HQ ‘Os Poderosos Treme-Terra’ resgata memória das aparelhagens do Pará
Publicitário Andrey Rodrigues lança campanha para financiar história em quadrinhos inspirada no brega paraense e em elementos amazofuturistas.
As aparelhagens de som das tradicionais festas de brega do Pará carregam uma energia nostálgica que transporta o público para sucessos recém-lançados e para músicas que marcaram diferentes gerações. Foi esse cenário que inspirou o publicitário Andrey Rodrigues, morador da Terra Firme, em Belém, a criar a primeira HQ de “Os Poderosos Treme-Terra”. A obra une conhecimento ancestral, música, tecnologia e super-heróis amazofuturistas, e está com campanha de financiamento coletivo aberta.
A ideia surgiu após Andrey participar da gravação de um comercial como diretor. Ele imaginou as aparelhagens como portais que guardam forças ancestrais e que, ao serem invocadas pelas músicas, se transformam em naves de super-heróis. Essa relação vem das próprias vivências do autor. “As aparelhagens fazem parte de minhas memórias afetivas. Lembro dos altares sonoros em festa de interior, festa de São Sebastião, dos Círios, músicas de Beiradão, bregas do Ted Max, Lambadas e House (Midback). Depois, a fase do Melody, Tecnomelody e enfim Tecnobrega... Festas em sindicatos. Lembro o comecinho da Gaby Amarantos”, contou.
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Inspirações para criar o universo da HQ
Andrey explica que cada fase do brega paraense contribuiu para a construção do universo dos quadrinhos. “Depois teve a revolução das naves do som, quando elas viraram estes espetáculos tecnológicos pop. Este Afrofuturismo que tanto se fala hoje, a gente já fazia. Só que era afro-indígena-caboclo-tecnológico, que o centro via como uma ‘caboquice’”, disse, ao mencionar elementos como cores, luzes e pirotecnia. Ele cita ainda referências de obras como “Pantera Negra”, produções de Ryan Coogler e livros como “O Último Ancestral”, de Alê Santos, além dos escritos de Eliana Alves Cruz".
Super-heróis inspirados em saberes amazônicos
Na HQ, os protagonistas são os carregadores de aparelhagem e os DJs que conduzem as naves de som. O enredo propõe uma viagem no tempo marcada por redescobertas. “Queremos mostrar que nós somos o futuro e que isso está representado em tecnologias antigas também, como as ervas (biomedicina), o tambor, os toques, as batidas que nos conectam com nossos avós. Os sonhos também são portais pro nosso povo”, explicou o publicitário.
Financiamento coletivo e expansão do projeto
A campanha de financiamento de “Os Poderosos Treme-Terra” está disponível no site Catarse e recebe contribuições entre R$ 35 e R$ 110. Segundo Andrey, os recursos serão usados para custear profissionais, fornecedores e a impressão da obra. “O público pode esperar uma história decolonial. Um novo olhar pra ficção... heróis não do centro, não de Nova York... mas heróis da Terra Firme, Guamá, Jurunas, Benguí, etc.”, afirmou.
O autor também planeja dar continuidade ao projeto, dependendo da adesão do público. “Adoraria dar sequência nas histórias. Poder viver disso. Já pensou ‘OS PODEROSOS TREME-TERRA 2’? Mas aí vai depender do público. Eles vão querer ouvir mais? Eu só sou o contador dos causos”, disse. “Te garanto que a cabeça de onde saiu essa história está fervendo com muitas outras. Tô doidinho pra contar.”
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