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Estado apura caso de jovem autista que teve 17 dentes extraídos sem autorização da família

O caso resultou no afastamento imediato do profissional envolvido e na abertura de uma investigação para apurar responsabilidade

Gabriel Pires e Bruna Lima
fonte

O Governo do Pará vai investigar a denúncia de que uma jovem de 19 anos com autismo teve 17 dentes extraídos sem autorização da família durante um atendimento no Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação (CIIR), em Belém. O caso, considerado grave pelo governador Helder Barbalho, resultou no afastamento imediato do cirurgião-dentista envolvido e motivou a abertura de uma investigação administrativa e policial. Várias autoridades se manifestaram repudiando o ocorrido. O Conselho Regional de Odontologia do Pará (CRO-PA) informou que está à disposição para, também, investigar o caso.

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O episódio foi considerado “muito grave” pelo governador Helder Barbalho. “É muito grave a denúncia de que uma jovem com autismo severo teve dentes extraídos sem autorização da família em um equipamento público do Estado. Já determinei imediato afastamento do profissional envolvido e abertura de uma investigação para esclarecer o caso e punir todos os responsáveis. A prioridade agora é prestar todo apoio à jovem e à sua família”, escreveu o governador nas redes sociais nesta terça-feira (17). O caso ocorreu na segunda (16).

Por nota, a Secretaria de Estado da Saúde do Pará (Sespa) informou que “lamenta o ocorrido e informa que o profissional que realizou o procedimento foi imediatamente afastado das funções e um processo administrativo foi instaurado para esclarecer o caso e punir todos os responsáveis. A Secretaria vai prestar todo apoio necessário à jovem e à sua família”.

Já a Polícia Civil afirmou que “foi instaurado inquérito policial na Delegacia de Proteção à Pessoa com Deficiência. A família foi acolhida na noite de ontem (16) e as primeiras diligências já foram realizadas, como requisições de perícias e intimação de envolvidos”.

Conselho de Odontologia se manifesta

O Conselho Regional de Odontologia do Pará (CRO-PA) também se manifestou, informando que tomou conhecimento da situação e está à disposição para colaborar com as investigações. “De acordo com a atribuição legal do Conselho, de fiscalizar o exercício da Odontologia com ética, nos colocamos à disposição da sociedade para apurar denúncias contra profissionais cirurgiões-dentistas, que precisam ser acompanhadas de documentos que possam ensejar abertura de processo ético”, diz o comunicado da entidade.

Autoridades cobram justiça 

Além do governador, outras autoridades também se manifestaram sobre o caso. O deputado estadual Zeca Pirão (MDB-PA), presidente da Comissão de Ética da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa), declarou que não iria se calar diante da violência sofrida pela jovem. "(...) A extração de 17 dentes, sem qualquer autorização ou conhecimento da família, é uma agressão inaceitável que ultrapassa todos os limites da ética, da humanidade e do cuidado que deve nortear qualquer atendimento em saúde”, escreveu em uma publicação nas redes sociais.

O deputado federal Delegado Éder Mauro (PL-PA) também se pronunciou e classificou o caso como crime. “Uma jovem autista severa e não verbal entrou no CIIR, um centro público de reabilitação, para uma limpeza dentária. Saiu com 17 dentes arrancados. Sem autorização. Sem explicação. A equipe disse que 'é normal'. Não. Isso não é normal. É crime”, afirmou no post.

A deputada federal Alessandra Haber (MDB-PA) disse que o caso precisa ser acompanhado com responsabilidade, sem exploração política. “Isso é crime. Não podemos normalizar”, declarou. 

“Vamos acompanhar de perto a investigação e fazer o que deve ser feito em situações como essa: não politizar, não usar o sofrimento das pessoas pra ganhar manchete e, sim, reconhecer a pronta resposta em afastar os envolvidos e criticar o que tem que ser criticado pra melhorar o atendimento das pessoas, que ao final, é o que importa”,  complementou a deputada.

O deputado estadual Bordalo também se pronunciou e pede investigação rigorosa. “Antes de tudo, quero expressar minha profunda solidariedade à jovem de 19 anos, pessoa com deficiência, não verbal e diagnosticada com autismo severo (nível 3), que foi submetida à extração de 13 dentes em um único procedimento, sem a devida autorização expressa de seus familiares”, diz o deputado.

Na manhã desta terça-feira (17), ele usou a tribuna da Assembleia Legislativa do Estado para denunciar publicamente essa grave violação de direitos humanos cometida contra essa jovem e sua família.

“Solicitei, com urgência, que o governo do Pará, por meio da Secretaria de Segurança Pública e da Delegacia de Proteção à Pessoa com Deficiência, assim como o Ministério Público, a Defensoria Pública, o Conselho Regional de Odontologia e a OAB-PA, promovam uma apuração rigorosa sobre os fatos ocorridos no Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação (CIIR)”, pontua o deputado.

Ele destaca ainda que esse tipo de violência institucional contra pessoas com deficiência é inaceitável e precisa ser enfrentado com firmeza. “Estamos vigilantes e ao lado da família, exigindo justiça e respeito à dignidade humana”, reforça Bordalo. 

Confira outras manifestações:

Família quer justiça 

Izabel Machado, mãe de uma jovem com autismo, denuncia que a filha teve 17 dentes extraídos por um cirurgião-dentista durante um atendimento no Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação (CIIR), na última segunda-feira (16). Segundo ela, o procedimento deveria ser de rotina, mas foi surpreendida ao ser informada pelo próprio profissional sobre a remoção dos dentes.

A família registrou boletim de ocorrência e a jovem já passou por perícia no Instituto Médico Legal (IML).

“Ela deu entrada às 9h e só saiu do consultório às 13h. Eu já estava muito assustada com tanta demora. Em nenhum momento pediram autorização para arrancar qualquer dente da minha filha. O objetivo era fazer uma limpeza e, caso fosse necessário, uma restauração ou outro procedimento, eles fariam. Mas a extração exige autorização da família, e isso não aconteceu”, afirma Izabel, indignada.

A mãe relata que, ao chegar ao local, foi informada de que não poderia acompanhar o atendimento dentro do consultório. “Fiquei bem na porta, porque minha filha nunca fica sozinha. Mas eles demoraram muito. Só abriram a porta por volta das 13h”, recorda.

Izabel conta que, ao questionar o dentista se estava tudo certo, recebeu a resposta: “Arranquei 17 dentes da sua filha”. Ela afirma que entrou em desespero e cobrou explicações sobre a ausência de autorização.

A denúncia foi registrada na Delegacia de Proteção à Pessoa com Deficiência. A família agora aguarda a inclusão do prontuário médico do CIIR na investigação. “Até o momento, ninguém do CIIR entrou em contato para prestar qualquer tipo de apoio. Depois do meu escândalo, o dentista ainda tentou me fazer assinar alguns papéis, mas eu disse que não assinaria nada. Agora vou esperar o resultado da perícia e a investigação da polícia. Quero justiça”, finaliza a mãe.

A irmã da jovem, Izabella Martins, 27, usou as redes sociais para falar da indignação e atrocidade ocorrida com a irmã. “Essa aqui é a Juliana, uma autista de 19 anos. Linda, meiga, minha única irmã que foi vítima de uma negligência médica e até CRIMINOSA no Ciir. Lugar onde ela fazia tratamento odontológico há anos”.

Ela completou que a irmã entrou no bloco cirúrgico para fazer o procedimento de limpeza e restauração dos dentes. E quando saiu, saiu sem os dentes da boca. “Crueldade? Negligência? Não. Segundo a diretora, da equipe odontológica, era “normal” aquele procedimento. Que já haviam feito diversas vezes em outras crianças e adolescentes TEA e que a Juliana não havia sido a primeira”, completou a jovem.

Ainda no relato de Izabella, o dentista ficou de cabeça baixa o tempo todo. A diretoria do CIIR só sabia dizer que iriam ajudar a família, “mas não quiseram nem deixar bater foto ou nos dar o prontuário. Não quiseram nos deixar ver a quantidade de dentes que haviam sido extraídos. Não nos deram suporte de NADA. Eu pedia explicações do porque haviam feito isso e só sabiam dizer que o dentista viu, durante a cirurgia, que seria necessário arrancar”, conta a jovem em desespero.

O profissional não pediu autorização. “Ele não comunicou a minha mãe que estava do lado de fora aguardando, falando com o auxiliar o tempo todo que não relatou NADA sobre extração pra ela. Minha irmã saiu traumatizada. Uma família inteira traumatizada. Minha irmã está banguela, aos 19 anos. Com um dano irreversível e uma dor que jamais vai ser esquecida”, completa a jovem.

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