Belém registra vários pontos com fumaça na manhã desta segunda-feira
A fumaça é verificada nos bairros de Batista Campos e parte dos bairros do Guamá e Terra Firme

Belém amanheceu com vários pontos de fumaça na manhã desta segunda-feira (1º). A fumaça é verificada nos bairros de Batista Campos e parte do Guamá e Terra Firme.
As primeiras informações indicam que a fumaça pode ter origem em um incêndio no antigo lixão do Aurá, em Ananindeua. Empresa responsável pela gestão de resíduos sólidos na capital paraense, a Ciclus Amazônia informou que o fogo no aterro foi identificado pela equipe de vigilância por volta das 23 horas de domingo (31). O Corpo de Bombeiros foi acionado imediatamente e conseguiu controlar as chamas. Não houve vítimas.
A empresa informou ainda “que permanece à disposição das autoridades para colaborar no esclarecimento do ocorrido”. O espaço recebe apenas resíduos inertes (entulhos). Também em nota, o Corpo de Bombeiros Militar do Pará confirmou que o incêndio foi controlado e ressaltou que não houve registro de feridos.
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Moradores reclamam problemas causados pela fumaça
Mas, na manhã desta segunda-feira (1º), a Redação Integrada de O Liberal esteve no local e constatou que ainda havia fogo e fumaça em alguns pontos do lixão, que é uma área extensa. E quem vive no entorno do lixão afirmou que a fumaça é frequente e prejudica a saúde da população.
Aldinéia Santana da Silva, 40, contou que mora na área há mais de 30 anos. Ela chegou a trabalhar no lixão e, assim, criou os quatro filhos no local. “Essa fumaça afeta nós moradores daqui, porque tem muitas crianças asmáticas. Eu sou asmática. Aqui em casa a gente tem que estar ‘24 por 48’ com o ventilador ligado. Eu não posso ficar sem a minha bombinha”, afirmou.
Segundo Aldinéia, os incêndios costumam se repetir. “Eles jogam lama, barro, tentam apagar, mas aí acontece de novo. Não tem o que fazer”, disse. Ela acredita que o fogo seja causado de forma natural, pela ação do sol sobre garrafas de vidro descartadas no lixo. Outra moradora, Samile Suellen, de 19 anos, vive no local desde o ano passado. Ela é dona de casa e mãe de gêmeas que vão completar oito meses nesta terça-feira (2). “Quando a fumaça está muito forte, eu tenho que colocar ventilador para elas, porque prejudica a respiração. Como elas são prematuras, preciso colocar uns três ventiladores em cima delas para a fumaça não vir. Às vezes a fumaça é preta e enche a casa toda”, contou.
Samile disse que pensa em deixar o local, mas enfrenta dificuldades financeiras. “É o meu maior desejo sair daqui. Mas, como só recebo Bolsa Família e meu marido trabalha lá em cima (no lixão), a única oportunidade foi comprar essa casa aqui”, explicou. Ainda segundo a jovem, moradores afirmam que a combustão pode ter ligação com produtos químicos descartados no lixão. “Os tratoristas jogam muita coisa química, o sol é muito quente, aí as químicas vão se misturando. Tem gente que fuma lá, joga cigarro, e isso pode causar incêndio”, completou.
Especialista aponta causas e soluções para os incêndios recorrentes no lixão do Aurá
Para o pesquisador André Farias, líder do Grupo de Pesquisa Grandes Projetos na Amazônia (GPA), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Gestão de Recursos Naturais e Desenvolvimento Local na Amazônia (PPGEDAM), do Núcleo de Meio Ambiente da Universidade Federal do Pará (NUMA/UFPA), a recorrência de incêndios na área do antigo lixão do Aurá tem origens estruturais e climáticas.
Segundo o ambientalista, uma das principais causas dos focos de queimada está relacionada à presença de gás metano acumulado no subsolo, resultado da decomposição de resíduos orgânicos ao longo de anos. “Esse gás, em contato com faíscas ou o calor excessivo, pode entrar em combustão espontânea. E, com a chegada do período mais seco e quente da Amazônia, esse risco aumenta consideravelmente”, explicou.
Farias também chama atenção para o uso inadequado da área, que ainda recebe descarte irregular de materiais. “Há relatos de que pessoas ainda depositam resíduos e realizam queimadas ao redor do local para retirar materiais como cobre de fios e cabos. Esse tipo de atividade contribui diretamente para o surgimento e a propagação do fogo”, afirmou.
Além disso, ele destaca que a fumaça liberada pelas queimadas contém altos níveis de toxicidade, representando um risco sério à saúde da população, principalmente de quem vive no entorno do lixão.
Medidas urgentes e necessidade de política pública
O pesquisador defende uma ação imediata das autoridades para isolamento e fiscalização permanente da área, além da execução de um plano emergencial de contenção e monitoramento. “A Secretaria Estadual de Meio Ambiente, junto com a de Belém, deve atuar de forma integrada com o Corpo de Bombeiros para evitar novos focos. É essencial garantir que a área não continue sendo utilizada de forma irregular”, ressaltou.
No médio e longo prazo, Farias afirma que é urgente a implementação de uma política estadual de resíduos sólidos efetiva, alinhada com a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei nº 12.305/2010). “Precisamos de coleta seletiva, educação ambiental e destinação adequada dos resíduos. Hoje, o Aurá continua recebendo restos de construção e poda de árvores, por exemplo, o que indica falhas no sistema de gestão”, avaliou.
Por fim, o pesquisador propõe o encerramento definitivo das atividades no lixão e a elaboração de um Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD). “Na minha avaliação, é pouco viável recuperar o Aurá como aterro de bioremediação, como se tentou no passado. A alternativa mais responsável é encerrar completamente o uso da área e iniciar um processo sério de recuperação ambiental, com participação de especialistas em engenharia e tecnologias ambientais”, concluiu.
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