Carro depenado após incêndio em frente a cartão postal resume caos e abandono de Belém
Primeiro dia do prazo final dado ao aterro de Marituba expõe a relação da Grande Belém com o lixo e o entulho
Neste sábado (1º), dia que marca o início do prazo dado pela Justiça para que o aterro sanitário de Marituba continue, por mais quatro meses, a manter as operações de recebimento de resíduos gerados em Belém, Ananindeua e Marituba, uma flagrante inusitado resumiu o descaso e a situação de caos da relação da Grande Belém com seu lixo e entulho. Em frente à Estação das Docas, um dos principais cartões postais da capital paraense, o acúmulo de lixo e a carcaça de um veículo abandonado na noite de ontem (31), após pegar fogo na via pública, chamaram a atenção dos transeuntes do Boulevard Castilhos França, no Comércio.
CRISE PARALELA
O incêndio ocorreu quase que simultaneamente aos momentos que decidiram parcialmente um novo capítulo da batalha judicial travada entre administrações municipais e a empresa Guamá Tratamento de Resíduos Ltda, seis meses após essa ter anunciado o encerramento das atividades no aterro de Marituba para esta sexta (31).
Em decisão interlocutória de agravo de instrumento, a Justiça determinou nessa mesma sexta que o valor a ser pago pelo município de Belém à empresa Guamá Tratamento de Resíduos, a partir deste sábado, 1º de junho, será de R$ 85 por tonelada de lixo, contrariando o pedido da empresa, de R$ 114 por tonelada - o que é hoje o grande pivô da crise gerada pela ameaça de encerramento de atividades por parte da companhia que gerencia ao aterro de Marituba.
A decisão da Justiça do Pará se deu em resposta ao agravo de instrumento interposto pelo Município de Belém contra decisão da Comarca de Marituba - que havia negado pedido de continuidade do aterro.
Uma ação da Prefeitura de Belém requeria que a empresa Guamá Tratamento de Resíduos Ltda fosse obrigada a continuar a receber e tratar o lixo da Região Metropolitana de Belém (RMB).
O pedido de manutenção do aterro é duramente criticado pela comunidade de Marituba, que fez novos protestos durante toda esta sexta (31), denuncia grandes impactos das atividades sobre a região e pede o fechamento imediato da área.
Mesmo com a decisão da Justiça pela manutenção das atividades do aterro, a coleta de lixo em Marituba e também em Ananindeua e Belém seguiu prejudicada, neste sábado (1º). Não houve onde depositar o lixo recolhido nas ruas da Grande Belém, confirmaram esta manhã as prefeituras.
FOGO E CAOS
Os atos que fecham o aterro de Marituba fizeram com que neste sábado carros coletores também ficassem parados, o que agravou o acúmulo de lixo em vários logradouros da Grande Belém - impondo um tom sombrio à ameaça da crise do lixo e do entulho na capital.
Por isso mesmo, o cenário encontrado pela manhã no Comércio, após o incêndio que destruiu um carro nesta sexta no Boulevard Castilhos França, é tão representativo sobre os desafios que os dias atuais impõem à Região Metropolitana de Belém.
As chamas que correram as redes sociais e o cenário do veículo abandonado após o incidente ocorrido nesta sexta seguem a assustar belenenses - como se aquilo que se limitava aos roteiros de ficção do apocalipse zumbi ou de suposta hecatombe nuclear tivesse efetivamente batido à porta da realidade da Grande Belém, cobrando medidas urgentes para o futuro da capital.
O casal que estava no carro incendiado em frente à Estação das Docas foi alertado a tempo por guardadores de veículos que atuam no perímetro. O incêndio já havia se iniciado com o carro em movimento, logo após se ter dado a partida.
O motorista e sua esposa desceram correndo do automóvel, a tempo de nada sofrerem, antes do fogo tomar totalmente o Fiat Palio - que havia sido adquirido há cerca de um ano e era de segunda mão.
As chamas altas resultaram inclusive numa explosão, que acabou registrada por celulares. O carro sofreu perda total. Veja como ele ficou:
Inconsoláveis, o professor dono do veículo e sua esposa, que por sorte nada sofreram, decidiram deixar o bem perdido à própria sorte - já que nada mais poderia ser feito, segundo avaliaram. Ouça os depoimentos de Alexandre Silva, guardador que testemunhou o acidente, e de Andrei da Costa Pereira, professor, dono do carro:
DEPENADO E DEIXADO À RUA
Autorizados, guardadores de carro e outros populares passaram então a depenar, na mesma tarde do incidente, o que ainda poderia ser aproveitado do carro para revenda e uso - de pneus a outras peças intactos.
Na manhã deste sábado (1º), o único cuidado com o que restou do veículo limitou-se a apenas se arredar a carcaça para uma esquina da travessa Padre Prudêncio, para que o fluxo de trânsito fosse normalizado no perímetro.
SEM GUINCHO
Ao contrário do que anunciaram também na sexta agentes da Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (Semob) e o próprio proprietário do carro incendiado, o automóvel não foi rebocado do local - e não há confirmação ainda de que a carcaça será retirada da vizinhança. Ouça depoimento dado pela equipe de agentes de trânsito que deram o primeiro apoio à ocorrência:
O veículo abandonado na esquina da travessa Padre Prudêncio com Boulevard Castilhos França oferece risco à segurança do trânsito no local - e está situado em um trecho onde é proibida a parada ou o estacionamento de automóveis.
A redação integrada de O Liberal está entrando em contato com a Semob para saber que providências serão tomadas para resolver o caso.
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