K-pop movimenta salas de dança em Belém e ganha espaço entre jovens e adultos
Aulas despertam autoestima entre os estudiosos e criam vínculos entre diferentes gerações

O K-pop, gênero musical da Coreia do Sul que mescla música, coreografias marcadas e moda, surgiu nos anos 90, mas ganhou popularidade com o avanço das redes sociais. De fenômeno digital, o estilo passou a ocupar palcos, eventos temáticos e, agora, também as salas de aula.
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Em Belém, essa tendência se consolidou com iniciativas como a da Escola de Dança Lumiar, localizada no bairro do Marco, que há cinco anos incluiu essa opção em sua grade de ensino, e passou a manter uma turma dedicada exclusivamente ao estilo. A aula, realizada aos sábados, reúne alunos de diferentes idades, que têm em comum o interesse por um universo coreográfico que vai além do entretenimento: envolve disciplina e expressão artística.
Quem lidera essa turma é o professor Rui Pacheco, de 30 anos, que encontrou no K-pop não apenas uma paixão antiga. Ele revela que conheceu o gênero musical em 2013, quando começou a se envolver com grupos de dança que se apresentavam em eventos voltados à cultura oriental.
A partir daí, seu interesse pelo estilo cresceu e se somou a experiências em outros gêneros, como hip-hop e jazz funk, que também estão presentes no estilo musical . Em 2022, ele passou a lecionar na escola de dança, inicialmente substituindo um colega.
“As coreografias do K-pop são uma mistura de vários estilos de dança, como pop, eletrônica, balada, locking e o contemporâneo. Não existe um passo fixo, mas um conjunto coreografado que exige expressão facial, postura e sincronia”, explicou.
Segundo Rui, o aumento na procura por pessoas que queiram participar da turma de dança se intensificou nos últimos dois anos com a explosão do estilo em vídeos de “dancinhas virais” no Tik Tok. Ao todo, são cerca de 12 alunos que participam do grupo de aula.
“Além das atividades regulares, os alunos se preparam para espetáculos da escola, com apresentações que vão além da execução técnica dos movimentos, incorporando também interpretação e cenografia inspiradas nos grupos de K-pop”, comentou o professor.
Vivências e técnicas
Glenda Andrade, de 22 anos, é licenciada em dança e atua como estagiária ao lado de Rui. Ela destaca que a turma é composta por pessoas de 9 a 40 anos, o que permite uma troca de experiências rica e variada.
“As alunas mais jovens pegam geralmente os passos mais rápido porque têm mais tempo livre para praticar. Mas as mais velhas também se soltam bastante”, observou.
Para ela, um dos maiores diferenciais do K-pop é o uso expressivo do rosto. “Não basta saber os passos, é preciso interpretar, dublar, incorporar o artista”, disse.
Glenda explica que, durante as aulas, além das coreografias, também são abordados conceitos técnicos de dança, como transferência de peso e expressão corporal. Ela aponta que o aprendizado da dança do K-pop contribui para o desenvolvimento da autoestima, da coordenação motora e da segurança em cena.
“Apesar de não existirem muitos livros sobre K-pop, a gente aprende muito, na prática, através da vivência e das competições que participamos. Isso ajuda a trazer a cultura para mais perto da nossa realidade local”, afirmou.
Do preconceito ao empoderamento
Entre os alunos que participam das aulas de dança está o universitário Wells Matheus Silva da Costa, de 23 anos. Ele relata que conheceu o K-pop em 2019 e se encantou pela estética, pelas coreografias elaboradas e pelas apresentações dos grupos.
“Foi através do K-pop que descobri minha paixão pela dança e resolvi entrar para a faculdade de licenciatura em dança”, contou.
Desde então, ele afirma ter notado mudanças positivas na saúde física e emocional. “A dança virou um novo passatempo, uma nova paixão”, diz, destacando também o impacto social da prática.
“Participar de competições e estar nesse meio ajuda a quebrar o preconceito. Tem muito disso: ‘Homem’ não pode dançar. Mas a gente vê muitos idols masculinos dançando, e isso abre portas para outros meninos entrarem também”, acrescentou.
Wells também ressaltou o apoio familiar que recebe. “Minha madrinha, por exemplo, me ajuda muito com os figurinos. Isso é importante”, disse.
Ele acredita que sua participação na turma pode inspirar outros jovens a superarem barreiras sociais e culturais. “Estar nas redes sociais dançando, se apresentando, pode incentivar outros meninos que têm vontade, mas ainda sentem medo por conta do preconceito”, falou.
Já a estudante Adhair Raquel Alcântara, de 15 anos, descobriu a dança ainda na infância, dançando sozinha em casa. No entanto, foi apenas recentemente que encontrou coragem para buscar um espaço fora do ambiente doméstico.
“Quando encontrei a escola de dança e soube das aulas de K-pop, eu senti que era minha oportunidade de me encontrar na dança”, relatou.
Participante da turma há quatro meses, Raquel vê a prática como mais do que uma atividade física. “Eu comecei a me sentir viva novamente porque pude praticar aquilo que eu amava”, afirmou.
Raquel também destacou os aspectos emocionais e sociais da experiência. “O K-pop me trouxe disposição, motivação e uma conexão intensa com algo que eu realmente amo”, disse.
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