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78 anos de O Liberal: CEO Ronaldo Maiorana reflete sobre o futuro do jornalismo na era digital

O presidente-executivo do Grupo Liberal fala sobre a importância da democracia, o papel da imprensa no combate à desinformação, a cobertura da COP 30 em Belém e o legado de O Liberal em quase oito décadas

Elisa Vaz
fonte

Na celebração dos 78 anos de O Liberal, o CEO do Grupo Liberal, Ronaldo Maiorana, reflete sobre a importância da trajetória do veículo e os desafios enfrentados pela mídia nos tempos atuais. Nesta entrevista, ele aborda temas centrais como democracia, liberdade de expressão e o combate à desinformação, destacando o papel fundamental da imprensa na sociedade. À frente do maior veículo de comunicação do Norte do Brasil, o executivo também antecipa o impacto da cobertura de O Liberal durante a 30ª Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU (COP 30), que será realizada em Belém no ano que vem.

Em um gesto de gratidão, ele reconhece a confiança dos leitores e a dedicação dos colaboradores, reafirmando sua visão de que O Liberal continuará a ser uma referência no jornalismo por muitos anos. Confira a entrevista completa:

O jornal O Liberal passou por diversas transformações ao longo dos anos, incluindo o fortalecimento do jornalismo digital. Como as inovações reforçam o compromisso do jornal em ampliar sua presença no cenário da comunicação regional e global?

"O Brasil, comparado com a Europa, tem um índice de jornais impressos muito baixo. Você vê que, na Itália e em Portugal, a quantidade de periódicos é grande, são mais de 10, 20. E tem a teoria da convergência. Quando surgiu a TV, dizia-se que ia acabar com o rádio, que ia acabar com o cinema. Quando surgia um novo veículo, e sempre foi assim, dizia-se que acabaria com o anterior, e nunca aconteceu. Se a gente for ver, o Jeff Bezos, dono da Amazon, comprou o Washington Post e a maior cadeia de livrarias americana. Esses empresários não investiriam em jornal impresso ou em um portal com essa perspectiva de acabar. Eu acho que o mercado era pouco fatiado e hoje está bastante fatiado. Há mais democracia na informação. Hoje, os grandes grupos de comunicação têm que ter mais responsabilidade. E me preocupa o futuro das redes sociais. As redes sociais, com a inteligência artificial, podem ser muito afetadas. Você vai estar conversando com uma pessoa e não sabe se é um robô, se é ela, se não é. Uma coisa interessante é que tem alguns veículos que são mais à esquerda, outros mais à direita, é natural, talvez pela composição dos colaboradores. Mas isso é bom, a pessoa consegue se informar melhor, consegue aprofundar um assunto melhor. E o Brasil é um dos poucos países do mundo onde o liberal se une com o conservador. Eu acho que a democracia é isso mesmo. Dentro de todo regime, o menos péssimo é a democracia. E o que leva à democracia é o estado de direito e o respeito ao próximo, ao ser humano, porque todo mundo é igual."

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Em um cenário de tanta desinformação, que vemos principalmente nas redes sociais, como o jornal impresso tem garantido a credibilidade e a qualidade da informação?

"É diferente, porque o jornal trabalha com mão de obra especializada. O jornalista vai colher a informação, vai passar por um editor, passa por toda uma checagem, e na rede social o pessoal entra ali e fala o que quiser. Mas, com sinceridade, eu acho que algo que está na Constituição e ninguém pode tirar é a liberdade de expressão. É uma causa, para mim, absoluta, é um direito natural, a pessoa nasce e, se não puder se expressar, é uma loucura. Mas é vedado o anonimato. Quando você vai abrir uma conta nos bancos digitais, por exemplo, você tem que bater uma foto para mostrar que você é você mesmo. Eu acho que a desinformação, a mentira, já existem desde Adão e Eva. Sempre existiu. O que preocupa nas redes sociais hoje, mais do que a desinformação, é esse anonimato. Há crime em tudo quanto é lugar. Tem bons jornalistas e jornalistas que não são tão bons. O que deveria mudar é a parte processual e a punição por uma desinformação. No rito ordinário, o Judiciário demora muito tempo. Tem o caso da Escola Base, que um dano acabou com tudo. Os danos contra a honra, que são injúria, calúnia e difamação, deveriam ser agravados e processados. E sou a favor de que o trabalho jornalístico autoral, a matéria toda, deveria ser assinado. Quando uma pessoa nas redes sociais pega e distribui sem autoria, isso é um crime de violação dos direitos autorais. As redes sociais não estão muito empenhadas em defender o direito autoral, e muita gente vive do direito autoral, como os jornalistas, escritores, advogados, músicos, intelectuais. Então, isso é uma coisa que deve ser mais valorizada, é fundamental e o Congresso deveria se debruçar um pouco mais sobre essa questão."

O jornal O Liberal está comemorando 78 anos e tem atuado fortemente na cobertura de temas como meio ambiente e mudanças climáticas. Como o jornal tem se destacado ao dar visibilidade às questões ambientais, sociais e de desenvolvimento da região ao longo do tempo e como o senhor avalia a responsabilidade do jornal em amplificar essas vozes, principalmente em um contexto em que se fala muito na proteção do meio ambiente e das florestas?

"É uma pauta ESG – ecologia, social e governança. Não gosto de terrorismo ecológico, não é salutar. Então, temos que encontrar um equilíbrio entre ecologia e desenvolvimento. O Pará tem, por exemplo, Melgaço, que tem um dos piores IDH [Índice de Desenvolvimento Humano] do país, então precisamos achar um meio termo. É um assunto que mexe muito com as pessoas, mas também não há um consenso científico 100% na questão do aquecimento global. Tem um outro lado, que também acho que até nós, da imprensa, damos pouca voz para uma área discordante. Isso é péssimo para a ciência, porque você tira a dialética do tema. Uma pessoa concorda, outra discorda, são duas ideias. Isso acontece com a ecologia, aconteceu no caso da vacinação. Para mim, o absoluto é somente a liberdade de expressão e a vida, o resto não tem uma certeza absoluta, até exame de DNA vai dar 99%. A ecologia é importante, mas temos que casar a ecologia com o desenvolvimento humano. Não dá para pensar só em ecologia em uma terra tão rica, com o subsolo talvez mais rico do mundo, tendo cidades com IDH baixo, principalmente na região das ilhas, com muito desemprego, pedofilia na ilha do Marajó, tráfico, existe uma série de coisas. Eu acho que o ser humano vem em primeiro lugar. Dá para fazer algumas coisas de desenvolvimento, porque só o desenvolvimento vai conseguir melhorar a vida dessas pessoas. A gente não pode esquecer das pessoas. Quando eu falo o ser humano, está incluso aí tanto o ribeirinho, o vaqueiro, o indígena, o quilombola. Então, eu acho que qualquer veículo de comunicação tem que dar espaço para as duas correntes. E é bom que qualquer leitor, em qualquer canal de comunicação confiável, procure ver se aquilo é verdade ou não, questione mais."

Falando agora sobre a COP 30, como O Liberal está se preparando para cobrir um evento de tamanha importância, realizado em Belém no ano que vem? O senhor acredita que a presença da COP 30 em Belém reforçará ainda mais o papel de O Liberal como um veículo estratégico para temas globais relacionados ao meio ambiente?

"Eu acho que todo o trabalho, desde antes, até o de entrar na COP, foi muito bem feito pelo governador (Helder Barbalho), ele trabalhou muito bem. Manaus já estava à frente e ele conseguiu colocar Belém como a capital da Amazônia. A COP 30 é um evento de extrema importância. O Pará vai dar conta de receber bem. Quanto ao O Liberal, a gente vai trabalhar bastante para isso. Mas, na COP, o que se viu nas últimas edições é que os países mais desenvolvidos no mundo, que poluem mais, não assinam [os acordos]. Não é justo sobrar para os menores ou para os subdesenvolvidos. Esse debate é muito importante para discutir essas ideias e mostrar isso. Tem que haver uma consciência maior; para isso, é preciso mediadores que sejam muito bons para chegar a um acordo. Eu acho que é um presente para Belém. Só o que já foi divulgado já colocou Belém como uma das cidades mais visitadas do Brasil. Antes mesmo de acontecer, Belém já teve ganhos consideráveis, principalmente em visibilidade. Esperamos que tudo corra bem e que o evento seja um sucesso."

Completando agora 78 anos, como o senhor define o legado de O Liberal e qual a mensagem que o senhor gostaria de deixar para seus leitores e para a equipe do jornal?

"Eu sempre digo que o mais importante é que o trabalho é feito por gente e para gente. Pode ter o melhor equipamento, o melhor computador. Toda empresa, não só a jornalística, é feita por gente para gente. A gente é líder nas redes sociais, no portal, no jornal impresso, no digital, na televisão. Então, eu acho que a palavra certa é "obrigado". Agradecer aos nossos leitores e agradecer demais aos colaboradores. O que um CEO faz, de fato, é tentar encontrar talentos e manter a harmonia. Mas quem faz a comunicação, a informação, são os jornalistas e os colaboradores. E nós, aqui, vamos trabalhar com harmonia, que vai ser um clima favorável ao trabalho. Então, esse é o legado: ter sempre essa união, esse clima favorável ao trabalho."

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