Pesquisadores propõem instituto nacional e novas áreas de proteção para a Foz do Rio Amazonas

Estudo estratégico aponta caminhos para ampliar o conhecimento científico e proteger a biodiversidade da região diante da iminente exploração petrolífera

Bruna Lima
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Instituições de pesquisa divulgaram os resultados do estudo “Cenários Estratégicos para a Ampliação do Conhecimento Científico e Proteção da Biodiversidade da Foz do Rio Amazonas”, elaborado a partir de seminários com especialistas de diversas áreas. A iniciativa propõe medidas concretas para fortalecer a atuação científica e ambiental na região que compreende os estados do Amapá, Pará e Maranhão, justamente onde se discute a possível exploração de petróleo em alto-mar.

Entre as principais recomendações do estudo está a criação do Instituto Nacional da Foz do Rio Amazonas, a partir da estrutura do atual Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá (IEPA). A proposta, defendida por pesquisadores e pelo secretário de Ciência e Tecnologia do Amapá, Edivan Andrade, prevê a federalização do instituto, que passaria à responsabilidade do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.

“O objetivo é transformar o IEPA em um centro de excelência científica voltado exclusivamente à região da foz, com estrutura semelhante à do Museu Paraense Emílio Goeldi”, explicou Andrade. A expectativa é que a proposta avance durante a COP30, considerando que a mudança exige articulação burocrática entre estado e União. A federalização garantiria mais recursos e capacidade técnica para estudar e conservar uma das regiões mais sensíveis e menos conhecidas da costa brasileira.

Outra medida prevista no estudo é a criação de um Mosaico de Áreas Marinhas Protegidas, que incluiria diferentes níveis de uso e, pela primeira vez, Unidades de Proteção Integral Marinhas na região. “Hoje não temos áreas de proteção integral no mar da foz do Amazonas. Isso é urgente, especialmente diante da perspectiva de exploração petrolífera”, alertou o pesquisador Zé Pedro Costa, da USP, um dos articuladores do estudo e reconhecido defensor da criação de áreas protegidas no país.

A possível exploração de petróleo na região foi um dos pontos mais debatidos durante a apresentação. Para João Pedro Capobianco, especialista em políticas ambientais, há um grave risco em avançar com atividades petrolíferas sem o devido conhecimento sobre os ecossistemas da foz.

“Estamos falando de uma área riquíssima em biodiversidade, mas ainda pouco estudada. Sem dados científicos confiáveis, é impossível avaliar os impactos reais da exploração. É preciso cautela e responsabilidade”, afirmou Capobianco.

O diretor do Museu Emílio Goeldi, Nilson Gabas, reforçou essa preocupação. Segundo ele, o atual desconhecimento sobre a dinâmica ambiental da região torna qualquer intervenção de alto impacto um risco. “Não se pode explorar uma região sem conhecê-la profundamente. Investir em ciência é um passo indispensável antes de qualquer tomada de decisão”, disse.

Os pesquisadores e gestores presentes destacaram, de forma unânime, a necessidade urgente de ampliar os investimentos em ciência e tecnologia voltados à região costeira amazônica, especialmente diante dos desafios trazidos pela mudança climática e pelas pressões econômicas sobre a área.

O Secretario de Estado de Ciência e Tecnologia do Amapá, Edivan Andrade, destacou a importância estratégica da região para o Brasil e o mundo, defendendo maior atenção à ciência e tecnologia na Amazônia. Ele anunciou o interesse do estado em sediar o futuro Instituto Nacional de Pesquisa da Foz do Amazonas, com possível federalização do IEPA, já discutida com a ministra Luciana Santos. O secretário afirmou que haverá articulação política para viabilizar o projeto, com expectativa de lançamento na COP30. Sobre a exploração de petróleo na região, ressaltou a necessidade de segurança ambiental e defendeu equilíbrio entre desenvolvimento econômico e preservação da biodiversidade e dos povos indígenas.

 

 

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