'Estou traumatizada, mas viva', conta sobrevivente do naufrágio em frente ao Porto do Arapari

Embarcação que atravessava para a Ilha das Onças submergiu completamente no último sábado, 22, com quatro passageiros a bordo

Camila Guimarães, especial para O Liberal

“Quando chegou no meio do rio, deu a primeira maresia. A irmã do dono do barco gritou ‘vai afundar a rabeta’ e começou a entrar água”, relata Eunice Pacheco, uma das sobreviventes do naufrágio que aconteceu no último sábado (22), dia do aniversário dela, enquanto atravessava o rio em frente ao Porto do Arapari, em Belém.

A autônoma Eunice Pacheco conta que atravessava o rio vindo de Belém, em direção a Ilha das Onças, acompanhada de outras três pessoas: o dono do barco, Rosivaldo, a irmã dele, Rosileide, e o primo deles, Elias. O grupo teria começado a viagem ao fim da tarde, por volta das 17h, quando foi surpreendido pela maresia.

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“A gente foi fazer umas compras em Belém e quando a gente vinha, de tardinha, tava tudo normal na maresia. Quando começaram as ondas muito fortes, na terceira, a rabeta foi pro fundo”, relembra Eunice. “Eu não sei nadar, eu pensei que eu ia morrer ali. Era onda que eu nunca vi na minha vida”.

Eunice explica que a embarcação não era específica para serviço de transporte de passageiros, mas era o veículo de trabalho do dono, Rosivaldo, que exercia atividade de pesca e também de transporte de mercadorias, entre Belém e a Ilha das Onças. O veículo, segundo ela, não apresentou falha mecânica nem estava irregular, mas não resistiu às fortes ondas do rio.

No momento que a embarcação começou a afundar, Eunice recorda como conseguiu se manter na superfície mesmo sem saber nadar: “Eu vi um isoporzinho flutuando ali e me agarrei. Os outros eram ribeirinhos e já sabiam nadar, eu não”. Ela relata, ainda, as mais de três horas de aflição vivida naquele sábado:

“Foi dando seis, sete, oito horas, oito e meia eu ali, quase perdendo as forças. Foi dando caimbra no meu corpo todo e meu corpo indo pra baixo. As ondas vinham grandes e eu tentava segurar o medo e não expressar pros outros. Estava escurecendo, uma escuridão total, não dava pra enxergar nada”.

Segundo Eunice, entre as três pessoas que naufragaram junto com ela, o primo do dono do barco, Elias, foi o primeiro a começar a nadar em direção à costa. Ela conta que ele logo foi perdido de vista. Em seguida, a irmã do dono do barco, Rosileide, também começou a se afastar do grupo.

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“A maresia foi puxando ela tão rápido que ela sumiu, mas a gente ouvia ela gritando, pedindo por ajuda. Eu fiquei com aquele medo dentro de mim, tentando não expressar. Foi quando ela viu aquele barco muito grande e ela gritou mais ainda, como uma criança, ela gritou muito. Aí é aquele vídeo que vocês vêem na internet, de ela sendo socorrida e as pessoas procurando os outros que ficaram”.

Rosileide foi a primeira a ser resgatada por uma embarcação que passava pelo rio naquela hora. Enquanto isso, Eunice e o dono da embarcação, Rosivaldo, continuavam na água. A grande dificuldade, conta Eunice, era conseguir enxergá-los em meio à escuridão do rio.

“Eu e o dono do barco ficávamos conversando. Eu só não fui pro fundo antes porque ele ficava falando comigo. Ele sabia nadar, mas ele ficou ali, falando, pra eu não largar o isopor. Mas aí então ele viu o barco e foi quando ele foi se afastando até lá. Quando eu estava quase largando o isopor, porque meu corpo estava muito pesado, eu enxerguei o barco também”.

Eunice relata que foi, então, a última a ser tirada da água: “quando eles chegaram, estava só a minha cabeça pra fora”. Ela lembra que os passageiros do barco que os resgataram ficaram impressionados de ela ter sobrevivido mesmo sem saber nadar. 

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Quando questionada sobre o quarto passageiro, Elias, dado como desaparecido pelo Corpo de Bombeiros, Eunice afirma: “desaparecido nada! Ele foi o primeiro a se salvar. Ele nadou até o Ver-o-Peso. Os bombeiros nem procuraram o corpo dele, eles só olharam por cima da água mesmo e não procuraram ninguém não”.

Atualmente, Eunice está na Ilha das Onças, na casa de amigos, e não tem perspectivas de voltar para Belém por enquanto, “estou traumatizada, mas estou viva”. Ela também relata as dificuldades que estão passando e faz um apelo: “A gente perdeu tudo, todas as compras, celular e documentos. Principalmente o dono do barco, que perdeu até a certidão de nascimento. Gostaríamos de uma ajuda nesse sentido para recuperar a documentação”.

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