Farinha faz bem? Entenda mais sobre o alimento da cultura do Pará e veja como fazer caribé
Diferente da farinha lactea, da farinha de trigo, farinha de amendoas e farinha de arroz, a farinha de mandioca tem propriedades específicas que entraram na tradição do Pará
Nem só de pupunha com café vive o paraense, mas também da farinha nossa de cada dia. Considerada o acompanhamento tradicional da alimentação de quem mora no Pará, produtor número um do país no ranking do IBGE - de acordo com a Fiepa (Federação das Indústrias do Estado do Pará) -, a farinha é item básico na mesa e nas feiras da cidade, fonte de satisfação e de renda para quem consome e para quem vende o produto.
Ranking de produção de farinha no Brasil |
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- 1º Pará (20,95%) - 2º Paraná (19,08) - 3º São Paulo (8,26)
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Quem se beneficia da iguaria das duas formas é Davi Furtado Buriti, de 81 anos de idade, vendedor de farinha na feira do Ver-o-Peso, em Belém, há 56 anos. Davi conta que aprecia o alimento de diversas formas: “Tudo que tu pensar eu como com farinha: banana, manga, melancia, uxi, pudim, leite condensado, manteiga…”.
Em sua barraca, na feira, o produto era variado: farinha branca, amarela, grossa, média, fina, com preços entre R$ 5 e R$ 8: “A farinha varia de acordo com as suas qualidades, como a carne, que tem filé, alcatra, costela, mas tudo é carne. Assim é a farinha”.
Pela experiência de Davi, o que faz a diferença entre os tipos de farinha é o tratamento na produção. A farinha lavada costuma ser mais clara, outras tem uma torra mais demorada, chegando mais crocante até o consumidor final. Outras, entretanto, demoram menos tempo no processo e ficam mais macias.
De forma geral, Davi avalia que existe farinha para todos os gostos e utilidades, vindas de vários lugares do estado. Segundo o último levantamento do IBGE, o município de Acará foi o maior produtor de farinha do estado, com 299.148 toneladas do produto produzidas em 2020. Já Bragança, apesar de carregar a fama da farinha de mesmo nome, quase ficou de fora do ranking, na décima colocação, com 180.000 toneladas de farinha produzida no mesmo ano.
“Com a propaganda que fizeram da farinha de Bragança, ela ganhou uma fama. Mas, na realidade, a farinha de Bragança tem uma boa e tem uma ruim. Mas tem farinhas de outros lugares que são boas também, como de Acará, Castanhal, Bujaru, minha terra, e outras”, conta Davi.
Ranking de cidades produtoras de farinha no Pará |
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- 1º Acará 299.148t - 2º Óbidos 240.000t - 3º Oriximiná 180.000t
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Além de diversa, a farinha também é versátil, usada em variadas combinações e receitas. Davi explica que, para fazer o caribé, mingau de tradição amazônica ao qual é atribuído, inclusive, propriedades curativas, o ideal é usar a farinha de cuí: “É a mesma farinha, mas ela é coada e fica assim, fina. Essa a gente chama de farinha de cuí”.
Quem é adepto ao mingau e se considera verdadeiro papa-chibé é Benedito Silva, de 66 anos, freguês de Davi, na feira do Ver-o-Peso: “Eu fui criado com mingau de farinha. Eu como todo dia, com açaí, com peixe, com fruta, como pupunha, uxi, castanha, na comida de modo geral”.
O mesmo gosto é compartilhado pela empreendedora Rosa Lima, para quem a famosa farinha e Bragança foi a escolha de hoje: “A vendedora disse que é farinha de Bragança, que é torradinha, gostosa e não estufa o estômago. Por isso, eu gosto dessa. Eu sou paraense daquelas que gosta até de mingau da farinha, eu como com tudo!”.
Apesar da grande liberdade de consumo que a farinha proporciona, como qualquer outro alimento, ela tem características positivas e negativas, do ponto de vista nutricional, conforme explica a nutricionista e membro da Sociedade Brasileira de Medicina da Obesidade (SBemo), Débora Melo:
“A farinha possui carboidrato, vitamina B6, magnésio, cálcio e potássio. Ela funciona como uma boa fonte energética e uma opção para dietas sem glúten. Mas pessoas que fazem restrição de carboidrato, como diabéticos, não são aconselhadas a consumir por causa do alto índice glicêmico”, orienta.
A médica explica que não existe uma indicação de consumo correto, mas os paraenses que estão acostumados a comer farinha em todas as refeições precisam tomar cuidado com algumas combinações: “A farinha com outro carboidrato, como o arroz, acaba tornando o prato mais calórico”.
Para evitar o consumo excessivo de calorias, a nutricionista orienta que haja moderação e, no caso de crianças, que ela não seja a principal fonte energética da dieta: “A farinha pode ser consumida em todas as idades, porém, ela tem menos vitaminas e minerais do que outros alimentos importantes na fase infantil”.
Como fazer Caribé
Ingredientes do caribé
- 300ml de água
- 100g de farinha coada (de cuí)
Modo de fazer caribé
- Colocar 300ml de água para ferver;
- Deixar a farinha de cuí de molho em pouca água por aproximadamente 10 min;
- Após esse tempo, escorrer a água da farinha e adicioná-la a água em fervura;
- Mexer por cinco minutos em fervura.
- Opcionais a gosto: açúcar, leite, sal.
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