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Lib Talks Amazônia: afeto, inovação e crédito são o caminho para o sucesso dos negócios

Primeira edição do Lib Talks Amazônia, realizada nesta sexta (21), reuniu especialistas em Belém; projeto percorrerá as nove capitais da região, com próxima parada em Manaus

Gabriel da Mota
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Transformar saberes ancestrais em produtos de alto valor agregado, superar barreiras burocráticas que travam a inovação e democratizar o acesso ao crédito orientado. Esses foram os pilares debatidos na primeira edição do Lib Talks Amazônia, evento promovido pelo Grupo Liberal na noite desta sexta (21), no Espaço Romulo Maiorana, em Belém. Com o tema "Mulheres que empreendem: ancestralidade, criatividade e a força da floresta", o encontro — patrocinado pelo Sicredi — reuniu vozes que protagonizam a bioeconomia na região e marcou o início de uma jornada ambiciosa: o projeto viajará pelas nove capitais da Amazônia Legal, levantando as especificidades de cada território, com a próxima edição já confirmada para Manaus.

Mediado pela jornalista e diretora de Portal e Redes do Grupo Liberal, Mary Tupiassu, o painel demonstrou que a bioeconomia não é apenas um conceito acadêmico, mas uma prática diária de resistência e adaptação.

Assista à integra do painel aqui.

Memória afetiva do cacau

A abertura dos debates trouxe a experiência de Izete Costa, a Dona Nena, fundadora da marca "Filha do Combu". Ela detalhou a transição de um modelo econômico de exploração para um de valorização. "Antigamente, a gente vendia o cacau para os atravessadores que iam vender para a indústria. Mas nós tínhamos o hábito de fazer o nosso próprio chocolate em casa", relembrou. A virada de chave ocorreu quando ela percebeu, nas feiras de Belém, que o público urbano ansiava por essa conexão perdida com a floresta.

"Eu percebi que tinha muita coisa diferente que a gente não via em supermercado. Então, lembrei do nosso cacau embrulhado na folha, que era uma relíquia da família. Para a minha surpresa, quando cheguei na feira, a reação das pessoas foi de memória afetiva. Elas diziam: 'Olha, a minha mãe fazia, a minha avó fazia'. Eram pessoas que saíram do campo para ir para a cidade buscar trabalho e encontraram ali um reencontro", afirmou Dona Nena.

A produtora também contextualizou seu negócio no cenário global, citando a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) como uma vitrine fundamental, mas alertando para a necessidade de conhecimento real sobre a região. Ela revelou que, horas antes do evento, recebeu uma representante da ONU em sua propriedade. "As pessoas falavam muito da Amazônia, mas não a conheciam. Agora, mostramos nossas ansiedades de melhora. Queremos políticas públicas para que a gente continue lá com dignidade, preservando essa biodiversidade que é vida para o mundo inteiro", completou.

Beleza limpa e o gargalo das patentes

A farmacêutica Daniela Cunha, fundadora da Qury Natural Beauty, falou sobre os desafios da ciência aplicada à floresta. Ela defendeu o conceito de "beleza limpa" e consumo consciente, argumentando que a sustentabilidade deve permear toda a cadeia, não apenas o líquido dentro do frasco. "Quando a gente fala de consumo consciente, não pode pensar só no cosmético, tem que pensar na embalagem. Eu trabalho hoje só com vidro e papel certificado (FSC), de florestas sustentáveis. E trabalhamos a economia circular: a semente do cupuaçu, que antes se estragava enquanto se usava a polpa, hoje é aproveitada integralmente", explicou.

No entanto, Daniela expôs um gargalo técnico que freia o desenvolvimento de biocosméticos na região: a legislação de patentes. Segundo a especialista, proteger a propriedade intelectual de um produto natural no Brasil é complexo, pois pequenas alterações na fórmula configuram um novo produto, deixando o pequeno empreendedor vulnerável à cópia.

"A gente não consegue registrar o produto de forma a se proteger totalmente no Brasil. Se você muda 1% da formulação, já é outro produto. A solução que encontramos para o próximo passo é uma parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA). Estamos fazendo uma transferência de propriedade intelectual de tecnologia verde. Vamos desenvolver óleos vegetais da Amazônia com tecnologia, e aí sim conseguimos proteger a tecnologia, o processo, e não apenas o produto final", detalhou a farmacêutica.

Dinheiro que educa e transforma

Para que a inovação de Daniela e a tradição de Dona Nena ganhem escala, o capital é indispensável. Karoline Alves, assessora de Negócios PJ do Sicredi, enfatizou que o papel da instituição financeira mudou: deixou de ser apenas um balcão de empréstimos para ser um centro de consultoria, com foco especial no empoderamento feminino. Ela citou o Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe), linha em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), como exemplo de política afirmativa para mulheres.

"Hoje temos linhas direcionadas só para mulheres, para impulsionar pequenas empresas. Mas a preocupação vai além de 'quanto vou te ofertar'. Fazemos um trabalho forte de educação financeira, orientando sobre o que é lucro, o que é pró-labore, se a precificação está correta. O dinheiro vai realmente alavancar o negócio ou trazer um endividamento porque a pessoa não sabe utilizar o recurso? No cooperativismo, o associado é dono, então o foco é o crescimento sustentável", pontuou Karoline.

A visão foi complementada por Diego Paes, gestor de marketing do Sicredi, que justificou o apoio ao Lib Talks como uma estratégia de fortalecimento regional. "A gente fala muito sobre a Amazônia, mas geralmente tem pessoas de fora querendo falar sobre ela. Um projeto como esse, aqui na nossa casa, faz todo o sentido porque traz o protagonismo de falas amazônicas por amazônidas. Apoiar o empreendedorismo feminino não pode ser só no discurso, tem que ser de maneira prática, colocando o recurso para que essas mulheres transformem a realidade de suas famílias", afirmou Paes.

Identidade e expansão regional

Durante a mediação do painel, a jornalista Mary Tupiassu fez uma defesa enfática da identidade paraense diante dos olhares externos trazidos por eventos como a Conferência do Clima. Para a diretora do Grupo Liberal, o momento é "didático" para o mundo e de afirmação para quem vive aqui.

"As pessoas falam que o paraense é bairrista, mas não é. O paraense é consciente dos seus valores, por isso ele tem uma autoestima elevada. A gente não abaixa a cabeça no que a gente sabe: que a nossa gastronomia, nossa música e nossa cultura são incríveis", disse Mary.

Ela também anunciou a dimensão continental que o projeto tomará a partir de agora. O debate em Belém foi apenas o primeiro de uma série que percorrerá toda a Amazônia Legal. "Cada parte da Amazônia tem sua especificidade. Esse projeto é lindo e o Grupo acredita muito no que ele pode trazer para a nossa audiência multiplataforma. O próximo será em Manaus, e vamos seguir mostrando que esse caminho da bioeconomia como geração de receita é viável para todo o Brasil", acrescentou.

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