EXCLUSIVO: O Liberal tem acesso ao exame que comprova contaminação por metanol em Belém

Em entrevista exclusiva a O Liberal, o engenheiro paraense Flávio Acatauassu confirma ter sido vítima de bebida com metanol e denúncia negligência médica

O Liberal
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O engenheiro paraense Flávio Acatauassu denuncia um grave caso de contaminação por metanol que teria sido causado pela ingestão de uma dose de uísque adulterado. Além da contaminação, o paraense relata ainda ter sido vítima de negligência médica em duas ocasiões, quando procurou atendimento em uma unidade de saúde da Unimed Belém.

O engenheiro informou que comprou há um mês, no Supermercado Mais Barato da av. Alcindo Cacela, uma garrafa de um litro de uísque pelo valor de R$ 108,90. Chegando em casa, tomou uma dose com gelo, jantou e foi dormir. Logo ao acordar, começou a passar mal.

image Exame obtido com exclusividade pelo Grupo Liberal. (Reprodução)

Sentindo seu estado de saúde se agravar, procurou o atendimento de emergência na Unimed. Chegando lá, alertou que suspeitava estar contaminado por metanol, mas mesmo assim a unidade resolveu não fazer exame específico. Os profissionais coletaram sangue e urina e deram medicamentos apenas para alívio dos sintomas. Ao receber o resultado informaram que não havia nada de errado com os exames e mandaram-no para casa repousar e se hidratar. 

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Insatisfeito com o diagnóstico e ainda sentindo-se mal, no caminho para casa, o engenheiro tomou a atitude de ir ao Laboratório Paulo Azevedo fazer o exame específico para metanol. Setenta e duas horas depois, recebeu o resultado positivo junto com a contraprova do exame.

“Estava envenenado por metanol”, afirma Flávio Acatauassu.

Denúncia ao supermercado

De posse do exame que comprova a contaminação, o consumidor alertou o supermercado sobre a possibilidade de adulteração do produto. Num primeiro momento, foi informado que o supermercado tinha total confiança em seu fornecedor, mas que iria solicitar o rastreamento do lote. Contudo, passadas algumas semanas do fato, as garrafas do mesmo uísque permaneciam à venda no supermercado pelo mesmo preço, com uma etiqueta informando a procedência da origem, ignorando a denúncia de adulteração.

O engenheiro afirma ter reunido um dossiê completo para comprovar cada etapa de sua denúncia, incluindo a nota fiscal da compra da bebida, o cupom do estacionamento do supermercado, os protocolos de atendimento da Unimed e os exames realizados na unidade, os resultados detalhados do Laboratório Paulo Azevedo e, crucialmente, uma garrafa lacrada do mesmo lote do produto suspeito.

O caso já atraiu a atenção de autoridades, e a vítima confirma ter sido procurada por “vários órgãos oficiais de controle e fiscalização”, aos quais se comprometeu a fornecer todos os elementos necessários para a investigação.

Resposta das autoridades

Em contato com reportagem, a Secretaria Estadual de Saúde (Sespa) explicou que o exame foi feito em uma rede particular e, por isso, “ainda não recebeu notificação oficial referente ao caso”. A reportagem também pediu informações para a Polícia Civil, que afirmou “não ter nenhum registro da ocorrência”.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Unimed foram procuradas pelo jornal. Em nota, a Unimed Belém afirmou que “o beneficiário esteve na urgência do Hospital Unimed Prime na data mencionada” e que as informações registradas no prontuário “estão sob análise pela Diretoria de Recursos Próprios e pelos núcleos responsáveis pela qualidade e segurança do paciente”.

A operadora declarou que o exame específico para metanol não foi solicitado porque “os testes específicos para detecção direta de metanol são solicitados apenas quando o quadro clínico se enquadra nos critérios oficiais de caso suspeito, conforme definido pela Nota Técnica nº 01/2025 – DEVS/DVS/SESPA”. Ainda segundo a Unimed, “as análises são feitas por laboratório externo definido pela própria vigilância e Ministério da Saúde destinado para investigação deste tipo de evento, que obrigatoriamente perpassa pelo Lacen ou Ciatox”.

A Unimed acrescentou que segue integralmente a Nota Técnica nº 360/2025 do Ministério da Saúde e a Nota Técnica nº 01/2025 da Sespa, e afirmou ter instaurado “apuração assistencial completa para avaliar a condução do atendimento”.

A instituição também reforçou orientações aos consumidores, como evitar bebidas de procedência desconhecida, procurar atendimento imediato diante de sintomas compatíveis e comunicar suspeitas às autoridades sanitárias, destacando ainda que, “segundo a SESPA, até 09/10/2025 não havia casos confirmados de intoxicação por metanol no Pará, embora o estado esteja em vigilância intensificada”.

O Supermercado Mais Barato, onde a bebida foi comprada, enviou um posicionamento sobre a situação.

"O Grupo Mais Barato informa aos seus clientes, parceiros e à sociedade em geral que, diante das informações divulgadas pela imprensa sobre o whisky Red Label adquirido em uma de nossas lojas, todas as medidas cabíveis já foram tomadas.

No entanto, causa-nos estranheza que, mesmo após 30 dias do consumo, a garrafa de whisky em questão não tenha sido disponibilizada para condução de análise técnica, a ser realizada pelas autoridades competentes e essencial para verificar a suposta contaminação.

Ainda assim, os whiskies citados foram recolhidos de nossas prateleiras e estão à disposição dos órgãos competentes. Além disso, acionamos os protocolos de verificação e rastreamento junto ao fornecedor DIAGEO, reconhecido como uma das maiores indústrias de bebidas do mundo e fornecedor dos principais varejistas e distribuidores no estado do Pará.

O Grupo Mais Barato permanece à disposição e colaborando para o esclarecimento completo do caso. Reafirmamos o compromisso com a transparência e a confiança de nossos consumidores", comunicou.

‘Se a dose fosse maior, teríamos o óbito’, alerta médico sobre caso de metanol em Belém

O caso de possível intoxicação por metanol envolvendo o engenheiro paraense Flávio Acatauassu ganhou novos desdobramentos com a avaliação de especialistas consultados pela reportagem. Flávio afirma ter sido contaminado após ingerir uma dose de uísque adulterado comprado em um supermercado de Belém. A bebida foi comprada no dia 5 de novembro em um supermercado da cidade, e, após consumir uma dose ao chegar em casa, Flávio começou a passar mal no dia seguinte, 6 de novembro, quando então buscou atendimento médico.

Ele relata também ter sido vítima de negligência médica na Unimed Prime Belém, onde, segundo ele, não foram realizados os exames corretos para investigação de intoxicação exógena. Dias depois, um exame específico feito em laboratório particular apontou resultado positivo para metanol, confirmado por contraprova. “Estava envenenado por metanol”, afirmou o engenheiro.

A análise médica obtida pela reportagem aponta que o caso poderia ter sido ainda mais grave. O médico intensivista Luiz Felipe Bittencourt afirma que a evolução só não foi fatal devido à pequena quantidade ingerida e ao atendimento relativamente rápido. “Se a dosagem fosse maior, teríamos o óbito”, disse o médico. Ele explica que o diagnóstico ideal de intoxicação por metanol “possui 5 componentes, segundo as diretrizes da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB)”, mas ressalta que “nem sempre vamos conseguir alcançar todos os 5 componentes”. Para ele, a conduta inicial em situações como essa deve priorizar a preservação da vida. “O mais importante é realmente lançar mão das medidas de suporte à vida o quanto antes”, afirmou.

Segundo Luiz Felipe, a nota técnica da AMIB aponta que “uma dose de 240 ml de uma solução a 40% pode ser considerada letal”. O médico destaca ainda que “o exame mostra-se positivo em baixa titulação”, o que indica exposição reduzida, reforçando a tese de que a gravidade só não foi maior porque a quantidade ingerida foi pequena. “Certamente se a dose fosse maior teríamos desfecho negativo (óbito). A intoxicação por metanol é gravíssima. No meu entender, os fatores principais que podem ter contribuído para o desfecho clínico favorável foram: baixa quantidade ingerida e atendimento médico rápido”, concluiu.

Outro especialista reforça gravidade da intoxicação por metanol

O médico William Rodrigues também avaliou o caso e destacou os riscos severos associados ao metanol. Segundo ele, “a intoxicação por metanol é muito grave, pois o metanol após ingerido se degrada em formaldeído e ácido fórmico, que podem levar a acidose metabólica grave, disfunção do sistema nervoso central e do nervo óptico”. Ele explica que, diante do aumento da acidez no sangue, “todos os órgãos também podem apresentar disfunção severa e levar o paciente ao óbito”.

O especialista afirma que o limite considerado aceitável no organismo é de até 200 mg/L (20 mg/dL). “Valores acima disso são extremamente danosos e prejudiciais”, alerta. Para o diagnóstico, Rodrigues explica que é necessária a soma de dois elementos principais: um quadro clínico compatível, que pode incluir embriaguez persistente, dor abdominal, turvação visual, confusão mental e convulsões, e exames laboratoriais que confirmem acidose metabólica associada a gap osmolar acima de 10 mOsm/L.

A confirmação também pode ocorrer por exame positivo para metanol no sangue ou na urina. O médico reforça que “o exame com valor inferior a 20 mg/dL não exclui o diagnóstico, pois não depende apenas dele”, e ressalta que resultados podem ser afetados por falhas técnicas. “Há diversas especificações para coleta, transporte e armazenamento do exame, as quais podem trazer resultados falsos positivos, se não realizados corretamente em todos os processos”, afirmou.

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