Morador da Cidade Velha defende preservação do estilo 'Raio-que-o-Parta'
Câmara Municipal de Belém aprovou por unanimidade projeto de lei que reconhece essa expressão estética como patrimônio cultural da cidade
Preservar o estilo arquitetônico do bairro da Cidade Velha, em Belém, é uma missão que o securitário Edson Pereira, 56 anos, leva a sério. Morador há 15 anos do bairro histórico, ele mantém em sua residência o padrão “Raio-que-o-Parta”, expressão estética que marcou época em Belém. “O principal é você preservar o estilo arquitetônico da Cidade Velha. Você vê que grande parte das residências têm o ‘Raio-que-o Parta’, mas, infelizmente, a gente sabe que tem o incentivo do governo, só que é muito dificultoso", disse. "E manter um patrimônio desse requer dinheiro. Por exemplo: eu fiz a reforma da minha casa há uns quatro anos e sempre procurei preservar esse estilo”, contou.
Na última quarta-feira (16), a Câmara Municipal de Belém aprovou por unanimidade o projeto de lei que reconhece a expressão estética “Raio-que-o-Parta” como patrimônio cultural da cidade. A expressão “Raio que o Parta” foi criada pelo arquiteto carioca Donato de Melo Junior, que, na época, não tinha uma resposta técnica para explicar o uso dos painéis de azulejos coloridos utilizados por famílias de baixa renda de Belém para embelezar as fachadas das residências nas áreas de expansão da capital paraense, entre as décadas de 1940 e 1960.
O estilo representa um capítulo do movimento modernista na arquitetura de Belém, que a Prefeitura, por meio de um projeto da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Semcult), em parceria com o Conselho de Arquitetura e Urbanismo e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan/Pará), está buscando popularizar.
A admiração pelo estilo também é compartilhada por quem passa pela região. Ainda segundo o morador Edson Pereira, o local é constantemente visitado por estudantes universitários interessados em conhecer de perto a estética que se tornou símbolo de Belém. “A maioria das vezes, no final de semana, o pessoal da universidade passa por aqui. Os estudantes batem foto, pedem permissão para registrar o local e sempre explicam aos alunos a importância de se manter esse estilo, que é o ‘Raio-que-o-Parta’. É um estilo bonito que a gente tem que preservar na Cidade Velha”, afirmou.
Apesar do reconhecimento, o morador faz um apelo às autoridades para que o processo de manutenção das fachadas seja mais acessível. “O principal é você facilitar, para que as pessoas consigam fazer o orçamento, entrar com o processo junto a um órgão - acredito que seja o Iphan - para poder manter. Acho que tem que ser mais facilitado esse tipo de ação, para que as pessoas aqui na Cidade Velha mantenham esse estilo”, disse.
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Influência portuguesa
Segundo Jorge Pina, arquiteto do Departamento de Patrimônio Histórico da Semcult, o patrimônio histórico segue o ritmo da evolução social e começou em Belém com influência portuguesa, retratado no quadro de Teodoro Braga sobre a fundação da cidade e estilos diversos como colonial, barroco, neoclássico, eclético e modernista e segue até os dias atuais com o legado da urbanização da COP 30.
Buscando a valorização do patrimônio histórico, a Semcult vem realizando encontros sistemáticos para mobilizar o segmento. Segundo Auiá Reis, superintendente da Semcut, já foram realizadas três reuniões no sentido de dar segmento às novas propostas de gestão ao processo de pedido de licenciamento para obras. “Estamos criando novos fluxogramas e implantando sistemas de informatização, assim como orçamentos para aumentar e melhorar a dinâmica dos atendimentos nas áreas do patrimônio público”, disse ele
O “Raio-que-o-Parta” tem movimento forte em Belém, incluindo um perfil nas redes sociais - @rederaioqueoparta - e conta com muitos simpatizantes. O coletivo Raio que o Parta foi criado em 2020 pelas amigas Elis Almeida, Elisa Malcher e Gabrielle Arnour, graduadas em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Pará (UFPA). Desde então, o grupo iniciou o mapeamento e a catalogação dos exemplares do estilo arquitetônico em Belém e no Pará. O coletivo mantém ainda uma página colaborativa na internet, com cartilha e detalhes sobre a importância da preservação desse patrimônio.
Serviço:
Para se obter licenciamento para obras no ambiente do patrimônio histórico é necessário procurar a sede da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, na avenida governador José Malcher, 295, bairro de Nazaré e preencher a documentação necessária.
Os procedimentos estão previstos na lei municipal na Lei nº 7.709, de 18 de maio de 1994, que dispõe a preservação e proteção do Patrimônio Histórico, Artístico, Ambiental e Cultural do Município e estabelece as regras para o licenciamento de obras em bens tombados e no Centro Histórico de Belém, incluindo seu entorno.
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