Armando Babaioff vem a Belém com a peça Tom na Fazenda, fenômeno internacional

O texto do canadense Michel Marc Bouchard, com direção de Rodrigo Portella, fica em cartaz nos dias 4 e 5 de novembro no Teatro do Sesi, em Belém

Abílio Dantas
fonte

O ator e idealizador teatral Armando Babaioff é cria da escola pública brasileira, o que o faz ter consciência do tamanho dos problemas do país. Na peça Tom na Fazenda, espetáculo já apresentado para mais de 650 mil pessoas em mais de 350 apresentações, com repercussão internacional de público e crítica, as violências cometidas contra a população LGBTQIAPN+ são o foco da trama, que conta a história de Tom, um jovem publicitário que vai ao funeral de seu namorado e se depara com preconceito e hipocrisia.

A temporada itinerante nas regiões Norte e Nordeste da peça é realizada através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, apresentada pelo Ministério da Cultura, com patrocínio da Vivo.

VEJA MAIS

image Dia Nacional do Teatro: artistas avaliam as perspectivas no Pará
Nesta terça, 19, é o Dia Nacional do Teatro e Dia Nacional do Teatro Acessível

image 'Solo de Marajó' em nova temporada no Teatro do SESI
O ator Claudio Barros se apresenta sozinho no palco e narra oito histórias tiradas da obra do escritor paraense Dalcídio Jurandir

image Espetáculo teatral Ver de Ver-O-Peso completa 40 anos em atividade em Belém
O Grupo Experiência realiza uma das peças de teatro mais longevas do Brasil

A peça será apresentada pela primeira vez em Belém na próxima semana, nos dias 4 e 5 de novembro, às 20h e 19h, no Teatro do Sesi. Com passagem pela TV Globo, em novelas como Páginas da Vida, Malhação e Bom Sucesso, o artista fala com exclusividade ao Grupo Liberal sobre a trajetória do espetáculo, as relações com a história recente do país e os desafios de “furar a bolha” e levar teatro ao maior número possível de pessoas.

Fale um pouco sobre a vinda da peça Tom na Fazenda para o Norte do país. Será a sua primeira vez em Belém?

Essa é a primeira vez que vamos com Tom na Fazenda para Belém, mas não é a minha primeira vez na cidade. Aliás, Belém é uma das minhas cidades favoritas desse Brasil, faz muito tempo que não retorno e estou aproveitando essa ida com a peça, para além de nos apresentar, curtir um pouco, matar as saudades dos amigos, devo inclusive ficar mais alguns dias.

Tom na Fazenda está em cena desde 2017, o que significa que passou por diferentes momentos conturbados da história brasileira recente. É possível dizer que o espetáculo também passou por mudanças?

Tom na Fazenda estreou em 2017, pouco mais de seis meses após o golpe contra Dilma Rousseff e um ano antes da eleição de Jair Bolsonaro. Era um período muito conturbado politicamente, que só se aprofundou com a ascensão de Bolsonaro ao poder. E, foi nesse cenário brasileiro, que ao longo desses últimos seis anos a gente foi percebendo o tanto que o espetáculo dialoga com o momento presente, com o aqui e o agora. Caminhamos com a sociedade.

A peça é considerada por seu autor, o dramaturgo canadense Michel Marc Bouchard, como a melhor montagem. A que você atribui essa opinião do próprio criador?

Michel Marc Bouchard e eu nos tornamos grandes amigos. Eu o conheci num festival de cinema em Montreal. Essas coincidências da vida. Eu já havia comprado os direitos do texto, quando fui convidado para ir a Montreal representar o filme Mãos de Cavalo, que havia sido selecionado para ser exibido no Festival de Cinema du Monde. Acabei encontrando o Michel Marc e ele disse que gostaria de conhecer o Brasil, o Rio de Janeiro, e que queria ver a nossa montagem. Ele veio, ficou tão surpreso com o que viu e fez o Festival TransAmériques, em Montreal, nos convidar. No ano seguinte a estreia, em 2018, estávamos lá, e foi nessa ocasião que ele me disse, logo após saber que o Brasil detém o ranking de assassinatos da comunidade LGBTQIAPN+ no mundo, que Tom na Fazenda fazia mais sentido no Brasil do que no Canadá, por exemplo, mas que, ao mesmo tempo, existia na nossa encenação e na concepção do Rodrigo Portella (diretor do espetáculo) uma qualidade artística que ele nunca havia notado em nenhuma outra montagem.

Fale um pouco da sua carreira como ator e produtor. Como sua trajetória como artista o levou a montar Tom na Fazenda?

Sou formado pela escola estadual de teatro Martins Penna e pela UNIRIO, todas escolas públicas, sendo a Martins Penna a escola de teatro mais antiga da América Latina e a mais sucateada. Eu venho do teatro. O teatro mudou a minha vida. Produzir foi mais um passo dentro desse lugar. Quando eu li o texto de Tom na Fazenda eu já sabia desde a primeira linha que eu queria fazer essa peça. Quando eu terminei de ler eu já sabia quem ia executar cada função, eu já estava produzindo, era outubro de 2014. Em março de 2017, a peça estreou com a mesma ficha técnica que imaginei.

A homofobia segue em pauta no Brasil. Como artista, notícias como o cerceamento buscado pelo Congresso ao direito de casamento homoafetivo o instiga a criar mais espetáculos em resposta?

No caso, tem me instigado a fazer essa peça. Estávamos re-estreando no Rio de Janeiro, no Teatro Municipal Ipanema, quando foi votada essa PL absurda. Nunca fez tanto sentido estar em cena como naquele dia. Fazer Tom na Fazenda fora da região Sudeste também faz parte do nosso desejo em levar teatro, fomentar público e principalmente discussões, provocações em todos os sentidos, porque isso também é uma maneira de fazer política, é micropolítica. Mas que reverbera.

Você disse em uma entrevista que não sente falta de fazer novelas, já que Tom na Fazenda está circulando o país todo. Na sua opinião, o que falta para que mais peças brasileiras possam ter o mesmo destino?

Falta mais investimento, as pessoas que detém o poder terem mais conhecimento do setor e boa vontade. Simples assim. O que fizemos com Tom na fazenda, além de planejamento, foi investir em algo ainda mais distante da nossa realidade cultural e econômica, mas que não é impossível, tanto que furamos uma bolha, conseguimos internacionalizar uma produção de teatro brasileira independente.

Assine O Liberal e confira mais conteúdos e colunistas. 🗞
Entre no nosso grupo de notícias no WhatsApp e Telegram 📱
Cultura
.
Ícone cancelar

Desculpe pela interrupção. Detectamos que você possui um bloqueador de anúncios ativo!

Oferecemos notícia e informação de graça, mas produzir conteúdo de qualidade não é.

Os anúncios são uma forma de garantir a receita do portal e o pagamento dos profissionais envolvidos.

Por favor, desative ou remova o bloqueador de anúncios do seu navegador para continuar sua navegação sem interrupções. Obrigado!

ÚLTIMAS EM CULTURA

MAIS LIDAS EM CULTURA