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Projeto transforma a atenção à gestantes na ilha do Combu

A iniciativa promove escuta, vínculo e acolhimento, fortalecendo o combate à mortalidade materna

O Liberal
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No coração verde da Ilha do Combu, onde a cidade de Belém se dissolve em água doce, mata fechada e caminhos que se desenham entre igarapés, um projeto floresce como semente de cuidado, afeto e compromisso com a vida. É o projeto Casulo da Ilha, que garante direitos reprodutivos, cuidado integral e acolhimento humanizado às mulheres ribeirinhas gestantes. Cerca de 45 gestantes já foram acolhidas desde a criação do Casulo.

A iniciativa da da Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), desenvolvida na Unidade Básica de Saúde (UBS) da Ilha do Combu, ganha ainda mais significado neste 28 de maio, Dia Nacional de Luta pela Redução da Mortalidade Materna. Em um cenário onde a distância geográfica frequentemente se traduz em exclusão e invisibilidade, o Casulo surge como abrigo, ponte e território de pertencimento. É ali, entre floresta e rio, que a saúde pública se faz presente com escuta, presença e vínculo.

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Quando o cuidado navega pelas águas

Nos dias de encontro do projeto Casulo da Ilha, o cuidado começa antes mesmo da chegada à unidade de saúde. Ele navega pelos igarapés, conduzido pelas mãos firmes e afetuosas das Agentes Comunitárias de Saúde (ACSs) — Jorgete, Graciete e Rosiete.

Em pequenas embarcações, elas percorrem caminhos invisíveis no asfalto, mas essenciais para garantir o acesso à saúde no território ribeirinho. Mais do que transporte, o trajeto é um ato de compromisso com a vida. É um gesto que reconhece as distâncias e obstáculos impostos pela geografia e os transforma em pontes de afeto e cidadania.

“Muitas mulheres não têm como chegar até a UBS. São as agentes que vão, que acompanham, que conhecem cada rosto, cada história. Sem elas, muitas gestantes simplesmente não conseguiriam participar”, explica Tatiane Saraiva, gerente da UBS da Ilha do Combu e uma das idealizadoras do projeto.

“Sem elas, a gente nem conseguiria vir”, conta Suzane Vitória, 21, grávida de 8 meses do pequeno Noah Gabriel. “Elas vão em casa, ajudam com o que a gente precisa, e estão sempre atentas. Aqui a gente se sente vista.”

Mais que pré-natal: um espaço de pertencimento

O Casulo não é apenas lugar de cuidado médico — é um ventre coletivo. 

“Já fazíamos um bom pré-natal, mas as gestantes não se viam como grupo. Faltava o elo, a troca, o se reconhecer na outra. Hoje temos mulheres de 15 a 43 anos trocando medos e aprendizados. Isso é poderoso”, relata Tatiane.

A cada quinze dias, as rodas de conversa oferecem espaço para trocas e escuta sobre direitos das gestantes, parto humanizado, papel das doulas, urgências, exames e planejamento reprodutivo. Com a presença de uma doula, o grupo também recebe amparo emocional e orientações sobre o pós-parto.

O projeto ainda promove atividades como cinema, ginástica laboral e práticas de relaxamento, contribuindo para o preparo físico e emocional das gestantes. O uso do DIU no pós-parto — como alternativa segura às laqueaduras — é um dos temas que reforça a autonomia das mulheres em relação aos seus corpos e escolhas.

Vozes que testemunham o cuidado

No silêncio que por vezes acompanha a gestação, a escuta pode ser a diferença entre o medo e a confiança. Railanna Magalhães, grávida de cinco meses da pequena Ísis, encontrou no Casulo da Ilha mais do que um grupo — encontrou acolhimento. “Eu me sentia muito sozinha. Aqui me sinto segura, acolhida. Até o corpo entende que pode descansar”, diz ela, com a serenidade de quem passou a caminhar amparada.

Ela não está só. Assim como Railanna, outras mulheres encontram no projeto um espaço onde suas histórias ganham voz e afeto. Aos 43 anos, Denise Silva vive a reta final da gestação com o coração mais leve — e grato. “É como se aqui a gente tivesse permissão pra sonhar, pra confiar. Hoje foi a celebração da despedida da barriga do meu Ravi e foi pura emoção. Fui ouvida, abraçada, respeitada.”

Essas falas, carregadas de verdade e emoção, são mais do que depoimentos: são testemunhos vivos de que o cuidado integral transforma a experiência da gestação. Quando a atenção primária é feita com humanidade, ela salva vidas antes mesmo que elas nasçam. “A gente aprende que o medo não é loucura, que o corpo muda, que a gente está criando uma vida — e que isso transforma tudo”, reflete Geiza Conceição, professora e grávida de cinco meses, com os olhos cheios de futuro.

Compromisso com a vida: política pública com rosto humano

Ao ampliar o cuidado para além do pré-natal tradicional, o Casulo da Ilha fortalece o cuidado básico de saúde, aquele que começa perto de casa, no posto de saúde do bairro, na escuta atenta de quem conhece cada família pelo nome.

É nesse cuidado do dia a dia que muitos riscos são evitados, que dúvidas são esclarecidas, que a saúde da mãe e do bebê começa a ser protegida desde o início.

Com cerca de 45 gestantes acolhidas desde sua criação, o projeto mostra que reduzir a mortalidade materna não é apenas uma meta de gestão — é um compromisso com a vida, construído no encontro entre profissionais de saúde e mulheres que precisam ser vistas, ouvidas e respeitadas.

Para fortalecer essa luta, a Prefeitura de Belém, por meio da Sesma, promoveu nesta semana o 1º Fórum de Combate à Mortalidade Materna, um marco na construção de políticas públicas voltadas ao cuidado integral das gestantes.

Hoje, 756 gestantes realizam acompanhamento pré-natal nas unidades de saúde da capital. Cada uma representa um futuro possível, e cada cuidado oferecido é uma vida que segue em frente.

O casulo que vira asa

O Projeto Casulo da Ilha é abrigo, mas também voo. As gestantes saem fortalecidas, mais seguras de seus corpos, de seus direitos e de seus caminhos. Levam consigo laços criados entre mulheres, saberes compartilhados e uma rede de apoio que floresce, mesmo depois do parto. “A gente sai daqui diferente. Com os olhos mais abertos, com mais coragem, com mais carinho por nós mesmas. Eu espero que outras grávidas também tenham isso”, resume Railanna.

Porque quando nasce uma criança, nasce também uma nova mulher — e com ela, um futuro inteiro a ser cuidado.

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