Queda de samaumeira inspira lançamento de animação sensível sobre infância e paisagem urbana
Dirigida por Andrei Miralha e Guaracy Britto Jr., animação será lançada na Casa da Linguagem com entrada gratuita e roda de conversa com os idealizadores
O que era perda virou poesia: a queda de uma parte da samaumeira no Centro de Nazaré, em Belém, e, posteriormente, a decisão de cortá-la pela raiz devido ao risco de novo desabamento, em 2023, comoveu os moradores. Anos depois, inspirou a criação do curta-metragem de animação “Umassuma – Lascas de Memórias”. Dirigido por Andrei Miralha e Guaracy Britto Jr., o filme ganha estreia na próxima quarta-feira (25/06), às 18h30, na Casa da Linguagem, com entrada gratuita. Após a exibição, haverá uma roda de conversa com os idealizadores. O projeto tem produção de Iluminuras Estúdio de Animação.
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Na trama, um homem mantém, desde a infância, uma relação profunda com as árvores. Ele as desenha, nomeia e tem como amigas. Entre todas, a samaumeira chamada “Umassuma” ocupa um lugar especial. Quando ela desaparece, ele mergulha em um fluxo de lembranças que transita entre infância, perda e imaginação. A narrativa propõe uma reflexão sobre a conexão entre humanos e natureza, trazendo à tona temas como memória afetiva e o verde urbano que compõem o cotidiano.
Segundo o artista visual, animador e um dos diretores do curta, Andrei Miralha, o ponto de partida do filme foi a comoção em torno da queda da samaumeira anos atrás, na capital paraense. “A gente viu vários depoimentos em blogs, matérias de jornal que falavam sobre essa árvore e a relação das pessoas com ela. Achamos isso muito inspirador para fazer um curta-metragem. Pensamos em criar um personagem que pudesse traduzir toda essa comoção a partir de uma relação pessoal com a árvore”, contou.
Na época, durante dias, moradores da região recolheram fragmentos do vegetal como relíquias, alguns escreveram crônicas sobre o que houve. Andrei destacou ainda, que por trás do projeto, sempre existiu o desejo de promover uma reflexão sobre as memórias que carregamos em relação às árvores e à natureza próxima.
“Todo mundo tem alguma lembrança de uma árvore do quintal de casa, da rua. Árvores que davam sombra, que as pessoas subiam para brincar. Acho que o filme pode tocar as pessoas nesse sentido de resgatar a memória afetiva de cada um”, completou.
Guaracy Britto Jr., roteirista e também diretor do curta, explica que a ideia original surgiu a partir de um conto de sua autoria sobre um menino que encontra uma árvore mágica em uma ilha de Belém.
Ele conta que como escritor voltado ao público infantojuvenil, foi especial ver sua narrativa ganhar forma em um curta animado pela primeira vez. “Eu sempre quis fazer um curta de animação. Quando o Andrei me chamou, lembrei desse conto. Adaptamos a história para a cidade e transformamos num roteiro em que o protagonista é um homem que tem uma ligação com a samaumeira desde a infância”, relatou.
Guaracy reforça que o curta também é uma forma de incentivar o cuidado com o verde urbano. “A gente espera que o filme sensibilize as pessoas para a importância das árvores na cidade. Como faz falta uma sombra, uma árvore para pendurar um balanço, pegar fruta, ver ninho de passarinho. O verde contribui para uma vida mais saudável”, afirmou.
“A queda da samaumeira foi mais do que um acidente. Ela representava um tempo, uma memória coletiva. O filme é uma forma de lidar com esse luto através da arte”, complementou Guaracy.
A exibição do curta marca o início do percurso do filme, que será inscrito em mostras e festivais nacionais e internacionais. Os idealizadores acreditam que a mensagem da obra pode alcançar o público em diferentes lugares. “Falamos não só da floresta, mas da natureza urbana que está aqui conosco e que merece mais atenção, mais cuidado e respeito”, pontua Andrei.
Emoção além das telas
“Umassuma” é uma animação feita quadro a quadro em ambiente digital, com estética artesanal. A trilha sonora original é assinada por André Moura, que une os silêncios do filme com sons que evocam tempo, espaço e introspecção. A supervisão de animação é de Thaly Chrys, que também assina algumas cenas animadas.
Raquel Rabelo, uma das animadoras que participou da construção visual do projeto, relembrou o impacto emocional de trabalhar na cena em que a vida do protagonista passa diante dos olhos do público, desde o casamento até a velhice. “Eu só pensava que precisava passar toda a ternura, todo o carinho, toda a doçura, mas também a amargura presente na passagem do tempo”, contou.
Para ela, o desafio foi transmitir as emoções apenas com expressões faciais e movimentos corporais. “Como minha cena não tem falas, os gestos e poses dos personagens precisavam dizer tudo”, disse a animadora.
Durante a produção, Raquel revela que chegou a se emocionar com as cenas. “Na última parte, quando ele tira uma selfie sozinho e não mais com a família, eu chorei. Não queria que ele se sentisse só”, compartilhou.
Quem não puder conferir a estreia do curta na quarta-feira, terá uma nova oportunidade de assistir à animação na próxima sexta-feira, 27 de junho, às 10h. A exibição faz parte da programação de inauguração da Sala de Cinema da Estação Cultural da Secult, localizada no distrito de Icoaraci, em Belém.
AGENDE-SE!
Sessão de estreia de ‘Umassuma’ e bate-papo com os idealizadores
- Dia: quarta-feira, 25 de junho;
- Local: No auditório da Casa da Linguagem - Av. Nazaré;
- Horário: às 18h30;
- Entrada gratuita.
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