Circulação de águas do Atlântico pode diminuir chuvas na Amazônia; entenda!

Cientistas alertam para colapso iminente da principal corrente marítima global; entenda o que é a AMOC, por que o cenário futuro é preocupante e a vulnerabilidade da região Norte do Brasil

Riulen Ropan
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Uma nova pesquisa de grande impacto lançada na revista Nature Communications revela um risco alarmante para o clima global: a estabilidade da Célula de Revolvimento Meridional do Atlântico (AMOC), o principal "motor" da circulação oceânica, está seriamente ameaçada pela ação humana.

Após 6.500 anos de estabilidade, a circulação que transporta calor e nutrientes pelos oceanos pode sofrer um enfraquecimento sem precedentes no período recente da história da Terra. O alerta é especialmente grave para o Brasil, com projeções de uma drástica redução do regime de chuvas no norte da Amazônia, justamente a porção mais preservada da floresta.

O que é a AMOC e por que sua estabilidade é crucial?

A AMOC (Atlantic Meridional Overturning Circulation) funciona como uma gigantesca "esteira oceânica", movendo águas superficiais quentes do sul para o norte e águas frias e profundas no sentido oposto. Historicamente, oscilações nesse sistema têm sido ligadas a mudanças climáticas abruptas, como as ocorridas na última era glacial.

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Cientistas de Alemanha, Suíça e Brasil, incluindo o professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP) Cristiano Mazur Chiessi, reconstruíram a intensidade da AMOC ao longo dos últimos 12 mil anos (Holoceno). Eles utilizaram dados de sedimentos marinhos do Atlântico Norte e a análise de elementos radioativos (protactínio-231 e tório-230) como "proxy" da circulação oceânica.

"Nos últimos 6.500 anos, não detectamos nenhuma oscilação maior, minimamente próxima daquilo que está projetado para 2100. O cenário futuro é muito preocupante," afirma Chiessi.

Os dados confirmaram que, após oscilações no início do Holoceno (incluindo o notório evento de resfriamento "8,2 ka"), a AMOC se estabilizou em torno de 18 Sverdrups (unidade de medida do fluxo de água) e manteve essa intensidade até os dias atuais. Essa estabilidade, no entanto, está agora por um fio.

Ameaça climática: Enfraquecimento e impacto global

Combinando dados de campo com projeções dos mais avançados modelos climáticos, o estudo indica que as mudanças climáticas causadas pelo homem podem levar a um colapso ou um enfraquecimento drástico da AMOC.

Um enfraquecimento da AMOC pode causar profundas alterações no clima de todo o cinturão tropical do planeta, afetando não apenas a América do Sul e África, mas também os sistemas de monções na Ásia.

O efeito devastador no coração da Amazônia

O impacto mais preocupante para o Brasil é a drástica diminuição das chuvas no norte da Amazônia.

  • Deslocamento de Chuvas: O enfraquecimento da circulação do Atlântico faria as chuvas equatoriais se deslocarem para o sul.
  • Região Preservada: Isso afetaria justamente a porção mais intacta da floresta, que abrange áreas do Brasil, Colômbia, Venezuela e Guianas.
  • Vulnerabilidade Agravada: Enquanto o sul e o leste da Amazônia sofrem com desmatamento e degradação, o norte tem sido um "porto seguro" de biodiversidade. A mudança climática impõe uma vulnerabilidade nova e dramática a essa área crucial.

Estudos anteriores já alertaram que enfraquecimentos passados da AMOC levaram à expansão de vegetação sazonal em detrimento das florestas úmidas. Um enfraquecimento futuro, agravado pelo desmatamento e queimadas em outras partes da bacia, poderia ser catastrófico.

Rumo a um Ponto de Não Retorno?

O arrefecimento da AMOC é visto por muitos especialistas como um potencial ponto de não retorno no sistema climático. Se as projeções se confirmarem, será uma ruptura histórica no equilíbrio que sustenta o clima do planeta.

Embora o monitoramento direto da AMOC tenha começado apenas em 2004 e ainda não haja dados suficientes para cravar que o enfraquecimento já está em curso, a tendência é clara.

"A urgência de agir é inegociável. Ainda existe tempo, mas nossas ações precisam ser robustas, rápidas e conectadas, envolvendo governos e sociedade civil,” conclui Chiessi.

A COP30, que será realizada em Belém (Pará) em novembro deste ano, é vista pelos cientistas como uma oportunidade crítica para que líderes globais tratem com a seriedade necessária o risco iminente de colapso da AMOC e seus graves impactos na Amazônia.

(Riulen Ropan, estagiário de Jornalismo, sob supervisão de Enderson Oliveira, editor web de oliberal.com)

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