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Dia da Amazônia: conheça a vitória-régia, planta que protege e embeleza os rios da região

No Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém, há exemplares dessa que é considerada a maior planta aquática do mundo

Dilson Pimentel
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O Dia da Amazônia, comemorado nesta quinta-feira (5), reforça a relevância da floresta tropical mais rica do mundo e busca promover a conscientização sobre a necessidade de sua preservação. Entre os símbolos mais emblemáticos da região, a vitória-régia se destaca não apenas por sua beleza exuberante, mas também por sua importância ecológica, cultural e científica.

Recentemente, a planta voltou a despertar a curiosidade do público devido ao show da cantora Mariah Carey, que acontecerá no rio Guamá, em Belém. O espetáculo contará com um palco flutuante em formato de vitória-régia, como parte do festival Amazônia Live - Hoje e Sempre, projeto do Rock in Rio e The Town, previsto para o dia 17 de setembro, quatro dias após o show no The Town, marcado para o dia 13 de setembro.

No Museu Paraense Emílio Goeldi, situado no bairro de São Brás, em Belém, exemplares da vitória-régia podem ser observados de perto, inclusive em seu berçário, onde pesquisadores acompanham de forma minuciosa seu crescimento e desenvolvimento. Pertencente à família das Nymphaeceae, a Victoria amazonica (Poepp) J.E.Sowerby, nome científico da vitória-régia, é uma herbácea aquática que apresenta folhas flutuantes redondas que podem atingir até 2,5 metros de diâmetro. As bordas elevadas formam um ângulo de 90º com a base da folha e chegam a medir até 10 cm de altura. No Museu Goeldi há registros de folhas com diâmetro de 2,2 metros.

A pesquisadora bolsista Clebiana Nunes, que atua no campus de pesquisa do Museu da avenida Perimetral, detalha as características da planta. “A vitória-régia é uma das plantas símbolos da Amazônia, nativa da região e presente em quase todo o bioma amazônico. Seu nome científico é Vitória Amazônica, trazendo em si a representação da grandiosidade dessa planta. Ela possui uma morfologia exuberante, com folhas grandes e circulares que podem alcançar até dois metros de diâmetro. Sua intensa rede de nervuras permite suportar pesos consideráveis e flutuar sobre a água, fazendo dela essa grande plataforma flutuante em cima da superfície da água, servindo de inspiração para artistas e arquitetos”, explicou.

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image Pesquisadora bolsista Clebiana Nunes: “A vitória-régia é uma das plantas símbolos da Amazônia, nativa da região e presente em quase todo o bioma amazônico" (Foto: Ivan Duarte/O Liberal)

Maior planta aquática do mundo

A pesquisadora Clebiana destacou ainda a importância ecológica da vitória-régia. “Ela é a maior planta aquática do mundo e desempenha papel fundamental no ecossistema, servindo como abrigo e proteção para alguns animais aquáticos. Sua sombra oferece um refúgio natural, enquanto funciona como bioindicador da qualidade da água e como parâmetro para avaliar o nível de conservação do ambiente em que está inserida, especialmente em um contexto de preservação da Amazônia”, disse.

Ela também comentou sobre a floração noturna da espécie, considerada uma das características mais fascinantes da planta. “As flores são grandes, vistosas e florescem à noite. Inicialmente, apresentam coloração esbranquiçada, mas no segundo dia mudam para tons rosáceos, sinalizando aos polinizadores, geralmente besouros, quais flores já foram polinizadas. Além disso, exalam um perfume adocicado, que exala”, afirmou.

Embora a vitória-régia suporte o peso de pequenos animais, como sapos, lagartos e até pequenos jacarés, não é recomendável que seres humanos subam sobre suas folhas. “Ela é uma submersa fixa. Ela é enraizada no solo e fica ali paradinha. Ela não fica flutuando e nem vagando pelos rios e igarapés da Amazônia”, acrescenta. No Museu Goeldi, o cultivo da vitória-régia remonta ao ano de 1900, quando Emilio Goeldi iniciou o trabalho com a planta como forma de atrair visitantes interessados na flora amazônica, complementando o já popular interesse pelos animais. “Ele viu na vitória-régia uma estratégia de também trazer visitantes para conhecer a flora amazônica”, contou.

Quanto ao imaginário popular, a vitória-régia está presente em lendas amazônicas, como a história de Naiá, uma jovem que se transformou em estrela e, posteriormente, em planta. A espécie também tem relevância cultural significativa, sendo utilizada em medicina popular e em rituais de purificação em comunidades tradicionais. Diversas partes da planta podem ser consumidas, como o rizoma, semelhante a uma batata, e as sementes, que podem ser refogadas. A semente estoura igual pipoca. É considerada uma planta alimentícia não convencional. Clebiana ressaltou, porém, a importância do conhecimento sobre a espécie correta para consumo, alertando que não se deve coletar ou preparar a planta sem orientação adequada.

image Engenheiro agrônomo Hedayson Rogério: “Dentro do parque, buscamos reproduzir o ambiente natural do vegetal. Realizamos a retirada de excesso de plantas a cada 15 a 20 dias, garantindo que cada exemplar tenha espaço e condições ideais para crescimento" (Foto: Ivan Duarte/O Liberal)

Berçário de vitória-régia

Sobre a origem do nome científico, a pesquisadora explica que o nome é uma homenagem à Rainha Vitória, que autorizou a denominação após se encantar com a beleza da planta, enquanto “Amazônica” faz referência ao bioma em que a espécie é símbolo, sendo essa planta símbolo da região.

O engenheiro agrônomo Hedayson Rogério, técnico do setor de flora e responsável pelo manejo das plantas aquáticas, detalhou os cuidados necessários para o cultivo adequado da vitória-régia. “Dentro do parque, buscamos reproduzir o ambiente natural do vegetal. Realizamos a retirada de excesso de plantas a cada 15 a 20 dias, garantindo que cada exemplar tenha espaço e condições ideais para crescimento. Também fornecemos nutrientes, como adubos nitrogenados e compostos orgânicos. Questão também da insolação. Ela precisa de muita luz para aumentar de tamanho”, explicou.

Hedayson destacou ainda características curiosas das folhas da vitória-régia. “Quando novas, as folhas se abrem em formato de coração, o que é bastante interessante para observadores e visitantes. Novas plantas surgem constantemente, e leva de seis a nove meses para que alcancem seu tamanho máximo. Em condições ideais, folhas adultas podem atingir até 2,5 metros, embora no museu elas permaneçam menores porque não estão nas condições naturais delas”, contou. Ele também falou sobre o berçário de vitória-régia. As sementes são coletadas no lago e levadas para o berçário, para a germinação. Ficam no berçário de dois a três meses no máximo. E o cuidado principal é com a água. E precisa de luz também.

Saiba mais sobre a vitória-régia

Um dos grandes símbolos da Amazônia, a vitória-régia marca o imaginário, a identidade e as culturas dos povos da região.

Sua beleza inspirou mitos indígenas, seu perfume exala doçura e suas funcionalidades são aplicadas à culinária e à medicina tradicional. O belo conjunto, que organiza harmonicamente fortes nuances de cores na planta Victoria amazonica , apaixona e sempre despertou o interesse dos naturalistas.

Astuta, a vitória-régia se defende como pode. A face inferior da planta é roxa e revertida por espinhos que atuam como defesa a possíveis predadores. Sua base é formada por nervuras esponjosas que oferecem sustentação para suportar o peso de animais, como sapos e garças.

Já a superfície da planta exibe uma linha central e pequenos orifícios que facilitam o escoamento da água da chuva. Elas gostam de um ambiente quentinho, por isso vivem em várzeas e igapós a uma temperatura que pode variar de 26 a 30 graus.

Durante o dia, o sol é fundamental para a planta, mas é ao anoitecer que o grande espetáculo acontece. As flores da vitória-régia desabrocham perfumando o ambiente e atraindo besouros que auxiliam na polinização.

O ciclo da flor dura dois dias. Despertando ao pôr-do-sol, as flores da vitória-régia amadurecem alvas durante a madrugada. Ao alvorecer do dia seguinte, a flor se fecha e ocorre a mudança na coloração das pétalas, indo do branco para o tom rosa. No final do processo, ela submerge lentamente até o fundo do lago.

Fonte: Museu Emílio Goeldi

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