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Lontras filhotes são resgatadas de tráfico animal e recebem cuidados em projeto da Ufra

O Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Selvagens (Cetras) que cuida dos animais busca um espaço para que as lontras possam ser adotadas e fiquem de maneira definitiva

O Liberal

Duas lontras irmãs e ainda bebês foram resgatadas de situação de tráfico animal no município de Marapanim, no nordeste do Pará, pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Macho e fêmea, os animais receberam os nomes de ‘Juno’ e ‘Jade’ estão sob os cuidados da equipe do Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Selvagens (Cetras), da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), em Belém. Atualmente com dois meses, os animais foram transportados ao espaço em fevereiro. Desde então, recebem cuidados adequados para poderem ser encaminhados a uma instituição que possa os adotar e cuidar de maneira definitiva. Nesta terça-feira (23), o professor e médico veterinário Djacy Barbosa Ribeiro, sub coordenador do Cetras, explicou os motivos das lontras não retornarem à natureza e a importância de serem levados a um local que possa os acolher durante todo o ciclo de vida.

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image Lontras Juno e Jade (Imagem: Thiago Gomes / O Liberal)

As duas lontras seriam vendidas por um homem quando foram resgatadas, com dias de vida, por uma equipe do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). O professor explicou que os animais receberam diversos cuidados, pois ainda eram muito filhotes quando chegaram ao Cetras.

“Eles chegaram com os olhinhos fechados e foram entregues a gente dia 28 de fevereiro deste ano. Conseguimos adaptar a mamada artificial e até então eles estão com a gente. Mas, já estão ficando grandes e fazendo a transição alimentar do leite para o peixe, que é a alimentação definitiva. Queremos localizar um zoológico ou um criatório conservacionista que tenha o ambiente necessário para a recepção desses animais, para ocorrer a doação de maneira adequada”, explica o veterinário Djacy Ribeiro.

As lontras podem chegar a um metro de comprimento e são animais carnívoros com dentes afiados. O professor Djacy Ribeiro afirma que elas não devem ser criadas em casa como animais domésticos.

“Esses animais são proibidos de ter em casa. Não devem ser comercializados, pois são da fauna. Então é proibida a aquisição, a compra e a manutenção deles em residências. As lontras são animais de sociedade muito grande e sempre mostram domínio. Eles podem se tornar agressivos com relação ao humano no decorrer da vida adulta, pois são selvagens. Agora ainda não, pois são pequenos. Eles se alimentam de peixes e mariscos de forma geral e possuem dentição que pode rasgar a pele humana”, ressalta o veterinário.

image Professor e médico veterinário Djacy Barbosa Ribeiro (Imagem: Thiago Gomes / O Liberal)

Devolução à natureza

O sub-coordenador do Cetras explica que as lontras não podem retornar à natureza, pois já passaram um período muito grande em convivência com os humanos. Segundo ele, como o ‘Imprinting’ das lontras - a primeira imagem do filhote ao abrir os olhos - foi a visão de um humano (cuidador do projeto), mesmo que voltem à natureza, os animais tendem a ir para áreas urbanas.

“Elas reconhecem até a voz dos cuidadores agora que estão com dois meses. Esse processo de abrir os olhos e ver um humano faz com que elas tenham a gente como a família. Sendo assim, mesmo que as coloquemos na mata, elas vão procurar pelas áreas urbanas para ter novamente essa conexão com os humanos. E como sabemos que muitas pessoas podem machucar os animais, ou mesmo tentarem os ferir e serem atacados, o mais adequado é que essas lontras sejam levadas para um espaço que se assemelhe com o ambiente natural, mas que elas continuem recebendo os cuidados adequados”, aponta Djacy Ribeiro. 

image Professor Djacy Ribeiro (Imagem: Thiago Gomes / O Liberal)

O professor ainda pontua que o espaço onde Juno e Jade devem viver precisa seguir critérios conforme as necessidades da espécie. “Eles são animais semi-aquáticos e têm necessidades de alimentação e assistência técnica. Devem ter uma área aberta mínima, onde possam andar, e também nadar. Como vivem em grutas ou áreas cobertas, devem ter uma área artificial como se fosse um iglu ou uma oca. Tem que ter uma piscina, já que eles ficam parte do dia dentro d'água e se alimentam lá também. Como é uma infraestrutura complexa, precisa ser avaliado”, comunica o veterinário.

Tráfico de animais

Um levantamento realizado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), em conjunto com as organizações não-governamentais Traffic e União Internacional para Conservação da Natureza, aponta que entre 2012 e 2019 aproximadamente 160 espécies foram vítimas de tráfico na Amazônia brasileira.

O relatório, que analisou o tráfico de animais silvestres, ainda indica que 38% eram peixes (para alimentação ou ornamentais), 34% aves (alimentos, artesanato ou cativeiro), 15% mamíferos (alimentos, cativeiro ou peles), 12% répteis (alimentação, cativeiro, coleções), com menos de 1% de anfíbios não identificados e menos de 1% de borboletas não identificadas. 

Quando avaliada a frequência de tráficos das espécies, ou seja, excluindo-se as apreensões únicas, que não se repetiram, o número cai para 72 espécies, sendo 53% de peixes, 18% de mamíferos, 15% de aves e 14% de répteis.

Cetras

image (Imagem: Thiago Gomes / O Liberal)

O Centro de Triagem e Reabilitação de Animais Selvagens (Cetras) oferece de maneira gratuita atendimentos clínicos, cirurgias, exames laboratoriais e de imagem, e o internamento de animais selvagens doentes e vítimas de maus tratos, encaminhados por órgãos ambientais. Funcionando dentro das dependências da Ufra, somente neste ano de 2024, cerca de 110 animais silvestres foram tratados no local. 

“A gente recebe animais dos tutores quando os pets silvestres necessitam de atendimento veterinário. Ele é tratado, mas não fica residente aqui ou internado. Normalmente os animais de particulares voltam para o tutor. Aqui ficam internados somente os animais apreendidos pelos órgãos competentes, como a SEMA, o Ibama, o ICMBio e algumas ONGs. Cuidamos de mamíferos, quelônios, répteis, temos passarinhos, mucura, marsupiais e vários outros tipos de animais”, ressalta o professor.

image (Imagem: Thiago Gomes / O Liberal)

A equipe do Cetras é formada por professores, residentes, treinandos e bolsistas. Por fazer parte do Hospital Veterinário Mário Dias Teixeira (HOVET/UFRA), o espaço tem suporte de toda a equipe de veterinários e residentes dos outros programas, como a anestesiologia, cirurgia, diagnóstico por imagem e laboratorial. Para ajudar o espaço com doações, basta ir até o Cetras e buscar mais informações sobre os itens de alimentação e cuidados médicos que o espaço necessita.

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Belém
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