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'Grito dos Excluídos' reuniu manifestantes e religiosos na avenida Nazaré

Manifestação tradicional do Sete de Setembro pede políticas públicas mais amplas para a população pobre e, neste ano, traz oposição ao presidente Jair Bolsonaro

Eduardo Laviano

Sob o mote “comida, emprego e vacina”, o ato Grito dos Excluídos iniciou a concentração às 8h da manhã na Avenida Nazaré, na altura da Quintino Bocaiúva, em Belém. A manifestação foi convocada em resposta aos atos chamados pelo presidente Jair Bolsonaro neste 7 de Setembro e que ocorriam também em Belém, organizada por apoiadores do presidente. 

O ato encerrou por volta de 11h20, na Praça do Operário. Segundo o tenente Sodré, da Polícia Militar, o Grito dos Excluídos contou com mil pessoas, enquanto a organização do evento estimou dois mil participantes.

Apesar de ter sido endossado pela Central Única dos Trabalhadores e diversas entidades sindicais, o início do protesto foi marcado pela participação de diversos líderes religiosos, com orações e leituras de passagens da Bíblia.

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Católicos, evangélicos, espíritas e umbandistas falaram a microfone ao longo de 40 minutos antes da caminhada rumo a Praça do Operário, em São Brás, que iniciou por volta de 9h40.

image Padre levou cartaz com Papa Francisco para ato na avenida Nazaré (Eduardo Laviano/O Liberal)

O padre salesiano Antônio Stefani chamou atenção ao chegar na avenida Nazaré com um cartaz antiarmamentista que estampava a foto do Papa Francisco. Segundo ele, o presidente Jair Bolsonaro tem promovido violência, quando deveria administrar o Brasil e ajudar o povo. “Um homem que invés de buscar resolver os problemas da nossa população tão sofrida só quer desunir o povo e não unir certamente não faz bem para o Brasil. Ele só irá levar nosso povo a escravidão”.

Já o líder espírita Paulo Rabelo, que discursou durante o ato ecumênico que abriu a manifestação, lembrou que Jesus Cristo não é apenas uma figura religiosa, mas também uma mensagem e uma visão de mundo.

Para ele, a manifestação representa os princípios cristãos de fraternidade e solidariedade. “Aí não interessa se você é ateu, judeu, se professa qualquer religião. Não importa o nome que eu dê para isso. Jesus, Maomé, Buda, Krishna. O que importa é que todos nós estamos unidos para vibrar o amor, pois é o amor que vai dissipar essa nuvem de ódio e intolerância”, afirmou ele, antes de iniciar uma oração.

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A caminhada rumo ao bairro de São Brás seguiu de maneira pacífica, entoada por bandas, música e palavras de ordem. Houve, porém, um momento de silêncio: a passagem em frente ao hospital Ophir Loyola, sob ordens do organizadores do protesto, para não incomodar os pacientes com o barulho. No entanto, alguns profissionais da saúde receberam aplausos ao observarem o ato pelas janelas.

Lui Braga é estudante e tem 15 anos. Ele foi ao ato acompanhado da mãe e se sente privilegiado por isso. Para ele, o clima de guerra que os assuntos do política instauraram no Brasil, com incentivo do presidente da república, dividiu muitas famílias. 

"Conheço pessoas que tem o mesmo posicionamento que eu mas que não possuem apoio da família e não podem vir para cá. Tenho muita sorte de ter uma família que me apoia. Sinto que é necessário a gente vir porque ninguém aguenta mais esse sofrimento que já tá há muito tempo, muita gente passando fome, muita gente morrendo, muito desemprego. Sinto que a população precisa reagir", afirma. 

Inflação, pandemia e democracia

Com pautas tão diversas, o aspecto visual da manifestação e dos participantes era bastante eclético. Se nos protestos a favor do presidente tudo parecia um grande mar amarelo, verde e com bandeiras do Brasil, o Grito dos Excluídos era vermelho, roxo, branco, preto e laranja, inclusive nas bandeiras. 

Tinha de tudo um pouco: protesto contra os preços do gás e da energia elétrica, defensores da Amazônia, representantes de partidos de esquerda e até gente tentando faturar uma renda extra. 

image Grito dos Excluídos contou diversas bandeiras e pautas na manhã desta terça-feira (Tarso Sarraf/O Liberal)

Naelson Pantoja é motorista e participou do Grito dos Excluídos ao lado dos amigos do Movimento de Atingidos por Barragens, do qual ele é membro. Vendo tantas bandeiras e movimentos diferentes na avenida Nazaré, ele afirma que o maior medo dele é que a esquerda não se una totalmente e permita uma nova vitória de Bolsonaro na eleição presidencial, em 2022. 

"Estamos reivindicando esses altos preços predatórios, a questão da energia, da moradia, a vida de todos aqueles atingidos por barragens e que carecem de bens essenciais que estão escassos no Brasil atual. Somos a resistência. Se a gente abandonar a luta nesse momento, talvez nem exista mais o Brasil que estamos acostumados", afirma.

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Crystian Jatene tem 21 anos e é estudante de cinema. Ele optou por vestir uma camisa do Clube do Remo (e ele não era o único) na manhã desta terça-feira (7).

A escolha segundo ele, é pelo fato do Remo ser um "clube do povo" e é também um aceno ao Crystian adolescente, que precisou se afastar do futebol por ser bissexual e não se sentir confortável no ambiente LGBTfóbico do esporte.

image Crystian Jatene levou no peito o escudo do Clube do Remo, que ele diz sentir orgulho em vestir já que o clube tem abraçado causas com as quais ele compactua (Crystian Jatene/O Liberal)

Ele se sente preocupado com os rumos do Brasil e com as constantes ameaças às instituições democráticas proferidas por Bolsonaro e apoiadores do presidente. 

"É um cenário muito complicado de dissolver nos próximos 20, 30 anos. O radicalismo surge nessas horas, nos momentos de crise. Muita gente do outro lado acha que está defendendo uma coisa sem saber em profundidade os impactos e consequências daquilo. É um governo que desde o momento que entrou no poder começou a retirar todos os nossos direitos e aí a gente começou uma pandemia que a gente não contava. uma parte por birra e uma parte por projeto ideológico, deixou de salvar milhões de vida, incluindo pessoas próximas a mim, então não posso me furtar de participar de qualquer ato contra", desabafa.

Josy Monteiro também perdeu pessoas próximas para a covid-19. Ela avalia a condução da crise sanitária por parte do governo federal como uma tragédia.

Ela é artesã e aproveitou a manifestação para vender as plaquinhas bem humoradas que confeccionou no dia anterior, todas contra o presidente Bolsonaro. Uma plaquinha custava R$3 e duas, R$5.

"Perdi pessoas que eu amava e parentes queridos. É difícil de acreditar em tudo que aconteceu. Estou aqui pedindo justiça também. Foi um desastre total. Todo mundo tem direito ao voto livre, mas foi um governo ruim. Não foi o pior que já teve, mas é um momento muito difícil. Não é só as vítimas da pandemia. Olha a economia como está. A gente tem tanta esperança, né? Todo governo que entra traz uma esperança. Mas infelizmente, a esperança não se concretizou em coisas boas para o Brasil", disse ela, enrolada na bandeira do Brasil, que segundo ela pertence a todos, independente de opiniões políticas. 

image Plaquinhas de Josy misturavam palavras de ordem e memes da internet (Eduardo Laviano/O Liberal)

Educação

A pauta de reivindicações que recaía nos colos do governo federal era ampla durante o Grito dos Excluídos - a educação era uma delas, já que os cortes previstos no orçamento de 2021 foram de 4,2 bilhões de reais, além de mais 1 bilhão de reais cortados no orçamento das universidade federais.

William Mota é coordenador de comunicação do Sindicato dos Técnicos Administrativos das Instituições Federais do Pará 

"Estamos enfrentando muitos ataques nas universidades federais. O corte de verbas que tem ocorrido no orçamento do Ministério da Educação é um deles. As universidades estão passando por dificuldades financeiros e também a questão da democracia. Já houve 27 intervenções do Bolsonaro nas universidades federais do país, nomeando reitores que não foram eleitos, como foi o caso da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra)", diz, se referindo às consultas populares aos quais as comunidades acadêmicas são submetidas para ajuda nas escolha dos dirigentes das instituições federais de ensino.

image Ato do Grito dos Excluídos deste ano vai unir vários grupos ligados à defesa dos Direitos Humanos e em oposição ao atual governo federal (Eduardo Laviano / O Liberal)

Beto Andrade, é professor e coordenador do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação Pública do Pará. Para ele, o descaso com a educação e falta de apoio para as instituições de ensino são apenas um reflexo do despreparo do governo federal para administrar o Brasil.

"Nesse dia da independência brasileira, a gente comemora a perspectiva de direitos, uma nação soberana. E é impossível falar sobre nação soberana sem democracia, sem que o povo possa ter alimento em sua mesa, sem que a gente combata essa fantasma da inflação, que vem engolindo os salários. A luta hoje é mais do que fora ou não Bolsonaro, porque o provo precisa de direitos e um governo que se coloca contra isso não merece estar na cadeira que comanda o país", afirma.

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