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Pará é um dos líderes em importação de armas no Brasil

Números mostram que entre janeiro de 2022 e janeiro de 2023, o Estado teve variação de 910% no aumento dessas importações

O Liberal

O Pará é o quarto Estado no ranking de importação de armas de fogo e munições no Brasil. Dados da plataforma Comex Stat, do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, colocam o Pará com 11,3% de participação em todas as importações de armas de fogo e munições realizadas no Brasil em janeiro de 2023, ficando atrás apenas do Rio Grande do Sul (27% de participação); Rio de Janeiro (23,8%) e Santa Catarina (14,3%). Os números também mostram que, na comparação entre janeiro de 2022 e janeiro de 2023, o Pará apresentou um expressivo aumento nessas importações, alcançando 910,3% de variação entre um ano e outro

Em janeiro de 2022, o Pará tinha apenas pouco mais de 1% de participação nesse ranking. Já em 2023, aparece como um dos primeiros colocados. Para o diretor de um clube de tiro localizado em Belém e instrutor de armamento e tiro, Aliyan Treptow, de 45 anos, o aumento na importação de armas de fogo e munições, nos últimos anos, está diretamente ligado às facilidades promovidas pelo governo Bolsonaro nesse setor. 

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Armas voltadas para práticas esportivas 

“Esse aumento de importação certamente veio da flexibilização na aquisição de armas de fogo promovida durante o governo Bolsonaro, que diminuiu a burocracia e as análises para que se pudesse importar as armas de fogo. Mas no geral, ao meu ver, são armas muito específicas, muito caras e voltadas para o esporte. As armas importadas não são o tipo de arma que o crime organizado gosta, porque requerem manutenção e uma operação especializada, por isso, as que eu vi nos últimos quatro anos, foram muito voltadas para o esporte mesmo”, explica Treptow, que trabalha há dez anos no setor.

Vale lembrar que, enquanto estava na presidência, Jair Bolsonaro assinou inúmeros atos e decretos que facilitaram a compra e a posse de armas no país. Ele aumentou, por exemplo, a quantidade de munições que podiam ser compradas por colecionadores e pessoas com porte de armas, além de derrubar normativas do Exército que ampliavam o rastreamento de armas e munições. Por isso, durante a última gestão presidencial, uma das categorias que mais cresceram foi a dos CACs (Caçadores, Atiradores e Colecionadores). Para ser um praticante de tiro desportivo, por exemplo, é preciso ser um CAC. 

“Nos últimos anos, também surgiram diversas novas modalidades de esportes de tiros, então, a venda de armas em geral aumentou muito. Acredito, inclusive, que a importação representa uma parcela pequena se comparada ao mercado de armas nacionais”, completa Aliyan. 

Segundo ele, para se tornar um CAC, em primeiro lugar, é preciso se afiliar a um clube de tiros, espaço homologado pelo Exército, que conta com a segurança necessária para que se faça disparos com armas de fogo. “Clube de tiro serve para que se possa efetuar disparos com armas de fogo de maneira controlada e segura. Paga-se mensalidade, a frequência é registrada, assim como todos os disparos feitos são registrados. A quantidade de clubes de tiros no País também aumentou muito durante o governo Bolsonaro. Hoje, para se ter ideia, entre Belém e Castanhal, por exemplo, temos pelo menos nove clubes de tiros”, conclui. 

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Professor defende a importância da cultura de paz

Para o geógrafo e professor universitário Aiala Couto, estudioso das questões relacionadas à violência, o aumento na importação de armas para o Estado do Pará pode estar ligado a uma “profissionalização” de grupos armados que, muitas vezes, exercem função de segurança privada para as atividades que ocorrem em terras públicas, sobretudo nos municípios que historicamente enfrentam problemas fundiários ou conflitos em função de atividades ilegais, como extração de madeiras em Unidades de Proteção Ambiental e de ouro, em terras indígenas.

“Vejo isso como parte de um pacto político que tinha como objetivo a destruição da floresta por meio da exploração de seus recursos, a violação dos direitos humanos contra os povos indígenas e uma ação orquestrada que armou capangas em áreas vulneráveis sem ou com pouca presença dos órgãos de segurança do governo federal”, aponta. 

Para o geógrafo, o controle de armas por parte do governo federal é fundamental, porém, também é preciso enfrentar o tráfico de armas e munições nas fronteiras, melhorar o sistema carcerário com foco na ressocialização, entre outras medidas, para que, de fato, o país alcance uma cultura de paz, em que armas sejam itens secundários. “Isso só é possível se ocorrer um grande pacto federativo que tenha a paz, a segurança e a justiça como objetivos principais. E isso se alcança com educação, políticas públicas e geração de oportunidades de emprego e renda, além, é claro, da diminuição das desigualdades das  violências raciais, de gênero e de classes sociais. Ou seja, sanando estes conflitos alcançaremos uma cultura de paz que derruba o discurso da necessidade de mais pessoas armadas no Brasil”, argumenta.

Confira os Estados brasileiros com maior importações de armas e munições em janeiro de 2023: 

  • 1⁰ lugar - Rio Grande do Sul (27%)
  • 2⁰ lugar - Rio de Janeiro (23,8%)
  • 3⁰ lugar - Santa Catarina (14,3%)
  • 4⁰ lugar - Pará (11,3%)
  • 5⁰ lugar - São Paulo (8,46%)

Fonte:  Plataforma Comex Stat

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