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Literatura amazônica quer seu lugar de fala na COP 30

Escritora argumenta que a ecopoética amazônica tem poder para estimular a reflexão e se aproximar do universo das pessoas por meio da fantasia e dos sonhos

Edyr Gaia / Especial Para O Liberal
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Um lugar para a literatura na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP 30, em Belém, é reivindicado pelos escritores paraenses e a voz da poeta e romancista, Josette Lassance, se manifestará sobre o assunto durante a VI Festa Literária Internacional do Xingu (FLIX), que acontecerá em Altamira, entre 13 e 17 de agosto, com o tema "Mulheres Amazônidas: Literaturas e Outras Margens Poéticas". 

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“É através da literatura, da criação, que se desenvolve uma reflexão, através da fantasia e dos sonhos, podendo se aproximar do universo dos leitores”, argumenta Josette, que fará a conferência “COP 30: há lugar para a literatura; o ativismo e a ecopoética na Amazônia”, durante a FLIX, no dia 15.   

Segundo Josette, a literatura amazônica tem vários representantes do que ela chama de nicho ecológico. “São escritores e escritoras indígenas, pautando a floresta, as cidades, a responsabilidade daqui para frente, onde teremos que somar. Vamos todos encorajar as novas gerações de leitores para que não abandonem essa luta. É isso, ou a degradação”, diz ela, ao mencionar o grupo Mulherio das Letras, coordenado por Eva Potiguar, contadora de histórias e vencedora de um prêmio Jabuti, e Ailton Krenak, que defende a união dos povos da floresta,  como expoentes da questão ambiental na literatura.  

Na avaliação da escritora, a presença da literatura na COP 30 pode acontecer por meio da apresentação das obras, leituras, debates, varais, lançamentos de livros, e, principalmente, um diálogo com os autores. “Textos, colagens, criam experiências imersivas sobre a relação da literatura com a questão ambiental”, exemplifica.

ATIVISMO  

Para Josette Lassance, o ativismo ecopoético não se resume à palavra e exige experimentações com a terra. “Precisamos ter esse contato, porque somente através dele nos conectamos de verdade com a necessidade vital de nossa existência”, diz a escritora, ao lembrar que, sem floresta, não há animais, não há chuva e principalmente, não há água. “Sem tudo isso não temos perspectiva de qualidade de vida”.  
 
Ela destaca o espaço aberto pela FLIX às vozes femininas amazônidas, com a presença de escritoras de outros países também ligados à questão indígena e ambiental. “Não dá para separar a questão indígena da questão ambiental, porque os indígenas vivem uma verdadeira simbiose nas florestas”, lembra. A escritora atribui as ameaças ao bioma amazônico ao avanço das áreas de pasto, à expansão da monocultura da soja e à mineração.  

Josette considera a feira literária do Xingu uma realidade transformadora. “Estive na feira passada e pude perceber a beleza das danças dos Xicrin, a fala dos homens e mulheres africanas, da escritora Guiomar de Grammont (com quem publiquei um livro), a dedicação da professora doutora Ivonete Coutinho, organizadora do evento, a presença dos alunos do curso de Letras como voluntários. Pude perceber que existe muita criticidade e muita conscientização dos problemas do Xingu, como incêndios, a criação de Belo Monte, a explosão de uma ilha inteira onde os animais atravessaram nadando até Altamira, o que me inspirou a escrever uma poesia, presente em meu livro atual”.

OPORTUNIDADE  

Para ela, a FLIX é uma oportunidade de unir escritores e pensadores do Brasil e de alguns países. “Teremos também neste ano, a presença do poeta João de Jesus Paes Loureiro”, cita. Sobre o papel dos escritores, ela afirma que se trata de colocar à frente da fama narcísica uma causa tão urgente quanto nossa sobrevivência. “Não basta escrever. Precisamos ir para as ruas porque o plástico está invadindo nosso ecossistema, nossos intestinos, nossas crianças, nossos rios, nossos mares, nossa comida, nossas fezes”. 

Para ela, os escritores precisam criar uma leitura repleta de possibilidades e encorajar a juventude a reagir, porque o futuro pertence a eles. “Escrever é fazer justiça com as próprias mãos, e eu não vejo outra forma de luta que venha com a força que os livros possuem, porque sempre tiveram o poder de mudar o mundo” .

Nesse aspecto, ela destaca como figuras de destaque na questão ambiental escritoras como Olga Savary, Eva Potiguara, Guiomar de Grammont, Auritha Tabajara, entre muitas outras.  

Josette começou a escrever aos 14 anos. Seu primeiro livro de poemas foi ‘Vida de Bruxa’, depois vieram ‘Os gatos nus passeiam sobre os telhados sujos’, ‘Os cinco Felizes’, ‘Crônicas, sonhos e cafés’, ‘Buen Camino’, lançado na Espanha. Também escreveu um livro com Olga Savary e Guiomar de Grammont, ‘A Solidão em Dallas’ e ‘Aprendiz de fadas invisíveis’, pela Ed. AMO. “Atualmente estou escrevendo a biografia de meu pai (Lassance Maia), que era artista plástico e professor de desenho, e um livro de contos em parceria também com a escritora mineira Guiomar de Grammont”.

"Xingu  
Enterraram o rosto das árvores   
O valor foi se espalhando   
Tornando a ilha em pedras  
Sem flores  
Cavaram buracos na terra  
Os animais fugiram na lua vermelha   
As mulheres Xicrins pintam a pele dos brancos   
O Xingu é uma estrada líquida   
Belo Monte é um poema   
Pantanoso no mundo dos escuros
".

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