Arraial do Pavulagem abre tradição popular com três gerações brincando juntas no 1º Arrastão
Cristina, Lígia e a pequena Maria Flor contam como participar do cortejo atravessou o tempo e une a família pelas ruas da capital paraense

Neste domingo (15/06), a cidade de Belém será novamente tomada pelas cores vibrantes, sons de percussão e os passos coreografados dos brincantes do Arrastão do Pavulagem. Com concentração marcada para as 8h, em frente ao Theatro da Paz, o 1º Arrastão de 2025 dará início ao tradicional cortejo cultural que mobiliza milhares de pessoas. O trajeto segue pela avenida Presidente Vargas, passa pela Rua Municipalidade e encerra na Praça Waldemar Henrique, onde a banda Arraial do Pavulagem fará um show especial até por volta de 14h.
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O desfile do Batalhão da Estrela inicia às 10h, e a expectativa é de um público superior a 35 mil pessoas. Este ano, o grupo artístico conta com um número recorde de integrantes: mais de 1.200 brincantes estarão divididos entre dança, perna de pau e percussão.
Entre os milhares de participantes, muitas famílias inteiras se reúnem para celebrar a tradição, e algumas delas marcam presença em mais de uma geração. É o caso da artesã Cristina Igreja, 55 anos, sua filha Ligia Igreja, 26, e a neta Maria Flor, de apenas 2 anos. A tradição de participar do cortejo foi transmitida de mãe para filha, e agora, para a neta.
Cristina conta que sua relação com o Arraial começou em 2005, por influência de sua irmã. “Ela já participava do Pavulagem e me convidava sempre. Mesmo morando em outras cidades, como Bragança e Santarém, eu dava um jeito de vir pelo menos uma vez em junho para acompanhar os cortejos”, relembra.
Durante muitos anos, a artesã participou apenas como espectadora, até que decidiu ir às oficinas com a filha para poder desfilar oficialmente com brincante. “Participar ao lado da minha filha e da minha neta é uma felicidade imensa”, afirma Cristina, que participa da percussão.
Segundo ela, os instrumentos sempre estiveram presente em sua vida. “Sempre gostei do som dos curimbós e dos maracas no carimbó, mas foi no Pavulagem que me realizei de verdade. Comecei com o maracá, depois toquei caixa de marabaixo e agora estou na alfaia”, conta.
Para Ligia, técnica de enfermagem e integrante da percussão há 10 anos, o Arraial do Pavulagem é parte essencial de sua trajetória. Ela relata que sua infância foi marcada pela espera dos arrastões em Belém, já que viveu parte da juventude no interior. “Cada vez que eu vinha era mágico. E agora, viver isso com a minha filha e com a minha mãe é algo que me emociona profundamente”, declara.
Herança cultural
Ligia revela que a pequena Maria Flor já frequenta os Arrastões desde quando ainda estava em seu ventre. “Dancei grávida, toquei grávida… Ela está nesse mundo desde o início. Ainda bebê, no meu colo, já participava com a gente”, conta.
Para ela, acompanhar o encantamento da filha é algo transformador. “Ela gosta, não é algo que a gente obriga. Ela pede para ir, pergunta pelo Boi [Pavulagem], sabe cantar algumas músicas. Às vezes, no meio da casa, ela canta trechos sozinha. Isso me enche de orgulho”, diz, emocionada.
Maria Flor participa da Campina desde o ano passado, espaço voltado para as crianças no cortejo, conhecidas também como os “cavalinhos cabeçudos”. Já Ligia e a mãe, Cristina, dividem o amor pela percussão.
“Toquei no marabaixo ao lado da minha mãe e agora ela está na alfaia. A gente sempre ensaia juntas. A percussão é o nosso elo”, relata a técnica de enfermagem.
Ela lembra que iniciou tocando reco-reco, mas foi envolvida pela força da batida dos tambores. “Mesmo fazendo oficina em outras áreas, é na percussão que o meu coração bate mais forte”, complementa.
A avó, Cristina, diz que o Arraial une a família. Em casa, os instrumentos estão sempre à disposição. “De vez em quando rola uma festinha, a gente toca junto, canta. A Maria Flor já ensaia com os maraquinhas dela. É uma conexão entre gerações”, diz.
Expectativa
Um dos momentos mais emocionantes para Cristina é a entrada do boi no início do cortejo. “Quando ele surge lá no alto, em frente ao Theatro da Paz, eu não consigo conter as lágrimas. É como se ele personificasse todos os sentimentos que a gente vive no Pavulagem”, descreve.
Para a artesã, o Arraial não se explica, se vive. “Desde os ensaios até os amigos que a gente leva para vida. Isso é o Pavulagem”, afirma Cristina.
Próximos finais de semana
Com o tema "Arraial da Floresta", a edição de 2025 segue com mais três Arrastões programados: nos dias 22 e 29 de junho e 6 de julho. Para este primeiro dia, o Batalhão da Estrela contará com a participação do “Cortejo das Infâncias”.
A proposta envolve diretamente crianças com deficiência e neurodivergentes, uma parceria entre o Instituto Arraial do Pavulagem, a Superintendência da Primeira Infância da Prefeitura de Belém, o Grupo sem fins-lucrativos Mundo Azul, a Secretaria Municipal de Educação (SEMEC) e a Coordenadoria de Educação Especial da Secretaria de Estado de Educação (COESS/SEDUC).
O Arraial do Pavulagem é uma realização do Instituto Arraial do Pavulagem, com patrocínio da Equatorial Pará e da Lei Semear, por meio da Fundação Cultural do Pará (FCP). O evento também conta com apoio do Governo do Pará, Secretaria de Cultura (Secult/PA), Prefeitura de Belém, TV Liberal, Point do Açaí, Ferryboat Amazonas, Sesc Pará, Blois e Oliveira Assessoria Contábil e Concaves.
Confira os horários do cortejo:
- Concentração: a partir das 08h (na Praça da República, em frente ao Theatro da Paz);
- Roda cantada: 09h;
- Saída do cortejo: 10h;
- Chegada do cortejo: 11h (na Praça Waldemar Henrique);
- Término da programação: 14h.
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