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No Dia de Finados, confira como três religiões encaram o luto

Especialistas explicam a importância do ritual de despedida para as diferentes culturas

Emanuele Correa

Estudos apontam que a morte de pessoas estimadas precisam ser refletidas, para que todas as fases do luto sejam vividas. As diferentes culturas e crenças religiosas ritualizam essa passagem da matéria e do que se acredita ser espiritual, confortando aqueles que ficam. Cristianismo, Budismo, Espiritismo e as religiões de matriz africana; todas têm ritos únicos para compreender esse momento que pode ser de dor, de memória, de saudade e de reflexão.

Denise Machado Cardoso, antropóloga, explica como as diferentes culturas religiosas enfrentam a questão do luto e esclarece que esse lamentar pela perda, diz muito sobre o ser humano, que chora diante da frustração de não ter mais a quem se ama. "As homenagens se fazem necessárias, pois é fundamental que a vida de quem partiu seja celebrada em diferentes narrativas, contribuindo no processo de separação que o luto exige - um desmembrar-se do outro para que o outro siga em paz, e fiquemos em paz", afirma.

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Desde cedo várias pessoas já se concentravam para entrar na maior necrópole municipal da capital

Negação, raiva, barganha, depressão e aceitação, são as cinco fases do luto, segundo explica a psicóloga Nathalia Otero, que ressalta que são essenciais para que o indivíduo retorne às atividades normais. "Ao lidar com cada etapa, é necessário ter compaixão e paciência consigo mesmo até para entender e aceitar que faz parte do processo de aceitação. Manter o controle emocional e fechar ciclos de maneira mais saudável possível. Há necessidade também de entender e respeitar as crenças do indivíduo enlutados, que muita das vezes são limitantes e acabam tornando esse processo mais vagaroso e sofrido. As consequências de não vivenciar todas as etapas, pode acarretar em sobrecarga emocional e pode apresentar também patologias futuras, como depressão, ansiedade ou transtornos mentais", esclarece Nathalia.

Espiritismo - espírito deixa a matéria e volta para o lar espiritual

Para a doutrina espírita Kardecista, não há rituais como em muitas religiões. No entanto, quando ocorre a morte de alguém, este é um momento de oração, de pedir auxílio aos espíritos mais evoluídos, para que o desercarnado seja amparado, assim como os entes queridos. O espírito deixa o corpo com a morte da matéria e vai para a vida espiritual conforme a sua sintonia, como explica José Muniz de Souza, dirigente e fundador da Associação Espírita Luz de Cáritas. "Sobre os rituais, são todos dispensáveis, pois realçam a vaidade, apenas. Só a oração sincera ajuda", pontua.

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O cemitério é um local de depósito dos restos mortais e merece todo respeito, diz Muniz, que reforça que no Dia de Finados, as pessoas que desejam homenagear seus mortos podem ir. "O Espírito fica feliz porque lembraram, mas essa cerimônia não precisa ser no cemitério. Pode ser em qualquer lugar onde se reúnam os entes queridos com lembranças amorosas e orações em favor do ente que já se foi. O mais importante é orar e pedir que seja dócil e obediente às leis de Deus. Que não reclame de nada, faça o bem, perdoe a todos e até aos inimigos", explica.

Jessica Bezerra Gabriel, espírita há 30 anos reforça que estar nesse mundo é uma passagem e a morte do corpo físico é parte do ciclo da nossa evolução. "Reencarnamos várias vezes até completar nosso ciclo evolutivo. É lógico, todos sofremos, mas devemos concentrar nos aspectos positivos, pois os laços de afeto não se desfazem com morte do corpo físico e que essa separação é algo temporário. Acreditamos que a pessoa desencarnada se beneficia com a nossa gratidão pelo que aprendemos com ela, pelas boas lembranças, pelas nossas orações, por nos ver superando o acontecimento", comenta.

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A administração das duas necrópoles estimou um público de mil pessoas para o dia de hoje.

Judaísmo - a morte é a passagem para outro nível de existência 

No Judaísmo, a morte é compreendida como passagem e o luto é um período de introspecção. Aos seguidores do Judaísmo, no processo de sepultamento e vivência do luto, há rituais que precisam ser cumpridos. Inclusive, há um cemitério separado de outras religiões e povos, para que as suas tradições ritualísticas possam ser preservadas. O sepultamento é feito por meio de ritual onde todos devem participar. O corpo deve ser sepultado, não cremado. Primeiro é feita a purificação do falecido, indicando assim como veio puro a este mundo, deverá retornar. No enterro o corpo cumpre a máxima "do pó vieste e ao pó voltarás". Os parentes e amigos mais próximos não são considerados enlutados e consolam os enlutados.

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Cada pessoa é um fragmento finito do Eterno de atributos infinitos, portanto volta-se para o mundo da existência infinita, afirma o rabino Moysés Elmescany, que nasceu no judaísmo e já passou pelo luto da morte dos pais e foi no ritual que encontrou conforto. "Fiquei de luto por meus pais e essa ritualística trouxe conforto espiritual pra mim e pude lidar melhor com o sentimento de perda e assim perceber que todos estamos numa viagem, cada um com seu ponto de partida e de chegada. Devemos portanto sorrir e viver intensamente cada um sua própria história. A razão dos cemitérios separados é pra preservar a ritualística do sepultamento. O luto mais intenso são os primeiros sete dias, após o enterro e são praticados por todos os enlutados que são os: filhos, irmãos, marido ou esposa e pai e mãe quando da morte de um filho. A 'Keriá' é o momento da dor do luto quando acontece o falecimento", explica.

Umbanda - passagem e o ritual envolve banhos de ervas

Nas várias religiões de matriz africana, os rituais de sepultamento variam entre cada terreiro (espaços de culto). Há uma relação de purificação do corpo que será enterrado, como explica Gabriela Luz, professora e multiartista. Ela é umbandista da Nação de Mina Vodum. Há cinco anos vive a religiosidade e há dois anos faz parte de uma casa e é filha de Santo. "A umbanda tem relação com a doutrina espirita, assim como católica, principalmente fundamentos afrodiaspórico da Mina do Maranhão, da Turquia e também da pajelança. Esse entendimento é importante, porque quando falece um filho de Santo ele tem corpo banhado - óbvio depois de formol -  e limpo com um banho de ervas, é vestido de branco, as suas guias - contas que formam um colar - que representam as entidades desse médium são arrebentadas dentro do caixão dele, que é colocado apenas só flores brancas", observa as professora.

De acordo com Gabriela, todos os filhos da nação trajam branco e o terreiro fica um mês sem tambor. "Há defumação do terreiro e a defumação na casa da família, se sua família autorizar. Há a doação dos objetos, o que fica espiritualmente falando a mãe mãe-de-santo decide o que faz religiosamente, agora as outras precisam ser despachadas mesmo, como pedras e outros fundamentos. No momento de passagem, esses objetos podem ser doados é o ideal. Tudo isso para que o material desses espíritos se dissipe ele possa descansar, viver o processo dele devolução para outro plano. A gente precisa purificar esses laços, transformar algo leve o suficiente para que ele faça uma boa passagem. Por isso a gente reza na hora do sepultamento, a gente canta canta para os orixás para as entidades do médium, para ele fazer uma passagem tranquila e o mais cheia de axé possível", conclui.

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