Dança, mitos e floresta se encontram em 'Amazônia Motirô', no palco do Theatro da Paz hoje (19/11)
Montagem reúne 40 bailarinos, orquestra sinfônica, soprano, percussionista indígena e cenários virtuais inspirados na floresta
Concebido como um ritual cênico em que corpo, som e imagens se entrelaçam para conduzir o público por uma viagem simbólica pelos rios, florestas e mitos, o espetáculo “Amazônia Motirô” será apresentado nesta quarta-feira (19) no Theatro da Paz. A criação da Cia. de Dança Ana Unger, dirigida pela coreógrafa Ana Unger, terá duas sessões, às 18h e às 20h30, com ingressos disponíveis na plataforma Ticket Fácil e na bilheteria do teatro.
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Ana Unger explica que a montagem foi planejada especialmente para o período da COP 30, para celebrar a arte e a floresta. Ela afirma que o público encontrará uma experiência de forte dimensão sensorial. “O espetáculo é um encontro de linguagens que se complementam: a força da dança contemporânea, a energia de 100 intérpretes em cena, a musicalidade da orquestra ao vivo, a presença da soprano Juliana Brabo, do percussionista Kleber Benigno, da pesquisa da xamã Aiyra Amana e a participação de Erika Keuffer”, disse.
A diretora destaca que o conceito central da montagem está no próprio nome da obra. “A palavra ‘motirô’ expressa a ideia de fazer junto, de mover-se coletivamente. Esse conceito é a espinha dorsal do espetáculo”, afirma.
Segundo Ana Unger, a dramaturgia nasceu da compreensão de que a Amazônia sempre foi um território de cooperação. “Ao abordar coletividade, floresta, sustentabilidade e espiritualidade, buscamos lembrar que a preservação não é um ato isolado: é um movimento. Um movimento para as águas, para a terra, para os encantados, para o futuro”, explicou.
Ela revela que a obra também dialoga com textos do líder indígena Davi Kopenawa, que reforçam o eixo filosófico da peça. “A mensagem é simples e profunda: a floresta continuará viva, se nós escolhermos cuidar e proteger”, afirma.
A diretora acrescenta que a nova produção se soma à trajetória da companhia, iniciada há muitos anos. “Depois de ‘Nuances da Amazônia’, nosso primeiro espetáculo em 1998, vieram ‘Olho Mágico’, ‘Acqua’, ‘Paraíso Verde’, ‘A Árvore que Chora’. Compreendemos que nossa missão artística é inspirar gerações e despertar consciência para esse território único. Por isso, apresentar ‘Amazônia Motirô’ durante a conferência é mais do que uma estreia; é um gesto de responsabilidade cultural”, disse.
Montagem
A montagem reúne 40 bailarinos e trilha sonora original assinada por Thiago D’Albuquerque, executada pela Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, sob regência do maestro Miguel Campos Neto. Convidados também integram a encenação, entre eles o percussionista Kleber Benigno, do Trio Manari, que interpreta um sábio indígena. Os cenários virtuais são criação de Roberta Carvalho, e os figurinos foram desenvolvidos por Jacque Carvalho, que utilizou materiais recicláveis e elementos fornecidos por comunidades indígenas.
Jacque explica que o processo de criação buscou aproximar arte e sustentabilidade. “Foram utilizados materiais descartáveis como plásticos, redes de pesca, restos de malha e escamas de pirarucu. Cerca de 70% do figurino é reaproveitamento. É o trabalho de arte com sustentabilidade”, disse.
Ela acrescenta que as peças tradicionais enviadas por comunidades indígenas foram tratadas com rigor e cuidado. “Tudo é sagrado: territórios, rituais, vestimentas de pajés, xamãs, das filhas dos pajés. O figurino foi feito com respeito à ancestralidade, realizado de maneira não folclórica, longe dos estereótipos”, complementa.
Musicalidade
A trilha criada por Thiago D’Albuquerque mistura sons naturais da floresta, cantos indígenas e a cadência do carimbó. O compositor afirma que sua inspiração surgiu da necessidade de falar sobre responsabilidade ambiental. “A gente quer provocar uma reflexão sobre os lixos jogados nos rios, mares e lagos. Precisamos fazer esse mutirão para limpar, mas também para conscientizar as pessoas a não sujarem a natureza”, explica.
Ele destaca que sua proposta musical busca aproximar o público da floresta. “Desde o som dos pássaros até o ritmo suingado do carimbó, a plateia vai sentir a floresta de perto, guiada pela música e pela força da orquestra”, acrescenta.
Para o maestro Miguel Campos Neto, a construção de obras contemporâneas faz parte da função artística. “A minha atuação teria uma lacuna se eu trabalhasse apenas com os grandes mestres do passado. É fundamental descobrir, criar e trabalhar com os compositores e coreógrafos do presente. Todas as obras consagradas já foram contemporâneas e nós estamos criando os clássicos do futuro”, afirma.
“O segredo está na união entre os artistas. Coreógrafa, bailarinas, compositor, orquestrador e regente precisam dialogar e criar juntos. A música existe em função da dança, e a dança existe por causa da música. Nenhum desses elementos se sustenta sozinho”, complementa o maestro.
O ensaio visual do espetáculo foi produzido pelo fotógrafo Marcos Hermes, conhecido por trabalhos com artistas como Gilberto Gil, Milton Nascimento e Caetano Veloso. O espetáculo tem apoio cultural do Banpará e do Governo do Estado.
SERVIÇO:
Espetáculo ‘Amazônia Motirô’
- Data: quarta-feira, 19 de novembro;
- Sessões: 18h e 20h30;
- Local: Theatro da Paz;
- Ingressos: Ticket Fácil e bilheteria do teatro.
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