‘A arte me salvou’: Ator Adanilo compartilha trajetória e ativismo na COP30

O premiado ator, que saiu do bairro da Compensa para as grandes produções brasileiras, compartilha suas vivências e reforça o poder da arte na construção de futuros possíveis.

Bruna Dias Merabet
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Pela primeira vez em Belém, o ator e ativista Adanilo se manteve presente nas vivências regionais no local, participando de painéis e de momentos da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 – COP30. Natural de Manaus, ele soma papéis importantes em projetos artísticos, incluindo audiovisuais premiados.
Na sua agenda em Belém, Adanilo esteve na II Mostra Pan-Amazônica de Cinema, realizada no Cine Líbero Luxardo, que reuniu produções e debates sobre o audiovisual da região.

“Eu fico sentindo, e essa sensação se aflora muito mais aqui, que a gente naturalmente está em várias frentes, são vários contextos de luta e várias formas de a gente se pronunciar. Eu, enquanto artista, acho que não me vejo criando obras que não falem da Amazônia, da periferia de Manaus, mais especificamente de um lugar onde eu tenho mais conhecimento, dos contextos indígenas que envolvem a nossa região como um todo. Aqui em Belém, tenho encontrado indígenas de diversos contextos. Isso tem sido muito interessante para a gente perceber que a luta é muito diversa, muito múltipla. Por exemplo, ao participar do painel sobre cinema amazônico, na mesma mesa estavam pessoas de diferentes contextos: tinha a Samara Borari, lá de Santarém, o Estevão Ciavatta, que produz muitas coisas com o coletivo Munduruku, da Beka Munduruku. A gente tem muitos olhares diferentes para uma mesma luta”, pontua.

O artista diz ainda que estar em Belém nesse contexto de arte e debates sociais e climáticos é uma oportunidade de agregar e ouvir essas diversas frentes: “Eu saio daqui muito reflexivo com isso tudo, em como a minha arte reflete para essa melhoria que a gente espera. O que eu consigo produzir para melhorar o contexto em que eu estou inserido? Que mundo é esse que eu quero para a minha filha? Tenho uma filha de oito anos, então acho que a preocupação é um pouco permanente nesse sentido aqui.”

Adanilo usa sua representatividade para lutar por espaços mais amplos no audiovisual e nas artes para artistas indígenas, combatendo a ideia de que os povos originários se limitam a estereótipos colonizadores. Ele destaca que acha difícil ser artista e não ser ativista, já que, naturalmente, a arte leva a pessoa por esse caminho.

“Acho a arte imprescindível! Hoje eu estava conversando com o Adriano Barroso, ator maravilhoso aqui de Belém e meu amigo. Eu estava explicando para ele algumas influências que eu vejo que Manaus tem, que têm relação direta com o audiovisual. Por exemplo, alguns bairros de Manaus carregam o nome de lugares que existiam em novelas. Tem um bairro que se chama Coroado e foi o nome de um lugar de uma obra dos anos 80. A gente usa o termo galeroso, que tem essa ideia da galera; a palavra foi muito inspirada por um filme norte-americano que se chama The Waters. A gente vê arte como influência direta no comportamento das pessoas. Acho imprescindível para formar uma sociedade; tola é a pessoa que acha que a arte é um instrumento vão, que não serve para nada. A gente tem um poder fundamental de reorganizar a sociedade”, explica.

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Toda essa valorização da arte, para além do seu profissional, vem do fato de que Adanilo foi uma pessoa salva pela arte. Aos 34 anos, o ator é nascido e criado no bairro da Compensa, na periferia de Manaus. Ele conta que até os 20 anos de idade nunca teve contato com a arte; foi nesse momento que ele viu, pela primeira vez, uma peça de teatro.

“Quando eu conheci esse universo, me maravilhei. Acho que tudo que aconteceu na minha vida foi por conta da arte, por conta do teatro. Devo muito à arte e a tudo que aconteceu na minha vida. Vejo muito o reflexo da arte assim na vida! É a primeira vez que eu estou em Belém; sempre fui muito admirador da arte belenense, principalmente da musicalidade que chega para a gente, acho tão potente, tudo tão forte assim, e vejo claramente as influências das coisas se misturando, como é que essa formação da arte amazônica se dá e como é que está tão entranhada na gente. A gente é artista nato, se formos pensar nos povos originários, que estiveram, estão e sempre estarão aqui nesse território. A arte está completamente entrelaçada: no vestir, pintar, na confecção de seus adereços. Então, acho a arte inerente ao ser humano e é muito importante, inclusive, que a gente possa valorizar cada vez mais os artistas de Belém, Manaus, Amazônia e brasileiros”, opina Adanilo.

O ator participa de grandes obras brasileiras, como atuações em filmes como Marighella, Eureka, O Último Azul, Noites Alienígenas e Oeste Outra Vez; e séries como Cidade Invisível, Dom, Segunda Chamada, Ricos de Amor 2, Um Dia Qualquer, dentre outros.

Em 2022, ele venceu como Melhor Ator no Festival Guarnicê pela atuação no filme Noites Alienígenas. No mesmo ano e com a mesma obra, recebeu Menção Honrosa no Festival de Cinema de Gramado.

O filme O Último Azul foi premiado com o Urso de Prata no Festival de Berlim em 2025. Ele também faturou o Prêmio do Júri dos Leitores de um jornal local. Ainda este ano, o filme venceu um prêmio no festival de Guadalajara International Film Festival.

As obras grandiosas fizeram Adanilo chegar à teledramaturgia em uma novela das nove. Ele atuou em Renascer e Volta por Cima.

“Eu tinha uma carreira bem encaminhada já, acho que isso fez com que eu chegasse até Renascer. Quando eu voltei para Manaus depois que a novela tinha começado, era uma loucura, é aquilo que as pessoas falam: todo mundo te reconhece na rua. Mais do que isso, infelizmente a gente tem poucos representantes do Norte, como atores e atrizes, dentro da teledramaturgia brasileira de maneira geral. Então, quando a gente tem um dos nossos, é realmente motivo de louvor, todo mundo fica muito feliz”, explica.

 

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