Documentário mostra o processo para utilização do 'tambor' das religiões de matriz africana
O média-metragem "Um Tambor Para a Mata" será apresentado nesta segunda, 23, no Líbero Luxardo em Belém

Apresentar a construção física de um tambor até a sua transformação em entidade é a missão a que se propõe o documentário “Um Tambor Para a Mata”. Produzido e dirigido por Alessandro Campos, o média-metragem tenta mostrar de forma sensível e respeitosa todo o processo necessário para a utilização do instrumento musical mais importante nos rituais desta religião e terá um lançamento exclusivo para convidados hoje, às 19h, no cine Líbero Luxardo, no Centur. Após a exibição, haverá uma Roda de Conversa com as antropólogas Anaíza Vergolino e Silva, Marilu Campelo, Taíssa Tavernard, Denise Cardoso e o historiador Michel Pinho além de convidados especiais do Povo de Santo da cidade.
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O filme percorre o caminho de seu nascimento no mundo físico, sua fabricação numa oficina à base de ferro, fogo, couro e plástico, até sua transformação em uma entidade viva que merece toda reverência e respeito, num ritual elaborado e sagrado de seu batizado, dentro da Religião de Matriz Africana Tambor de Mina. Em 34 minutos, Campos, conta a trajetória do principal instrumento usado nos rituais de religiosidade africana. O documentário se originou na dissertação de mestrado de Alessandro Campos, defendida em 2014 pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia, onde pesquisou os tambores que estão sob a salvaguarda da Reserva Técnica do Laboratório de Antropologia Arthur Napoleão Figueiredo, da UFPA. Nesta pesquisa, ele faz um passeio pelos antigos tambores que estão nesta reserva, desde os anos de 1960: sua vida social e sua fabricação. Também busca conhecer como nasce, efetivamente, um tambor para as religiões de matriz africana, especialmente o Tambor de Mina, atualmente.
“As primeiras imagens foram feitas em 2013, quando o tambor foi encomendado e fabricado exclusivamente para a finalização da pesquisa de mestrado. É quando ele nasce no mundo físico, na oficina de Dona Ceci. Faltava ainda conhecer como ele se tornava uma entidade, conhecer o processo, o ritual. Somente em 2018 retomei a ideia de finalizar o filme, foi quando conheci Mãe Telma que, com muita generosidade e carinho, acolheu esse desafio depois de ter as autorizações necessárias para tal empreitada. A montagem e finalização se inicia em 2020 e finalmente o filme fica pronto em 2021 e começa a ser selecionado em alguns festivais”, relata Alessandro.
O produtor sempre se preocupou com o racismo e a perseguição que estas religiões sofrem, por isso o filme trata desta temática de modo sensível e respeitoso, mostrando toda beleza, reverência e carinho com que acontecem os rituais, as festas e as relações entre filhos e filhas, pais e mães-de-santo e as entidades que descem para celebrar, dançar, festejar e ajudar as pessoas. “Eu só tenho que agradecer a todos e todas que fizeram esse filme comigo, sobretudo à Mãe Telma da Casa Nossa Senhora da Batalha, e todos seus filhos e filhas, que recebeu com tanto carinho a equipe durantes as várias semanas de filmagem”, ressalta. “Acredito firmemente que o filme etnográfico/documentário tem realmente essa função, esta militância mesmo de buscar sempre mostrar outras religiões e culturas, diferentes da nossa – que nunca são tão diferentes assim - com respeito e de modo a celebrar a diversidade: não há mais espaço para uma Antropologia que não seja militante, sobretudo a Antropologia Visual”, destaca.
A professora da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Taissa Tavernard, é praticante e pesquisadora das religiões de matriz africana. Ela participará do lançamento e ressaltou os efeitos positivos deste tipo de produção para a sociedade.
“Esse tipo de documentário é de profunda importância para a comunidade afro-religiosa, e aqui eu estou falando não só como como uma pessoa iniciada no Tambor de Mina, que é uma das matrizes afro-religiosas presentes na Amazônia. Eu acho que esses trabalhos divulgam a religião e desconstroem toda e qualquer imagem de preconceito, de racismo religioso que possa vir a pairar sobre elas”, pondera. Para ela, as informações e fatos precisos trazidos ao público por pesquisadores, como Alessandro, são essenciais no combate à intolerância.
Além disso, a divulgação de aspectos da teologia afro-brasileira também é interessante. “A música, a dança, a oralidade. Tudo é importante para a sociedade perceber que existem religiões que adoram outro tipo de sagrado e adoram esse sagrado a partir de outras perspectivas. Nesses casos, o canto e a dança servem como mecanismos, como formas de contar a mitologia. Se conta pela oralidade, mas também se conta dançando e cantando. O tambor é um instrumento sagrado, ele não é só um instrumento musical. É uma divindade. Ele é um instrumento fundamental porque mantém o contrato entre os homens e os deuses. A função do tambor é trazer os deuses para a terra, estimular o transe, manter essa intimidade que é própria das religiões de transe. Entre elas as afro-indígenas. A simbiose entre o divino e o humano. O tambor é um instrumento fundamental processo”, ressalta.
O documentário ainda não tem data de estreia para o público geral, pois concorre a prêmios em diversos festivais, como a II Mostra Latinoamericana de Filmes Etnográficos, o Festival Internacional de Cinema do Caeté e o VI Festival de Cine Etnográfico de Ecuador.
Agende-se
Exibição do documentário "Um Tambor para a Mata"
Hora: às 19h
Local: Cine Líbero Luxardo (Centur: Av. Gentil Bitencourt, 650 - Nazaré)
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