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Criação e desenvolvimento de games têm se popularizado no Pará

Mercado ainda não está tão avançado quanto o nacional, mas, com um cenário mais favorável, há estímulo na contratação de profissionais e criação de projetos de jogos localmente

Elisa Vaz
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O mercado de games já existe no Brasil há algumas décadas. Se antes boa parte dos jogos que fazem parte da rotina local era consumida de outros países, no entanto, agora há uma tendência cada vez mais favorável para o surgimento de jogos desenvolvidos nacionalmente – até no Norte do país. De acordo com relatório da External Development Summit, o Brasil tem o maior mercado de games da América Latina e é um dos principais personagens mundiais no desenvolvimento de jogos.

Isso tem ocorrido a partir dos avanços proporcionados pela tecnologia, que criaram uma demanda para a criação de jogos e, com isso, incentivam a geração de emprego e renda neste segmento dentro do país. Até 2026, a expectativa é de que a receita do setor em território nacional seja duplicada, como aponta o relatório sobre entretenimento e mídia da PwC 2022-2026, chegando a US$ 316 milhões.

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Segundo o especialista em games Elinaldo Azevedo, a pandemia acelerou o crescimento da área de tecnologia em todo o mundo, inclusive do mercado de jogos. “O consumo de games entre os anos de 2020 e 2022 variou entre 72% e 74%, de acordo com o site Pesquisa Game Brasil. Com isso, houve um estímulo na contratação de profissionais e criação de projetos de games, e o advento dos óculos de realidade virtual criou um aumento nas aplicações de entretenimento digital”, ressalta.

No caso do Pará, uma série de avanços ainda é necessária e muito precisa melhorar no lançamento de projetos, mas já percebe-se uma alta nas produções de games, de forma individual ou coletiva, de acordo com Elinaldo, que é graduado em ciência da computação, especializado em gerenciamento de projetos de software e mestrando em computação aplicada, com experiência em ciência da computação, desenvolvimento web, engenharia de software e desenvolvimento de jogos.

A experiência do profissional com games iniciou ainda nos anos 1980, época que ele considera “o início de uma jornada”, já que o interesse foi crescendo. Hoje, ele vê um leque de oportunidades para quem quer atuar profissionalmente nesse segmento, desde criar jogos para plataformas já conhecidas, como Steam e Google Play, até novos segmentos de plataformas que estão surgindo, a exemplo de Oculus Quest para realidade virtual.

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Outro profissional do segmento é Italo Freitas, hoje diretor executivo da Ludus Studio, empresa que desenvolve vários tipos de soluções envolvendo realidade aumentada, realidade virtual, simuladores industriais, jogos educativos e agora tem a produção de um jogo autoral para promover a cultura amazônica. Sua experiência com games começou aos 15 anos de idade, mas ele começou a trabalhar com jogos no ano de 2015.

Na opinião de Italo, o cenário paraense de desenvolvimento de jogos ainda é pouco avançado. “Sem dúvida, nos últimos anos, a tecnologia se tornou um pivô de inovação que fez nascer diversas novas profissões. É importante estar sempre antenado com as novidades - por exemplo, o campo de inteligência artificial, a cada dia, tem apresentado novas soluções que vão facilitar bastante a vida das pessoas, permitindo que um trabalho de dias seja feito em horas. O avanço das tecnologias de games permitiu que não só o entretenimento, mas inúmeras outras indústrias, como a de saúde, construção civil e educação, utilizem essas possibilidades”, ressalta.

Mercado

Com o surgimento dessas tecnologias, cria-se também a necessidade de que profissionais se qualifiquem para atender às novas demandas. Dentre as funções mais destacadas pelo especialista em games Elinaldo Azevedo está a de programador. “Podemos ver as várias ramificações, como programação de engines, Unity 3D e Unreal; programadores de inteligência artificial, para criar os comportamentos dos inimigos no jogo; e programadores multiplayer, para desenvolver a estrutura de rede de comunicação e segurança entre os jogadores”, explica.

image Especialista em games, Elinaldo Azevedo diz que existe um leque de oportunidades para quem quer atuar profissionalmente no segmento. (Filipe Bispo / O Liberal)

Outras atuações que também têm ganhado destaque são as de artistas gráficos, tanto 2D quanto 3D, e as de artistas de som. “Na área de games, é muito raro ter um artista que trabalhe exclusivamente com games. Geralmente, eles vêm da publicidade ou de estúdios de produção musical. Então, quando entram, percebem que precisam aprender mais sobre sincronia, dublagem e efeitos sonoros, itens essenciais para um jogo de qualidade”, ressalta o especialista. Elinaldo ainda cita as áreas de design de games, de produtores e de analistas de qualidade.

Independente de qual curso escolher, o profissional que quer seguir na área de games deve focar em adquirir experiência e alcançar conhecimentos por meio dos estudos. “Ter um curso de graduação pode não ser um diferencial se você não tiver um bom portfólio. Mas, o conhecimento técnico é sempre bem-vindo na hora da entrevista”, orienta. Segundo o especialista em games, o candidato à vaga deve investir seu tempo de estudos, dependendo da área de desenvolvimento, em cursos especializados e certificações.

Já o diretor executivo da Ludus Studio, Italo Freitas, diz que as principais funções de destaque hoje são de programador, artista 3D e engenheiro de som. “Existe um mito em volta da função de game designer – muitas pessoas entram na área sem compreender bem a função em si. Antes, é preciso ter um bom conhecimento dessas três funções citadas para ter habilidade comunicativa com as diversas áreas que envolvem a produção de jogos”, indica ele.

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Como o segmento envolve comunicação e colaboração, é indicado que os profissionais desenvolvam habilidades sociais e sejam capazes de dialogar e ouvir pontos de vista contrários. Para se destacar, segundo Italo, é preciso se aprimorar em programação, que é a área mais requisitada, e buscar sempre entregar além do que apenas a solução do problema, analisando o contexto da situação.

“Sobre especializações, é sempre bom ter, mas, no momento, a forma mais comum de se adquirir habilidades práticas é por meio do aprendizado empírico, ou seja, criando pequenos projetos de jogos simples e compartilhando. Além de servir de portfólio, também funciona para adquirir bastante conhecimento. Game jams são eventos colaborativos ótimos para adquirir experiência e montar equipes, porém, é recomendado já ter desenvolvido algum tipo de habilidade para poder participar”, orienta.

Experiência

Com o objetivo de divulgar a cultura amazônica, um grupo de alunos do curso de bacharelado em design da Universidade do Estado do Pará (Uepa) desenvolveu um jogo para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), em fevereiro deste ano. O game, chamado “Lá vem ela”, é de ação e se passa em Belém. Nele, o personagem precisa fugir da chuva, tradicional nas tardes da capital, evitando tropeçar em obstáculos, como as mangas. É necessário atingir o máximo de pontos em um curto espaço de tempo; caso não consiga atingir o objetivo em três tentativas, a chuva alcança o personagem.

Recém-formada em design, Rayara Lins, de 24 anos, que fez parte da criação e desenvolvimento do projeto, conta que sempre gostou de jogos e já teve contato com vários games de ação e aventura na infância. A ideia partiu de outro membro do grupo, Davi Gemaque - ele deu a sugestão de criar um jogo regional sobre a chuva de Belém, e a dupla foi formada para facilitar o trabalho, já que o prazo para conclusão foi de um ano. Além deles, a equipe é formada também pelos estudantes Ana Letícia Maia no game design, também assinado por Davi e Rayara; Calilo Kizan na programação; e Eric Monteiro na produção musical; além da professora Brena Renata na orientação.

image Estudantes da Uepa criaram jogo "Lá vem ela", que leva para a interface virtual parte da realidade de Belém. (Filipe Bispo / O Liberal)

Rayara explica que não existe uma matéria específica de jogos na faculdade de design, apenas disciplinas correlacionadas, como interface e comunicação visual, ambas utilizadas na hora da criação. O principal objetivo do jogo era levar para a interface virtual parte da realidade de Belém, por isso os personagens são parecidos com figuras da vida real, como um estudante, um trabalhador e um fã do estilo musical k-pop. Além disso, o cenário também tem características locais, como o trajeto pela principal via da capital, a Nazaré, por onde passa o Círio, e as mangueiras, animais na rua e até buracos nas calçadas.

“A maior importância é que conseguimos atingir o que nos propusemos a fazer, que era criar um jogo com características que gerassem identificação com o público daqui, mas que pessoas de fora tivessem um contato até lúdico com o que conhecemos. Pessoas de outros Estados e até de Portugal entraram em contato para baixar o jogo. É gratificante ver que atingiu tanta gente”, comemora Rayara. Embora o jogo ainda esteja na fase “beta”, que é mais simples, o grupo já tem tentado disponibilizar o game em lojas virtuais para celulares. Agora a versão será a alfa, com mais funções e cenários.

Futuramente, a ideia é criar outros projetos de jogos, com a mesma equipe do TCC. Rayara diz que espera fazer disso uma profissão e que pretende cursar uma especialização, sem descartar sair de Belém para isso, mas priorizando cursos online.

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