Norte do país se destaca na 14ª Bienal Sesc de Dança, em Campinas
Evento acontece de 25 de setembro a 5 de outubro, com cerca de 80 atividades entre espetáculos e ações formativas

A 14ª edição da Bienal Sesc de Dança tem início nesta quinta-feira (25) em Campinas e segue até 5 de outubro, reunindo cerca de 80 atividades entre espetáculos, encenações, instalações e ações formativas. Com participação de 18 países e 10 estados brasileiros, o evento celebra uma década de história do projeto na região, apresentando corpos, ritmos e linguagens de diferentes partes do mundo e expandindo os limites da cena contemporânea.
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E o Norte do país está muito bem representado! O paraense Juani Maniva apresentará a cênica-ritualística “Rito Artístico: Farinha Poética” nos dias 29 e 30 de setembro, às 19h, no Jardim da Casa do Lago (Unicamp). A apresentação propõe um ato de reconciliação entre corpo, território e ancestralidade, baseado na produção de farinha de mandioca, prática presente desde a infância do artista em Concórdia do Pará.
"Gestos como cortar maniva, colher e descascar mandioca, torrar e peneirar farinha, tomar banho de igarapé, assobiar para chamar o vento, acender lamparinas e comer farinha com a mão – que compõem o trabalho coreográfico – estão impregnados de sentidos e memórias. Não apenas para mim, mas para quem vem dos interiores da Amazônia. Quando esses gestos são convocados no rito artístico, criam-se portais relacionais de memórias pessoais e coletivas”, enfatizou o artista.
A indígena Uýra, de Manaus (AM), encenará o “Ponto Final, Ponto Seguido” nos dias 30 de setembro e 1 de outubro, às 16h, na Praça Rui Barbosa. Segundo adiantou a artista, ela vai atualizar terra preta para desenhar um sistema radicular em grande escala, evocando a natureza adormecida sob a cidade. Em relato sobre a criação da obra, Uýara explica que o espetáculo nasceu em 2021, durante residência na Áustria, e busca relembrar territórios indígenas apagados pela história e pela urbanização, ativando ressurgências de vida nos espaços públicos.
"Isolada durante a pandemia, tive acesso à geografia histórica da cidade e à maneira como a riqueza de toda sua arquitetura vinha de territórios indígenas, como o meu, Amazônias – e em como a violência da participação do país no Holocausto está encoberta por uma arquitetura, com monumentos que negam essa história. Tudo cimento cobrindo as violências coloniais e a Terra, e criando o movimento oposto: o do orgulho por estas histórias. Por isso, decidi apresentar esta performance sempre em locais públicos e associados a monumentos das cidades”, contou.
Já a DJ Pedrita se apresentará no dia 2 de outubro, às 22h30, na Área de Convivência do Sesc Campinas. Pioneira na cena de aparelhagem do oeste do Pará, ela leva ao palco o brega, tecnobrega e tecnofunk em um set musical acompanhado pelos artistas indígenas Bambam Borari e Miranha Borari, celebrando identidade, resistência e festa nortista.
Vasta programação
A abertura da Bienal contará com “O Balé que Você Não Vê”, criação do Balé Folclórico da Bahia, que leva o público aos bastidores da companhia, mostrando a força e os desafios de manter viva a dança afrobaiana profissional no Brasil. Fundado em 1988, o grupo possui direção artística de José Carlos Arandiba e direção geral de Walson Botelho, e a montagem transita entre tradição e contemporaneidade.
Para os amantes de arte, fica a boa notícia: a programação do evento se estenderá por vários pontos de Campinas com apresentações de rua, intervenções em espaços públicos e atividades voltadas ao público infantil e familiar. As ações formativas incluem oficinas, encontros teórico-práticos, um projeto educativo de mediação em dança e a presença da Banca Tatuí com publicações especializadas.
Segundo Ana Dias, da equipe de curadoria, a edição busca aprofundar relações com a cidade, apresentar a produção atual da dança contemporânea e convocar comunidades a trocar saberes e experiências. “Convocando, assim, comunidades que trazem o movimento como identidade a se reunirem e trocarem seus saberes", complementou.
Sobre a presença de artistas notista no evento, ela explicou que traz novas perspectivas que conectam ancestralidade e inovação. “No desejo de expandir os horizontes e trazer a riqueza da cena nortista, tivemos que nos propor a outros modos de pesquisa e de nos relacionar com os artistas”, afirma.
Para Ana, os trabalhos da região Norte apresentados na Bienal propõem recriar e manter memórias, tradições e ritos, convidando o público a refletir sobre relações mais profundas e sustentáveis.
A curadora também destaca que a programação busca envolver o público de forma ativa. “O evento convida o público a dançar, participar e se envolver, não apenas assistir passivamente, seja no Baile Charme, nos pontos de encontro ou nos workshops. O brincar é um dos temas mais pungentes, trazendo essa ação como um modo de inventar mundos, seja feita por adultos ou crianças”, disse.
A Bienal receberá artistas de 18 países, incluindo França, Guadalupe, África do Sul, Angola, Áustria, Bélgica, Chile, Colômbia, Estados Unidos, Japão, Líbano, México, Portugal, Ruanda e Suíça. Entre eles, Lēnablou (Guadalupe) apresenta Le Sacre du Sucre, enquanto Gaëlle Bourges (França) cria A mon seul désir; Nach Van Van Dance Company (França) apresenta Cellule; Betty Tchomanga e Ndoho Ange interpretam Mascarades; e Eva Doumbia realiza Autophagies.
Realizada pelo Sesc São Paulo, com apoio da Prefeitura Municipal de Campinas e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
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