Jimmy Góes lança ‘2.034’, álbum que retrata o ano em que perdeu Tonny Brasil, seu pai
Conhecido como o ‘pai do tecnobrega’, o artista é lembrado por suas composições e pela influência que ainda ecoa na cena musical paraense

Nesta segunda-feira (02/06), completa-se um ano da partida de Tonny Brasil, cantor, compositor reconhecido como o “pai do tecnobrega” e responsável por sucessos que atravessaram gerações. Doze meses depois, o seu legado continua vivo nas batidas que animam as aparelhagens ou nas criações de artistas marcados por sua trajetória. Um deles é seu filho, o músico e universitário Jimmy Góes, de 34 anos, que lançou no início deste ano o álbum instrumental “2.034”, uma obra sensível e autoral que traduz em som as dores, aprendizados e as transformações vividas em 2024, ano em que o pai. O trabalho pode ser ouvido nas plataformas digitais de música.
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Em entrevista ao Grupo Libral, Jimmy contou que as dez canções que compõem o álbum foram compostas no ano passado. “Não são necessariamente sobre o luto do meu pai, mas sobre as várias etapas difíceis que vivi no último ano”, contou.
Inspiração
Segundo ele, cada faixa leva o nome de pessoas importantes em sua vida, como “Nita”, em homenagem à avó Benedita, e “Natasha”, uma amiga de longa data, criando uma espécie de mapa emocional das experiências do artista.
"Foi a primeira vez que fiz tudo sozinho. Era um sonho antigo. Eu fui compondo e gravando o que estava na minha cabeça, como forma de expressar o que eu estava sentindo”, disse Jimmy.
Ele também explica que a escolha do nome “2.034” reflete a esperança e o distanciamento necessário para olhar para trás com maturidade. “Daqui a dez anos, quero revisitar esse trabalho e entender o que mudou, o que melhorou, o que piorou na vida", acrescentou.
Sobre o veículo com a música, o artista relembrou que vem desde a infância. Jimmy lembra com nitidez a primeira vez que viu Tonny tocar. A casa da família era sempre frequentada por músicos como Chimbinha, entre outros nomes consagrados da cena paraense.
"Eu vi meu pai compondo ‘Gererê’ na minha frente. Vi o Nelson gravando. Isso tudo me moldou”, afirmou.
Legado
Para Jimmy, o seu pai não apenas criou músicas, mas abriu caminhos. O tecnobrega, que surgiu do cruzamento entre tradição e tecnologia, nasceu também da necessidade. "Meu pai dizia que as músicas vinham inteiras na cabeça dele, mas ele precisava pagar músicos e estúdios para gravar, e isso era caro. O tecnobrega foi a forma que ele encontrou de viabilizar a própria arte”, contou.
Esse movimento não apenas abriu portas para Tonny, mas para toda uma geração de artistas, DJs e produtores, segundo pontuou o universitário. "Muita gente hoje se sustenta do que meu pai fez lá atrás. Desde a tia que vende cerveja na porta da festa até os DJs que tocam músicas com o nome deles — isso virou um mercado, um nicho. E ele estava lá, no início de tudo”, continuou.
Jimmy reconhece que, apesar da comoção após o falecimento do pai, Tonny já havia recebido homenagens em vida. "Ele foi muito reconhecido, sim. Participou de festivais, era chamado de 'pai do tecnobrega'. Claro que a morte causou comoção, mas ele teve reconhecimento ainda vivo. A diferença é que, depois que ele partiu, o impacto ficou mais evidente”, afirmou.
Para além dos palcos e das plataformas digitais, Tonny Brasil permanece presente de uma forma que transcende o tempo. "A música dele ainda ecoa nos bairros de Belém. Ainda se ouve na rua, nos carros, nas festas. Isso é muito forte", reflete o filho.
E mesmo que poucos saibam da relação entre ele e o compositor, Jimmy carrega consigo a herança emocional e artística deixada pelo pai. "Quase ninguém sabe que eu sou filho dele. Mas para mim, o importante é saber que ele influenciou tudo o que eu sou. Até o jeito como eu observo e aprendo olhando vem dele”, disse emocionado.
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