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Dia do Feirante: conheça boas histórias de trabalhadores que fazem parte das feiras de Belém

Apaixonados pela profissão, eles dizem que, com o tempo, os clientes se transformam em amigos e confidentes

Dilson Pimentel

Celebrado nesta segunda-feira (25), o Dia do Feirante é uma oportunidade de valorizar profissionais que mantêm viva a tradição das feiras de Belém, unindo trabalho, família e relacionamento com clientes. Entre aromas, cores e produtos frescos, os feirantes compartilham suas histórias de vida, dedicação e paixão pelo ofício. Para muitos, a feira é a sua primeira casa. E os clientes, com o passar do tempo, tornam-se amigos.

A Prefeitura de Belém informa que são cadastrados Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (Sedcon) 18 mercados municipais e 34 feiras livres. Nesses espaços, existem 4.700 permissionários, entretanto, se contarmos com os ajudantes desses trabalhadores, o número de feirantes chega a dobrar em Belém.

Delson Soares Monteiro, 67, trabalha como feirante há cerca de 35 anos. “Começou, na verdade, pela insistência da minha esposa (Mira, 65 anos). Minha esposa é feirante há mais de 50 anos. E, quando eu a conheci, ela já estava aqui na feira. Eu trabalhei em hotelaria por 20 anos, mas ela sempre dizia: ‘vem para cá, me ajuda’. Então saí da hotelaria e vim para cá, e até hoje estou aqui”, contou Delson, que trabalha na feira da 25.

image Delson Soares Monteiro, de 67 anos, trabalha como feirante há cerca de 35 anos. “Começei, na verdade, pela insistência da minha esposa (Mira, 65 anos). Minha esposa é feirante há mais de 50 anos", disse (Foto: Igor Mota/O Liberal)

Para ele, ser feirante representa um trabalho gratificante, apesar das longas jornadas. “É um bom trabalho. Acordamos cedo e, muitas vezes, chegamos tarde em casa, mas é prazeroso. Aqui a gente cria uma família, não só entre os feirantes, mas também com os clientes”, contou. Delson começa a trabalhar às 6 da manhã, mas há dias em que inicia às 3 ou 4 horas da madrugada, encerrando o expediente entre 18 e 19 horas. O relacionamento com os clientes vai além da simples venda. “Tem os laços de família com os outros feirantes, mas também tem essa experiência com os clientes. Ele chega, já nos conhece. Nos chamamos pelo nome”, disse.

Com o tempo, se tornam amigos. Alguns chegam para conversar e desabafar. "Eu, quando posso, dou algumas dicas. Minha esposa, que é conhecida aqui na feira como ‘A Rainha da Pupunha', que trabalha aqui, também é muito conselheira. Às vezes, ensina um remédio, uma simpatia e tem esse feedback com o cliente”, afirmou Delson. Sua estratégia de vendas envolve paciência e flexibilidade. “Lidar com o público, aqui na feira, é diferente de outro tipo de venda. O cliente, aqui, pede desconto, quer paga menos, diferente do supermercado, onde, o que der lá (valor da mercadoria), ele vai pagar. Então vamos diminuindo o valor, de fração em fração, até chegar a um encontro bom para ambos. A feira oferece essa possibilidade, pois o cliente pode escolher melhor, entre diferentes boxes. Se não serve aqui, serve no outro”, observou.

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image Nívia Santos, 54, é feirante desde os sete anos: "A feira é a minha primeira casa" (Foto: Igor Mota/O Liberal)

“Eu já sei o que os clientes querem”, diz feirante Nívia 

Também trabalhando na feira da 25, Nívia Santos, 54, é feirante desde os sete anos. “Meu pai (Wanderlei, que faleceu há mais de 15 anos) tinha uma banca e eu o acompanhava. Peguei gosto pelo trabalho desde pequena”, contou. Ela sustenta a família com o trabalho na feira. Nívia tem uma filha e 3 netos. “Botei meu genro para trabalhar comigo. Ele trabalha há 4 anos”, contou.

A rotina de Nívia começa às 6 da manhã e se estende até 18 horas, de segunda a sábado. No domingo, o trabalho termina às 13 horas, quando então ela tirar o restante do dia de folga. “A relação com os clientes é próxima; com o tempo se tornam amigos. Tanto que tem cliente que nem precisa dizer o que ele quer. Eu já sei o que eles compram. Já sei o que eles gostam. Eles até dizem: 'A Nívia é que sabe o que eu levo'”, disse, enquanto descascava as castanhas do Pará que vende diariamente.

“Alguns chegam tristes e eu aproveito para aconselhar e conversar. Também acontece do cliente me ver e perguntar: 'a senhora tá bem, dona Nivia? Tá sentindo alguma coisa?' A feira é minha primeira casa. A minha segunda casa é quando eu vou pra casa”, afirmou. Para atrair clientes e vender mais, Nívia destacou a importância da qualidade dos produtos e do bom atendimento. “Mercadoria boa e tratar sempre bem o cliente. A feira é a minha paixão", completou.

image Lúcia Marinho tem 66 anos e trabalha na feira de São Brás ao lado das irmãs Suely, Selma e Sandra (Foto: Igor Mota/O Liberal)

Irmãs trabalham juntas na feira de São Brás

Na recém entregue feira de São Brás, uma família trabalha unida: as irmãs Ana Lúcia Marinho, Suely, Selma e Sandra. Ana Lúcia, mais conhecida como Lúcia, tem 66 anos e trabalha há 30 anos na feira de São Brás. Todas vendem refeições. “Quem nos trouxe para cá foi minha mãe, dona Jô. Era muito conhecida por sua sopa de mocotó maravilhosa. E tinha uma clientela muito grande. Ela trouxe minhas irmãs e deixou esse legado. Hoje estamos todos aqui todos esses anos”, contou. Na quarta-feira passada, dona Jô completou dois anos de falecida. "Chorei muito", contou a feirante.

Para Lúcia, trabalhar na feira representa mais que profissão: “Antes o ambiente não era adequado para receber a família, hoje (com a entrega da nova feira) está muito bom. Hoje estamos preparados para a pessoa trazer a família par conhecer o novo mercado de São Brás. Quem vem conhecer não se arrepende", contou. Lúcia também falou de sua relação com os clientes. "A relação é de amizade; tem uma que me liga às 5 da manhã, porque ela quer comer", contou, sorrindo. "Eles me ligam, se preocupam e criam um vínculo familiar", afirmou.

"A gente conversa, porque nem todo dia as pessoas estão bem. Tem dia que a pessoa traz problema de casa para o trabalho. Isso não é bom. Não é bom trazer os problemas de casa para o trabalho. Chegou aqui outra pessoa. Você tem que trabalhar normalmente e tratar os fregueses bem. Não importa o que você está passando. Eu passei um mês sem trabalhar por causa da morte da minha mãe: o pessoal me ligava: 'Lúcia, volta pra trabalhar.Tu vai entrar em depressão'. Aí, eu voltei. E, quando voltei, veio todo mundo de volta. E o pessoal dizia: 'tu vai embora e, quando volta, todo mundo vem atrás", comentou.

A estratégia de Lúcia para conquistar clientes envolve dedicação total: “Fazer o melhor como se fosse para nós mesmos, tratar bem o cliente. Tem cliente que chega mal-humorado. A gente conversa,pede pra pessoa relaxar. É preciso sempre dar o melhor".

image Adonory Thyjudson é conhecido como “O Velho”. "A gente conversa com um, conversa com outro. Com a idade que eu tô, se eu parar eu morro" (Foto: Igor Mota/O Liberal)

Clientes viram amigos: uma família, comenta açougueiro conhecido como ‘Velho’

Adonory Thyjudson Santos Paixão, conhecido como “O Velho”, 70, é açougueiro e trabalha na feira de São Brás há 63 anos. Ele contou que não há um motivo específico para a escolha da profissão. Mas todos os os sete irmãos são açougueiros. "A importância de trabalhar aqui é a convivência com amigos. É uma terapia. A gente conversa com um, conversa com outro. Clientes são amigos, virou família. Com a idade que eu tô, se eu parar eu morro", contou.

Sua rotina começa às 4h30 e vai até as 15 horas. “A estratégia para conquistar clientes é oferecer bom atendimento e qualidade da carne, que é essencial. O tratamento tem que ser de primeira linha. Paraenses gostam de carne fresca, diferente de congelada em outros estados", disse. "O paraense gosta de ver a qualidade, de pegar. Se for congelada, não leva, pois perdeu a qualidade", observou.

Adonory também destacou a valorização da cultura local. “Fiz cursos e qualificações, aprendi sobre diferentes técnicas de açougueiro, e hoje aplico tudo aqui. É essencial manter a qualidade para o freguês", disse. "A feira é a minha primeira casa, porque passo mais tempo aqui. Vou em casa e volta para bater papo com os amigos", contou. Ele disse que seu nome tem origem grega e foi escolhido pelo pai dele, que é maranhense.

Prefeitura de Belém cita ações

A Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico (Sedcon), informou ainda que, como forma de proporcionar mais qualidade ao trabalhado dos feirantes cadastrados na Sedcon, o órgão tem realizado fiscalização e ordenamento nos logradouros; reformas e revitalização das feiras e mercados municipais e também a padronização dos equipamentos das feiras livres.

Além disso, cursos de capacitação de empreendedorismo e de incentivo à formalização de Microempreendedor Individual (MEI) são ofertados regularmente aos trabalhadores permissionários. A Sedcon destaca ainda que, em sete meses de gestão, foram entregues, pela Prefeitura de Belém, o Mercado de Farinha do Guamá e a nova Feira de São Brás. Para este semestre serão entregues também a reforma completa do Complexo Ver-o-Peso, a Feira e Mercados da Pedreira, Mercado do Guamá e Mercado de Icoaraci.

 

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