Mosqueiro e Icoaraci com água verde e salgada? Entenda o fenômeno

Alterações na água das praias das ilhas chamam atenção de quem está acostumado com a coloração barrenta. Veja se é seguro tomar banho por lá

Camila Guimarães
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Depois de os moradores de Belém terem se surpreendido com a cor esverdeada das águas da Baía do Guajará durante o Círio Fluvial, dia 12 de outubro, foi a vez de o fenômeno chamar atenção na ilha de Mosqueiro, distrito da capital. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram a praia de Marahu com uma faixa de água verde e azulada. Moradores da ilha comentam que o fenômeno se repete em outros pontos. Especialista acredita que pode se tratar de um fenômeno sazonal ligado à estiagem.

Em um dos vídeos que circulam na internet, um homem, que não se identifica, registra imagens da água, em Marahu. Ele comenta que está visitando a praia e fala, admirado, da faixa de água com uma cor diferente alguns metros adiante da margem: "olha aí, lá no fundo: lá está azul a água. Na parte rasa está barrenta e lá está azul".

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morador da ilha que vive no local desde que nasceu, o comerciante Fabrício Lima, de 42 anos, também costuma observar o fenômeno. "Toda vez que tem verão amazônico, o rio Amazonas seca e o oceano se aproxima. A posição geográfica de Mosqueiro faz com que essa aproximação do oceano seja muito mais intensa, porém, antigamente isso acontecia só no mês de setembro, depois cessava. Dessa vez não, começou a acontecer em junho e já estamos chegando em novembro e ainda está acontecendo. Enquanto o rio Amazonas estiver na seca, esse fenômeno vai continuar", explica.

image Fabrício Lima, morador de Mosqueiro, faz registros da água verde na praia do Marahu. (Reprodução / @Fabricio_photos)

Para o morador, o fenômeno nas águas em Mosqueiro está sendo afetado pelas mudanças climáticas. "Eu tenho toda certeza que esse fenômeno é consequência do desequilíbrio que está afetando o mundo todo, mas aqui a gente está sentindo muito mais por causa da seca no Amazonas, porque o rio que banha Mosqueiro é o rio Pará, um braço do Amazonas. E ele secando, naturalmente o oceano vai ganhando espaço. A gente não está vendo só a questão da água verde, a água salobra, mas os peixes de água doce que estão morrendo nessas águas que ele não está acostumado", lamenta.

O servidor público Marlon Sousa, de 36 anos, que mora na ilha há 10 anos, comenta que o fenômeno não é observado apenas no Marahu. Marlon indica que em algumas partes da ilha é mais fácil conseguir enxergar este efeito do que em outras: "É mais fácil observar nas praias que têm menos onda - Prainha, Praia Grande, Areião e por debaixo da ponte Belém-Mosqueiro também".

A mudança de coloração na água também tem sido avistada por moradores de Icoaraci. Augusto Contente, que vive no local, contou à reportagem que, desde meados de setembro, as águas de Icoaraci e de Outeiro apresentam coloração esverdeada. "Fui à praia de Outeiro na segunda semana de setembro e fiquei impressionado com a cor. Parecia o oceano Atlântico de tão verde. Uma cor diferente do que estamos acostumados e muito bonita. Chamou a atenção de todo mundo. A maresia também estava mais forte, a gente percebe a força das ondas", relembra.

image Registro da água esverdeada em Icoaraci, com vista da Orla do distrito. (Carmem Helena / O Liberal)

Entenda a mudança na coloração da água

Abióloga Paola Pires, que faz parte do grupo de pesquisa de ficologia (que estuda algas) da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), acredita que a mudança de coloração na água é resultado de um fenômeno sazonal devido à diminuição da incidência de chuvas na região: "aparentemente é uma proliferação de microalgas mais evidente do que nos anos anteriores. Para a nossa região esse aumento é sazonal, onde temos a concentração de microalgas mais intensa em decorrência da estiagem. Contudo, a intensificação das secas, em consequência das mudanças climáticas, pode estar ocasionando um aumento nessa proliferação", cogita a pesquisadora.

Paola enfatiza que apenas estudos laboratoriais podem afirmar, com precisão, o motivo da mudança na coloração da água e se isso pode significar algum prejuízo para o meio ambiente ou para o ser humano. "É necessário que sejam feitas análises biológicas das microalgas, em microscópio, e também dos parâmetros físico-químicos para vermos se existe alguma alteração nas condições da água. Existem alguns grupos de microalgas, como as cianobactérias, que podem causar prejuízos ambientais e à saúde humana. Mas só podemos afirmar quanto a isso a partir de análises da água", adverte.

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