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Leitura na rede: escola infantil de Cotijuba incentiva interesse pelos livros de forma diferenciada

Na Escola Municipal de Educação do Campo (Emec), na ilha de Cotijuba, em Belém, essa prática pedagógica leva em consideração a rotina das comunidades ribeirinhas

Dilson Pimentel

“Ata a rede e conta ‘tória’”. A frase, dita pela pequena Débora Cristina, 2 anos, mostra o resultado prático do projeto “Redário Literário”, que começou, em novembro de 2022, na Escola Municipal de Educação do Campo (Emec) Cotijuba, ilha que fica nos arredores de Belém.

Essa prática pedagógica consiste no uso de redes, um acessório presente nas casas dos ribeirinhos, para incentivar o hábito da leitura nas crianças.

A pequena Débora pede à mãe, a doméstica Regiane Nunes Cardoso, 29 anos, para atar a rede e contar uma história para ela. O projeto saiu da escola e foi adaptado na casa de Regiane, que tem outro filho, João Guilherme, que também estuda naquela unidade de educação infantil e participa do projeto.

“Eu vou contar a história em pé. E ela (a filha Débora) diz: ‘não, mãe, senta pra contar tória’”, disse Regiane. Em sua casa, ela fez um cantinho de leitura. Para tanto, comprou duas redes.

Inspirada na realidade vivenciada nas áreas de campos, águas e florestas, a Prefeitura de Belém, por meio da Semec, adotou no ano passado essa prática pedagógica, que promove a interação entre a comunidade escolar e a família, viajando pelo mundo mágico e encantado da leitura e da escrita. E, assim, surgiu o Redário Literário, implantado na Emec Cotijuba.

A inspiração do projeto veio das imagens que circularam nas redes sociais e foram feitas em uma escola em Juruti, oeste do Pará. “Com a viralização dessa imagem, a nossa escola se sentiu entusiasmada em fazer um espaço que valorizasse o nosso cotidiano ribeirinho. E, aí, a gente teve essa ideia de construir, no espaço de varanda da escola, o projeto do Redário Literário”, disse a diretora da Emec Cotijuba, Marina Muniz.

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Mas, antes, já era desenvolvido na escola o projeto de leitura batizado de “Baú das Histórias”, para valorizar a leitura. “E esse espaço do redário era para otimizar o incentivo à leitura das nossas crianças”, disse. Esse momento nas redes é diário. E os resultados já são perceptíveis. “A gente consegue perceber o quanto as crianças se sentem íntimas da leitura, de folhear livros. A gente sente que eles estão mais atentos à escuta e ao manuseio do livro”, contou.

image Os filhos de Regiane gostaram tanto da ideia de ler em redes que ela levou o projeto para a casa dela. Antes do “Redário Literário”, o filho dela, João Guilherme, 4 anos, ficava muito tempo no celular e na televisão (Igor Mota/O Liberal)

"Desde pequeno é que nós formamos esses leitores”, diz professora

Professora do Jardim II, Roselilde Barbosa lembrou que tudo começou com o “Baú das Histórias”, cujo tema era “Navegando em rios literários na formação de pequenos leitores”. “...Nós percebemos que tínhamos que adaptar também esse espaço para ser a parte assim como eles vivem aqui. Nós vivemos numa comunidade ribeirinha e geralmente eles dormem nas redes, têm esse costume”, contou.

“Então nós pensamos em adaptar. Eu escrevi o projeto para que viesse incentivar essas crianças realmente a serem futuros leitores, mas de forma prazerosa. Vocês sabem que nós temos essa dificuldade em formar leitores. E desde de pequeno é que nós formamos esses leitores. Então nós pegamos e adaptamos o local”, disse.

A ideia é aumentar o número de redes. Atualmente, são seis. E, a cada momento, em torno de 28 crianças participam dessa atividade. Como não há redes para todas, as demais ficam em mesinhas onde há livros e no tapete. “Todos querem ficar na rede. Mas aí nós fazemos rodízios. E geralmente contamos histórias e eles começam a fazer as perguntas”, disse Roselilde.

“Apesar da gente não saber ler, eles já começam a contar através da figura. Então, isso faz com que eles, em casa, já tenham essa iniciativa porque nós temos a sacola literária do Redário Literário. Toda sexta-feira eles levam essa sacola literária”, contou a professora. “E aí, quando chega na segunda-feira, nós perguntamos o que foi que eles aprenderam a leitura. A mamãe e o papai são incentivados a ler com eles. É uma forma de fazer com que eles tenham essa prática em casa”, afirmou.

image O pequeno Pedro, de cinco anos, disse que gosta de ler na rede: “Eu gosto porque sou muito inteligente” (Igor Mota/O Liberal)

Menino de 4 anos saiu da rede social para a rede real de leitura

As mães aprovaram o projeto. Dona Regiane disse que, antes do “Redário Literário”, o filho dela, João Guilherme, 4 anos, ficava muito no celular e na televisão. “Com o projeto, ele se adaptou a ler mais. Fomos comprando livros pra ele, compramos a rede. No celular, às vezes, as crianças veem coisas que não é pra ver. E na leitura tem coisas boas”, disse.

“Gostei da ideia do projeto. Espero que amplie mais para dar mais crianças na rede. Para meus filhos, foi ótimo. Tive que comprar duas redes para contar histórias para eles também”, afirmou.

A doméstica Thaís Cristina Nascimento, 28, é mãe de Beatriz Eloá, 2 anos. “É uma boa iniciativa. A minha bebê tá com dois anos, ela tá começando a falar agora. É um projeto muito bom. Gostei muito”, disse. Aline Matos Andrade, 29 anos, é merendeira e estudante de Pedagogia e mãe do João Henrique, 4 anos.

Ela disse que o projeto é importante para despertar nas crianças o desejo da leitura. “Para que elas possam conhecer as letras do alfabeto e venham a ter esse desejo pela leitura desde pequenininha”, afirmou, acrescentando que o projeto pensou nas características da realidade da comunidade ribeirinha. “Pensou no conforto deles também”, completou.

O pequeno Pedro Gabriel, de apenas cinco anos, disse que gosta de ler na rede. “Eu gosto porque sou muito inteligente”, disse ele, folheando um livro sobre cultura indígena. A Emec Cotijuba atende 161 crianças, de um ano e onze meses até cinco anos e onze meses, do berçário ao Jardim II. A escola fica na ilha de Cotijuba, a, aproximadamente, 45 minutos de Belém, em viagem de barco.

 

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