores/intérpretes do sistema de linguagem para a comunidade surda.

De modo simples, pode-se afirmar que o professor e o tradutor/intérprete têm funções diferentes. O intérprete é quem traduz e interpreta a língua de sinais para a língua falada na modalidade oral ou escrita. Para que isso aconteça em sala de aula, o aluno surdo deve ter conhecimento de Libras.

Em Belém, professores e também intérpretes/tradutores apontam aumento nas demandas, mas também desafios dos dois ofícios: os professores enfrentam a ausência do cargo na rede pública de educação. Já os tradutores/intérpretes criticam a falta de formação de graduação para o segmento no Pará.

Professor de Libras da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), Walber Abreu explica que para ser professor de Letras Libras é preciso ter a licenciatura em nível de graduação.

Walber cursou a graduação na própria Ufra, na capital paraense, mas tanto a Universidade do Estado do Pará (Uepa) quanto a UFPA ofertam a mesma licenciatura, no entanto, a cidade não dispõe do curso de graduação em bacharelado, responsável por formar intérpretes e tradutores.

Prolibras foi extinto e não teve substituto

Walber Abreu também trabalha como intérprete/ tradutor, e observou que esta atuação profissional dele, em Belém, é respaldada pelo Prolibras, um exame nacional de certificação de proficiência, criado de forma emergencial pelo decreto de lei 5.626, de 22 de dezembro de 2005, e que teve vigência por dez anos, e esse tempo terminou.

"O Prolibras certificava quem atuava no ensino de Libras e na tradução e interpretação, mas não tinha uma formação específica. Hoje, é o Prolibras que me respalda. Isso porque, a formação a nível de graduação, nós ainda não temos no Pará. A Ufra, a Uepa e a UFPA têm a licenciatura, mas não têm o bacharelado, exigido para a formação de interpretação e tradução em Letras Libras", destacou o professor da Ufra.

Walber explicou que Belém dispõe do cursos de bacharelado para interpretação e tradução, na modalidade de educação a distância (Ead) e por faculdades particulares, mas não em instituições de ensino superior público, como ocorre com a licenciatura.

"É importante ter fluência no sistema linguístico de libras para ser professor e intérprete e tradutor, para isso, a formação regular e específica é um ponto crucial. A gente vê no mercado profissionais que não têm o domínio da linguagem, infelizmente. Além disso, uma questão que perpassa pelo âmbito da fluência e da formação, é a questão cultural”, disse Walber referindo-se à responsabilidade social dos profissionais da área.

Ele observou que é importante ter sensibilidade do papel de facilitador que se desempenha dentro da comunidade surda. “Você está ali facilitando o acesso dessas pessoas em diversos espaços sociais. Você tem um papel importante de inclusão social e saber também das questões culturais que envolvem o seu desempenho como professor e também intérprete/tradutor”.

Falta de perspectivas de contratações 

Coordenador do curso de Licenciatura em Letras Libras da Universidade do Estado do Pará (Uepa), o professor Ozivan Perdigão Santos, observa que o mercado de trabalho para as duas profissões, em questão, cresce a cada momento, mas, a categoria se ressente de valorização na esfera pública.

A demanda é grande demais, porém as esferas governamentais ainda não dão muita atenção sobre, por exemplo, aqui no Pará ainda não há a criação do cargo de professores de Libras nas secretarias públicas estadual (Seduc) e municipal (Semec). Também não há a elaboração de cargos para concursos públicos para profissionais efetivos de Libras, professores de Libras e intérpretes de Libras, para atuarem nas escolas públicas do Estado. Eis uma das angústias dos profissionais”, ponderou Ozivan Santos.

Walber Abreu também lamentou a escassez de oportunidades até mesmo no ensino privado. “Algumas escolas adotam a disciplina de Libras. Castanhal, por exemplo, tem a disciplina de Libras na grade curricular, mas são poucos municípios que têm. E isso ocorre também em nível nacional. A gente ainda não tem a disciplina garantida na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a gente ainda não a encontra”.

"Outro ponto delicado é ausência de profissionais intérpretes de Libras nas áreas da saúde e setores relacionados à assistência social, pois o decreto 5.626/2005 além de citar a necessidade da formação de intérpretes de Libras e professores bilíngues (Libras e Língua portuguesa) na Educação, cita a importância do SUS e do SUAS  (Sistema Único de Assistência Social)  dar atenção devida às pessoas surdas que buscam serviços em locais públicos ligados a estes dois sistemas citados anteriormente”, observou o coordenador de Libras, na Uepa, Ozivan..

Faixa salarial em estados brasileiros para professor e tradutor/intérprete

A remuneração do professor de libras varia de estado para estado no Brasil. Em consulta com alguns profissionais dos estados de Pernambuco e Bahia, o salário em média para professores de Libras é em torno de R$ 3.600 para 40 horas de serviços, indo até R$ 3.800,00. No caso de Santa Catarina alcança R$ 5.000, é uma das maiores remunerações.

No Pará, o valor salarial também varia conforme a secretaria, mas, em geral, parte de um salário mínimo (atualmente, em R$ 1.320) para 20h semanais, chegando em R$ 1.760,00.

"Quanto aos intérpretes de Libras apesar de existir a Lei 12. 319/2010, que regulamenta esta profissão, a categoria ainda luta pelo reconhecimento e o respeito de sua atuação no mercado de trabalho", comentou o professor Walber Abreu.

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