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A arte-terapia na linha de frente de tratamentos psicológicos

Expressões como a pintura, dança e música ajudam pessoas como Rodrigo Silva, morador do bairro do Júlia Seffer que descobriu na arte mais do que seu tratamento.

Igor Wilson

A cada pincelada, um sentimento colocado para fora de seu mundo. Rodrigo Silva quase não faz pausas. Quando começa, vai até o final. Em seu ateliê, pinturas e pirogravuras em madeira estão espalhadas, mas cada uma em seu devido lugar. O morador do bairro Júlia Seffer cumpre essa rotina desde 2014, ano em que começou a pintar para conseguir se comunicar com o mundo. Na época, foi sua terapeuta quem sugeriu que fizesse arte. “Desde então pinto quase todo dia”, diz o artista de 41 anos. 

Geralmente, Rodrigo escolhe o tema de sua pintura um dia antes. Folheando revistas, livros e jornais ou vendo algo na televisão. Na maioria das vezes, são as coisas ligadas à Amazônia que mais prendem sua atenção. Elas são como sentimentos para Rodrigo. São animais, plantas, indígenas, rios. Muitas palmeiras, mas não qualquer uma. “Eu pinto sempre o buritizeiro, é daqui e é mais bonito”, diz Rodrigo, explicando outros quadros. “Aquela é uma urna Kunanin, um achado arqueológico de uma civilização indígena”; “Aquela da noite quando pintei não estava legal”, segue falando.  

A evolução de Rodrigo com a pintura foi como uma recarga de esperança e alegria para seu pai, seu “melhor amigo”. Pascoal Silva, um homem que sempre esteve próximo a arte, passou a enxergar novas formas do filho, quase sempre silencioso, expressar seus sentimentos. Aquilo era um grande passo na evolução de Rodrigo, mas seu Pascoal achou que poderia arriscar um próximo. Ele queria que seu filho utilizasse suas novas habilidades de comunicação para interagir mais, conhecer pessoas, fazer amigos. Foi então que procurou o Centro Cultural Rosa Luxemburgo.  

“Como terapia principal foi ótimo, a melhor. Além de ajudar no tratamento dele, é um meio de comunicação dele com o mundo, com a gente. Rodrigo não gosta muito de aglomeração, mas se dá bem com todos aqui do centro, superando muitas dificuldades de antes”, diz Pascoal. 

Próximo de sua casa, o espaço representou mais um passo no tratamento de Rodrigo, como seu pai havia pensado. Bastante querido pelos jovens que frequentam as atividades do centro, o artista chega sempre com sua mala preta, onde estão suas ferramentas de trabalho. São pinceis, tintas, máquinas para pirogravura, telas. Com ajuda de seu pai, organiza seu espaço de trabalho e não perde tempo, dando logo as primeiras pinceladas. Sempre no silêncio, concentrado. Quem chega sempre lhe cumprimenta carinhosamente.  

“A pintura melhorou mais o meu convívio com as pessoas e também com a sociedade, me dá acesso a gente exterior”, diz Rodrigo. 

image Legenda (Ivan Duarte/O Liberal)

ARTE-TERAPIA  

Eletrochoque, banho gelado, lobotomia. Esses são alguns dos vários métodos que a medicina brasileira oferecia, na maioria das vezes, a pacientes com os mais diversos níveis de transtornos mentais até metade do século passado. Foi a partir de métodos desenvolvidos pelo psiquiatra suiço Carl Jung, criador da psicologia analítica, que pesquisadores como Osório César e Nise da Silveira começaram a introduzir a arte-terapia como recurso terapêutico de pacientes. Eles acreditavam que o artista consegue mostrar informações sobre seu inconsciente através de sua arte e que isso facilitaria o diagnóstico e tratamento. 

“A arte-terapia hoje é uma profissão regulamentada, que busca, através da arte, utilizar dos seus recursos e estratégias de uma forma terapêutica. Na arte-terapia a gente perpassa por vários tipos de linguagem para compreender o paciente. A pintura, a tecelagem, a escultura, a música, a dança, todas são formas de linguagem, expressão do ser humano, que são utilizadas como recurso nos processos terapêuticos”, explica Camila Alencar, terapeuta ocupacional do Espaço Terapêutico Moiras. 

Assim como para Rodrigo SIlva, a arte funciona como guia para a comunicação com o mundo exterior. E também, como o próprio artista diz, para a integração com a sociedade. Diagnosticado com o transtorno do espectro da esquizofrenia em 2014, foi a descoberta da pintura que fez Rodrigo se interessar e ingressar no curso de Artes Visuais numa faculdade local. Pesquisador, diz gostar mais das técnicas do cubismo, movimento artístico que revolucionou o mundo das artes com nomes como Picasso e Georges Braque. 

De acordo com dados do Ministério da Saúde publicados em 2021, cerca de dois milhões de brasileiros vivem com esquizofrenia. A condição, que afeta 21 milhões de pessoas em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, é um dos distúrbios mais desafiadores para a ciência, desconhecendo-se, inclusive, as causas. A esquizofrenia é tratada, primordialmente, de forma medicamentosa, com o uso de antipsicóticos. A arte-terapia funciona como ferramenta para melhorar a qualidade de vida do paciente. Para Rodrigo, que hoje até vende alguns de seus quadros, representa bem mais. 

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