Sítio na Grande Belém é refúgio para animais silvestres resgatados do tráfico e maus-tratos

O espaço é, hoje, maior mantenedor de fauna silvestre credenciado pelo Ibama na região

Dilson Pimentel
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Localizado em Ananindeua, na região metropolitana de Belém, um sítio abriga 327 animais de mais de 50 espécies, entre jacarés, jabutis, aves, macacos e outras espécies amazônicas. O espaço é, hoje, maior mantenedor de fauna silvestre credenciado pelo Ibama na região, sendo refúgio para animais silvestres resgatados do tráfico e maus-tratos. O sítio é de propriedade do advogado Rosomiro Arrais, 92 anos e que, há mais de 20, se dedica ao cuidado e à reabilitação de animais silvestres vítimas de maus-tratos e do tráfico ilegal.

Em um momento em que o mundo volta os olhos para a Amazônia com a realização da COP 30, histórias como a de seu Rosomiro revelam a dimensão humana e cotidiana da proteção ambiental. “Eu amo bichos. Isso aqui é a minha grande paixão. Eu amo muito aqui”, disse ele, cercado por árvores e pelo som de pássaros que ajudou a salvar.

O sítio é classificado como um mantenedouro de fauna silvestre. É um empreendimento sem fins lucrativos, autorizado pelo Ibama, para criar e manter animais silvestres em cativeiro, sendo proibida a reprodução. A finalidade é cuidar de animais que não podem mais ser devolvidos à natureza, provenientes de apreensões, resgates ou entregas voluntárias. Para se tornar um, é necessário obter as autorizações prévia, de instalação e de manejo através do sistema SisFauna, além de passar por análise técnica e vistoria do Ibama.

Ele contou que o amor pelos animais vem de família e de suas origens caboclas. “Sou caboclo, filho de Alenquer, e eu sempre gostei muito de mato e de animais. Eu herdei isso do meu pai, que também gostava muito de animais. E eu gosto muito de animais, e eu resolvi ter esse sítio para que eu venha no fim de semana, no dia de semana, e eu tenho muito prazer em ter esse sítio, porque eu gosto muito de mato, gosto muito de árvores, gosto muito de animais, todo tipo de animal eu gosto, e por isso eu mantenho”, disse.

Além da paixão pela natureza, o sítio cumpre um papel familiar: "Tem um principal objetivo que é reunir a família. Sábado e domingo está aqui toda a minha família, meus filhos. Tenho cinco filhos. E eu me sinto muito bem aqui nessa vida, porque eu gosto do mato". Rosomiro recordou que começou a trabalhar cedo. “Eu vim de Alenquer com 14 anos. E sou advogado há mais de 50 anos”, contou.

Hoje, o sítio funciona de forma estruturada, com acompanhamento técnico e equipe fixa, recebendo animais que são vítimas de maus-tratos e de tráfico, que são encaminhados pelo Ibama, pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Clima e Sustentabilidade (Semas). “Nós aqui temos um veterinário, temos um biólogo, temos seis funcionários para tomar conta, para manter o sítio normal, e eu não gosto de nada sujo, não gosto de nada de bagunça. E meus animais é que têm prioridade. Tem inclusive uma caminhonete que é só para servir o sítio, trazer frutas, trazer alimentação para os animais”, contou. São 327 animais hoje, contando com as tartarugas, jabutis, tracajás”, explicou.

image O Sítio Santo Antônio, hoje o maior mantenedor de fauna silvestre credenciado pelo Ibama na região, abriga 327 animais de mais de 50 espécies (Foto: Thiago Gomes/O Liberal)

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“Não vendo o sítio por dinheiro nenhum”, diz advogado

Apesar da importância ecológica, o local não é aberto ao público. "Não é aberto ao público, Só visita autorizada, não deixo o público visitar porque é um sítio particular e eu não deixo ninguém visitar sem a minha ordem, porque eu quero manter isso aqui. Já me ofereceram valores e valores, isso aqui eu não vendo por dinheiro nenhum. Inclusive agora, na COP, me ofereceram 80 mil dólares para alugar aqui e eu não aluguei e não alugo por dinheiro nenhum, porque os meus animais aqui têm prioridade absoluta”, afirmou.

O advogado também já recebeu muitos animais mutilados. “Muitos animais chegam aqui mutilados. Nós tratamos muito bem. E, quando eles ficam bons, nós ficamos com o animal. E eu gosto muito do meio ambiente, e eu gosto muito do sítio por causa disso. E deve ser conservado o meio ambiente”, afirmou.

Enquanto mostrava o sítio para a equipe de reportagem, Rosomiro conversava com os bichos. “Converso com eles. E se você só viu os animais silvestres. Você não vê os animais domésticos, que nós temos muitos animais domésticos. Frutas...O que tiver aqui para comer os animais têm preferência. Tudo que vem, as frutas vêm duas vezes por semana E das árvores mesmo - mangas, essa coisa toda - toda preferência é para os animais”, disse.

O Sítio Santo Antônio tem autorização dos órgãos ambientais, e o compromisso de Rosomiro é inabalável. “Isso aí sempre foi a minha vida. Qualquer animal, qualquer passarinho, qualquer coisa, eu não deixo maltratar, não deixo fazer nada, porque eu dou prioridade para os animais. Os meus gatos, os meus cachorros são muito bem tratados, porque eu não deixo de jeito nenhum serem maltratados. Isso aqui é a minha grande paixão. Eu amo muito aqui”. Detalhe: ele mantém o sítio sozinho, sem receber sem nenhuma ajusta, nem mesmo de qualquer entidade de defesa do meio ambiente. 

image O advogado Rosomiro Arrais e o estudante de Biologia Leonardo Kress Abelem, que ajuda no cuidado aos animais (Foto: Thiago Gomes/O Liberal)

Sítio recebe muitas aves mutiladas

O estudante de Biologia da Universidade Federal do Pará (UFPA), Leonardo Kress Abelem também dá a sua ajuda no sítio. Está cursando o oitavo e último semestre. Segundo ele, o Sítio Santo Antônio é classificado tecnicamente como mantenedor de fauna silvestre, local destinado a acolher animais que não têm condições de retornar à natureza. “Aqui, nós recebemos animais que não têm condições de voltar para a natureza.

Ou seja, animais mutilados, animais que estiveram em contato com humanos por muito tempo e não têm instinto selvagem. Também muitos animais oriundos do tráfico, que a gente não sabe de onde vieram, então não é tão simples fazer a soltura. Pode trazer patógenos para a natureza, e acabam ficando por aqui para não contaminar o ambiente selvagem e outros animais”, explica. Patógenos são organismos microscópicos que causam doenças, incluindo vírus, bactérias, fungos e parasitas.

Por estar na região metropolitana de Belém, o sítio recebe muitas aves mutiladas. “Muitos gaviões-carijó, sabiá, esses passarinhos são comuns. Bichos com asa fraturada, com perna fraturada. A primeira coisa é o atendimento veterinário de emergência quando o bicho está muito machucado. Depois, o animal é encaminhado para a quarentena, onde fica um período até a gente ter certeza que não está contaminado com alguma doença. Se o animal estiver bem, tranquilo, ele vai para algum viveiro”, disse Leonardo Kress Abelem

O período de quarentena varia conforme o caso. “Depende muito, mas quarentena vem do nome de 40 dias, né? Então normalmente é 40 dias na quarentena. Mas, se o bicho não apresentar sinais bons de melhora, parecer meio doente, apático, não está se alimentando bem, a gente deixa mais tempo. Normalmente 90 dias é o que a gente considera ideal”, explicou.

Leonardo Kress Abelem também explicou a diferença entre animais domésticos e silvestres. “Aqui no sítio nós temos os dois. Animais domésticos são aqueles que a gente pode ter, comprar, adquirir de forma legal, sem licença específica: ganso, cisne, avestruz, alguns passarinhos, periquito australiano, hamster, cachorro, gato. Mas, como aqui é um mantenedor de fauna, a gente mantém também os silvestres ou exóticos, da nossa fauna, da Amazônia ou Brasil, ou de outros países, que não podem retornar à natureza e acabam ficando por aqui. E tudo isso, claro, com autorização especial dos órgãos ambientais”, afirmou.

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