Após quase um ano, caso da mãe obrigada a ter bebê na calçada de hospital ainda não tem conclusões

Caso ocorreu há um ano, no Hospital da Ordem Terceira, em Belém. Investigações ainda não foram concluídas

Dilson Pimentel
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Quase um ano após uma mãe sofrer trabalho de parto na calçada do Hospital da Ordem Terceira, em Belém, sem que o atendimento inicial tivesse sido dado, ainda não se sabe o desfecho das apurações, que continuam em andamento. Esse fato ocorreu em 17 de novembro de 2019. À época, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) informou que havia mandado apurar o caso e anunciou que medidas poderiam ser tomadas, frente ao contrato do município com a instituição particular de saúde, que mantém atendimento público pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

O caso voltou a ser lembrado essa semana, após o mesmo estabelecimento de saúde admitir, nesta terça-feira (20), que um bebê sofreu uma fratura num procedimento em um parto de risco, neste domingo (18).

No episódio de novembro de 2019, a mãe e a criança depois foram atendidas pelo próprio hospital e liberadas, após passarem bem, confirmou, naquela ocasião, a Sesma. A 3ª promotora de Justiça de Direitos Constitucionais Fundamentais e dos Direitos Humanos de Belém, Fabia Melo Fournier, iniciou a apuração dos fatos ocorridos no caso. O Conselho Regional de Medicina do Pará (CRM-PA) também inicou apuração. 

A redação integrada de O Liberal entrou em contato essa semana com a Sesma, CRM-PA e Ministério Público para saber o desfecho das apurações. Reveja imagens do parto:

 

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Processo administrativo ainda não acabou na Sesma


Sobre o bebê que nasceu na calçada, em novembro de 2019, a Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) informou esta terça-feira (20) que já finalizou a auditoria e segue com o processo administrativo, “respeitada a ampla defesa e o contraditório, para adotar as medidas necessárias e legais de acordo com os termos previstos no convênio”.

Ainda segundo a Sesma, o Hospital da Ordem Terceira atende de forma complementar ao SUS e regular com a Sesma.

A Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) informou que já finalizou a auditoria e segue com o processo administrativo, “respeitada a ampla defesa e o contraditório, para adotar as medidas necessárias e legais de acordo com os termos previstos no convênio”

CRM diz que apuração 'segue sob sigilo'


O Conselho Regional de Medicina do Pará (CRM-PA) explicou que todas as denúncias que chegam ao conhecimento do CRM através da mídia são apuradas de ofício, até formalização de denúncia, caso ocorra.

Mas ressalvou  que a tramitação desses procedimentos “corre em sigilo, de acordo com o artigo 1º, do Código de Processo Ético Profissional Médico”.

O Conselho Regional de Medicina do Pará diz que todas as denúncias que chegam ao conhecimento do CRM através da mídia são apuradas de ofício, até formalização de denúncia, caso ocorra, e que a tramitação desses procedimentos “corre em sigilo, de acordo com o artigo 1º, do Código de Processo Ético Profissional Médico”

image Momento em que jovem que deu à luz na calçada é atendida pelo hospital (reprodução)

Prazos do TAC não foram cumpridos por causa da pandemia


E sobre o Termo de Ajuste de Conduta firmado com o Hospital da Ordem Terceira, a promotora de Justiça Fábia Melo-Fournier (responsável pelo TAC), do Ministério Público do Estado, explicou que alguns dos prazos estipulados no TAC não foram cumpridos devido à pandemia de coronavírus.

“No momento, tanto o hospital (que recebeu casos de pessoas com covid-19), quanto o MPPA (que está fiscalizando a ações das secretarias municipais e estadual de saúde) estão focados no combate à pandemia de coronavírus. Entretanto, um ofício será encaminhado para o hospital para que seja ajustado um novo cronograma para cumprimento do TAC”, acrescentou o MPPA, por meio de sua Assessoria de Comunicação.

“No momento, tanto o hospital (que recebeu casos de pessoas com covid-19), quanto o MPPA (que está fiscalizando a ações das secretarias municipais e estadual de saúde) estão focados no combate à pandemia de coronavírus. Entretanto, um ofício será encaminhado para a Ordem Terceira para que seja ajustado um novo cronograma para cumprimento do TAC”, disse MPPA

'Gritei, mas não adiantou. Ninguém veio ajudar'


O caso da jovem que teve o bebê na calçada do Hospital Ordem Terceira ganhou notoriedade após um vídeo circular nas redes sociais no domingo, 17 de novembro de 2019. O vídeo mostrava uma jovem mulher desmaiada na calçada, momentos após dar a luz, e o recém-nascido chorando no chão. A cena foi filmada em frente ao Hospital da Ordem Terceira. Nos registros, testemunhas dizem que o hospital teria se negado a prestar
atendimento.

"Isso é omissão de socorro", diz o autor das imagens. "Os funcionários se recusaram a abrir a porta para mulher ter filho, e ela está tendo o filho aqui na calçada." No vídeo é possível escutar vozes criticando o fato de ninguém ajudar a mulher e o recém-nascido, embora ninguém se prontifique a socorrê-los. "São pessoas desumanas filmando o bebê no chão. Ninguém pegou um lençol para enrolar a criança. Preferem filmar a desgraça dos outros", diz o texto que acompanha o vídeo nas redes sociais.

"Não havia nenhum médico", relatou Dona Ana  Lúcia, avó da jovem que teve o bebê e acompanhava o pedido de atendimento. "Quando nós viemos, eu saí gritando.... mas não adiantou. Eles só vieram depois que ela já tinha tido a criança. Acho que foi quase uma hora deitada no chão esperando. Nínguém aparaceu para ajudar. Só depois".

Quando a família anunciou, à porta do estabelecimento, que a jovem estava em trabalho de parto, a reação teria sido nenhuma, disse Dona Ana Lúcia. "Eles não falaram nadinha. Só que não iriam atender e que não tinham leito nem médico". Essa informação teria sido dada por um vigilante.

image Família da gestante: ninguém atendeu mesmo com gritos à porta (Igor Mota / O Liberal)

"Não havia nenhum médico", relatou Dona Ana Lúcia, avó. "Eu saí gritando.... mas não adiantou. Só vieram depois que ela já tinha tido a criança. Acho que foi quase uma hora deitada no chão esperando. Nínguém aparaceu para ajudar. Só depois. Eles não falaram nadinha. Só que não iriam atender e que não tinham leito nem médico. Foi um vigilante"

Nenhuma pessoa da equipe médica foi atender a gestante, denunciou a família. "Eu fiquei desesperada. Viemos para esse hospital porque era mais perto", contou a avó do bebê, confirmando que a outra opção era a Santa Casa de Misericórdia - mas a família do Jurunas optou pelo acesso mais ágil a atendimento, frente às dores do trabalho de parto.  

A mãe da criança que nasceu na calçada tinha 21 anos e também morava no Jurunas. O bebê era seu terceiro filho.

Pré-natal e promessa de apuração


Segundo confirmou a Sesma depois do ocorrido, a gestante fez todo seu pré-natal em uma unidade pública de saúde. A Secretaria Municipal de Saúde também disse que essa seria "a primeira vez que algo do gênero acontece durante o contrato da secretaria municipal com o Hospital da Ordem Terceira".   

O então secretário municipal de saúde, Sérgio de Amorim, confirmou à época que o hospital tinha contrato com o município para prestar atendimento pelo SUS. "Em nome do Prefeito de Belém e da secretaria [de saúde], viemos aqui garantir assistência à mãe e à criança", disse o secretário municipal de saúde Sérgio Amorim à porta do hospital, na ocasião.

"O parto não estava marcado. Segundo a família, a mãe havia marcado um atendimento para o dia 21, para um médico que não é prestador de serviços nosso, e ela entrou em trabalho de parto de sábado para domingo, quando se dirigiu para cá e aconteceu lamentavelmente o que todos já sabem", disse Amorim.

"Nós estamos apurando o que ocorreu. Já determinei apuração para que possamos saber o que foi que aconteceu", detalhou à época o secretário municipal de saúde quando anunciou, à porta do Hospital da Ordem Terceira,  a apuração, até hoje ainda não concluída. "O hospital é privado e presta serviço à população pelo SUS. Nós temos um contrato. Dependendo do que realmente ocorreu, a secretaria irá tomar providências".

"Nós estamos apurando o que ocorreu. Já determinei apuração para que possamos saber o que foi que aconteceu", detalhou à época o secretário municipal de saúde quando anunciou, à porta do Hospital da Ordem Terceira,  a apuração, até hoje ainda não concluída. "Nós temos um contrato. Dependendo do que realmente ocorreu, a secretaria irá tomar providências"

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