Caso Walkyria Santos: cyberbullying afeta 43% dos usuários na internet, diz estudo
Pesquisa da Microsoft mostra cenário preocupante no Brasil e que chama atenção de profissionais da saúde mental

Celulares, internet, redes sociais, produção de conteúdo e exposição. Atualmente esse é o combo de passatempo preferido entre adolescentes que gostam de estar conectados. Quando imerso no mundo virtual, esse público fica mais suscetível a sofrer algum tipo de violência virtual, como ocorreu com Lucas Santos - filho da ex-vocalista da Banda Magníficos, Walkyria Santos -, que se matou após ser vítima de cyberbullying. Uma pesquisa da Microsoft, divulgada no início do ano, aponta que 43% das pessoas no Brasil estiveram envolvidas em incidentes de bullying na internet.
VEJA MAIS
A prática tem preocupado psicólogos e pesquisadores sobre o quanto isso afeta a saúde mental de uma população cada vez mais conectada. “Com a impressão de estar protegida pelo meio virtual, a pessoa se sente confortável em propagar ameaça, constrangimento, palavras cruéis. A vítima é afetada além dos aspectos emocionais, pois muitas vezes ela é exposta à vergonha e ao constrangimento. A partir daí, ela pode começar a se sentir incapaz e começa a absorver as críticas como se fosse da personalidade dela, mesmo que não seja verdadeiro”, explica Fabiana Pereira, professora da Faculdade de Psicologia da Universidade Federal do Pará (UFPA).
O bullying pode ser caracterizado por uma violência perseguidora e constante, que pode chegar, nas suas formas mais latentes, a agressões físicas, além de humilhação pública, exposição vexatória, criação de apelidos de mau gosto e outras importunações. Já o cyberbullying é a mesma prática, porém, ocorre por meio dos canais de comunicação virtuais, o que pode ser mais psicologicamente danoso para a vítima. Acredita-se que esse foi o gatilho para a morte prematura do filho de cantora Walkyria Santos.
Podem ser consideradas cyberbullying ações como: exposição de fotografias ou montagens constrangedoras; divulgação de fotografias íntimas; comentários agressivos; críticas à aparência física, à opinião e ao comportamento social de indivíduos repetitivamente. Os agressores geralmente usam perfis falsos (fakes), acreditando estarem totalmente protegidos quanto às suas identidades reais. Ou simplesmente se manifestam pelo meio virtual por não terem de encarar a vítima pessoalmente.
A professora ainda informa que a pessoa que sofre algum tipo de violência virtual passa também a ter prejuízos físicos, como dificuldade de sono, distúrbios alimentares e distúrbios emocionais graves, como ansiedade e depressão. Esses casos podem chegar ao extremo e faz com que a vítima possa chegar a um suicídio. "Nem todas as pessoas que se expõem são vítimas de cyberbullying. Às vezes a pessoa tem uma vida anônima, mas passa a ser vítima desse tipo de situação”, pondera a professora.
Hoje, as plataformas estão cada vez mais acessíveis aos jovens. Com a pandemia de covid-19, crianças e adolescentes foram estimuladas a participarem do ensino remoto, fazendo com que desenvolvessem habilidades com a tecnologia. Com isso, as crianças passam também a possibilidade de se expor a algum tipo de risco.
“A gente tem recebido demandas muito frequentes de jovens que são solicitados por conta do ensino remoto a executarem trabalhos de maneira virtual e apresentam algum tipo de dificuldade. Muitos deles têm medo de serem vítimas de algum tipo de bullying. Os tipos são diversos e vão desde fazer uma figurinha que pode ser usada para diminuir a vítima e até mesmo pegar algum trecho de apresentação do amigo e usar como opinião, o que pode trazer consequências ruins para esse jovem”, destaca.
A professora orienta que os pais e responsáveis fiquem atentos e acompanhem de perto as mudanças de comportamento que os jovens podem apresentar. Que conversem com os filhos para que não compartilhem e nem propaguem informação que pode inferiorizar o colega e até mesmo pessoas desconhecidas. A ainda que eles também monitorem o uso das redes sociais, que tipo de conteúdo que estão consumindo.
“ A gente sabe que hoje em dia você é julgado pela sua posição política, pela sua cor, por suas escolhas, indecisão política... É importante fortalecer a autoestima desse jovem, conversar o tempo inteiro. Então a gente tem que sentar, conversar e orientar. Ensinar que eles podem ser responsabilizados pelos seus atos e que o que fez tem uma consequência, pois para aquela pessoa pode ser só uma brincadeira mas para quem está sendo julgado pode causar um grande sofrimento que leva ao suicídio”, conclui Fabiana Pereira, professora de Psicologia UFPA.
Apesar da sensação de segurança em que o agressor acredita estar, ele está cometendo crime e pode ser punido. O cyberbullying é passível de punição por meio do Código Penal quando configura os crimes contra a honra (calúnia, difamação e injúria – Artigo 138 do Código Penal Brasileiro), crime de injúria racial (ataques racistas – Artigo 140 do Código Penal Brasileiro) e exposição de imagens de conteúdo íntimo, erótico ou sexual (Artigo 218-C do Código Penal Brasileiro incluído pela Lei 13.718, de 2018).
(Bruna Ribeiro, estagiária, sob supervisão de Victor Furtado, coordenador do Núcleo de Atualidades)
Palavras-chave
COMPARTILHE ESSA NOTÍCIA